Mônica Yamagawa
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Centro de São Paulo

duas imagens da cidade de são paulo

análise morfológica décadas de

1910 e 1950

história do centro de são paulo

atualizado em: 6 janeiro 2020

 

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Na imagem escolhida (abaixo), extraída do Álbum Comparativo da cidade de São Paulo: 1862 – 1887 – 1914, publicado pela Casa Duprat, em 1914 (sem indicação de autoria), alguns elementos icônicos são passíveis de identificação: a antiga edificação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, a Igreja de São Francisco de Assis da Venerável Ordem dos Frades Menores, o logradouro Largo de São Francisco. Somando-se a esses, outros: os trilhos de bondes, o calçamento de paralelepípedos, um veículo (automóvel), o guarda de trânsito (identificado pela indumentária e pela localização dentro do contexto da imagem), as árvores (entre elas, uma espécie de palmeira), o poste de iluminação, um cavalo (pequena parte da cabeça do animal à esquerda), um escultura, algumas figuras humanas (transeuntes). 

Academia de Direto, 1914 (legenda original). Álbum comparativo da cidade de São Paulo: 1862 – 1887 – 1914. São Paulo: Casa Duprat, 1914, v.1, p.16. Acervo da Biblioteca Municipal Mário de Andrade.

 

 

Academia de Direto, 1914 (legenda original). 
Álbum comparativo da cidade de São Paulo: 1862 – 1887 – 1914
.
São Paulo: Casa Duprat, 1914, v.1, p.16.
Acervo da Biblioteca Municipal Mário de Andrade.

Trata-se de uma imagem com vista parcial, pois, não são apresentadas várias vias urbanas e seus entrecruzamentos, como em uma vista panorâmica, restringindo-se ao espaço do logradouro conhecido como Largo de São Francisco, onde a linearidade das árvores, similares em altura e espécie, indica o trabalho de paisagismo - área verde planejada.

Academia de Direto, 1914 (legenda original). Álbum comparativo da cidade de São Paulo: 1862 – 1887 – 1914. São Paulo: Casa Duprat, 1914, v.1, p.16. Acervo da Biblioteca Municipal Mário de Andrade.

O ponto de vista do fotógrafo, sua posição na tomada da cena é diagonal, de forma a captar a totalidade do conjunto edificado, composto pela antiga edificação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e as duas Igrejas, a das Chagas do Seráfico Pai São Francisco e a  de São Francisco de Assis da Venerável Ordem dos Frades Menores. Somando-se a isso, a escolha do momento para a realização do registro: sem a presença do bonde, que cobriria parte da construção e do cavalo à esquerda.

A linearidade, imposta pelo projeto paisagístico, cria um arranjo rítmico, através da cadência, da repetição do elemento “árvore”. O mesmo ocorre com as janelas da instituição de ensino:

Academia de Direto, 1914 (legenda original). Álbum comparativo da cidade de São Paulo: 1862 – 1887 – 1914. São Paulo: Casa Duprat, 1914, v.1, p.16. Acervo da Biblioteca Municipal Mário de Andrade.

À cadência das árvores e janelas, somam-se outros vetores de direção, neste caso a fachada da edificação e o traçado da calçada, formando uma contigüidade espacial, que atravessa os planos da imagem.

Academia de Direto, 1914 (legenda original). Álbum comparativo da cidade de São Paulo: 1862 – 1887 – 1914. São Paulo: Casa Duprat, 1914, v.1, p.16. Acervo da Biblioteca Municipal Mário de Andrade.

A leitura ocidental da esquerda para direita, ganha reforço como o posicionamento da cabeça do animal à esquerda, como um vértice que conecta com outra linha, formada pelos trilhos de bonde.

Apesar de a fotografia datar de 1914, ou seja, século XX, seu ponto de vista tem como base as fotografias de Militão Augusto de Azevedo, realizadas na segunda metade do século XIX, período em que as tomadas diagonais, a linha do horizonte no terço superior e a ausência de atividade humana são características presentes, contribuindo para a percepção de estabilidade na imagem.

Imagem reproduzida de cartão-postal: Academia de Direito. Fotografia de Militão Augusto de Azevedo. São Paulo, c.1862. Acervo Instituto Moreira Salles.

 

 

Imagem reproduzida de cartão-postal: Academia de Direito.
Fotografia de Militão Augusto de Azevedo.
São Paulo, c.1862.
Acervo Instituto Moreira Salles.

Avenida São João. A cidade não descansa, (...) (legenda original). Foto de Georg Paulus Waschinski. Eis São Paulo. São Paulo: Monumento, 1954, p. 14. Acervo da Biblioteca Mário de Andrade.

 
 
 
Avenida São João. A cidade não descansa, (...) (legenda original).
Foto de Georg Paulus Waschinski. 
Eis São Paulo.
São Paulo: Monumento, 1954, p. 14.
Acervo da Biblioteca Mário de Andrade.

Na segunda imagem escolhida, extraída da publicação Eis São Paulo, publicada pela Monumento, em 1954, autoria de Georg Paulus Waschinski, os elementos icônicos passíveis de identificação são: o Edifício Altino Arantes e o Edifício Martinelli. Adicionando-se ao grupo, outros elementos como: tubulação, entulho, poste de iluminação, guindaste, galões, edificações, figuras humanas, placas de identificação de casas comerciais, letreiros de publicidade, pneus, texto inserido “não descansa,”.

Entre a parcial e a pontual, a vista escolhida por Waschinski não descontextualiza a imagem, pois, incorpora dois elementos identificáveis: os edifícios Altino Arantes e Martinelli, sendo possível localizar o logradouro, sem o auxílio da legenda, desde que conhecido tal repertório. No entanto, o foco principal são o entulho e a tubulação, expostos no logradouro, conseqüências da demolição/construção/implantação resultantes das transformações na malha urbana na região central de São Paulo, ocorridas na década de 1950.

Duas figuras humanas estão presentes, ao lado da tubulação, porém, com base nas suas vestimentas e posições, não é possível diferenciá-los, se transeuntes ou funcionários da obra em realização. Porém, as comparações entre as dimensões da tubulação e das figuras humanas, sugerem a possibilidade de localização do fotógrafo: no interior de uma tubulação semelhante.

Nesse caso, a posição do fotógrafo, permitiu a criação de uma “moldura” circular delimitando o enquadramento da imagem, nesse caso, um ponto de vista central, com arranjo discreto, no qual o primeiro plano encobre, parcialmente, os demais elementos: os entulhos e tubulação, a continuidade do logradouro; os edifícios laterais, o guindaste e o poste de iluminação, a visão ampla das três edificações com número superior de andares.

A sobreposição acima mencionada gera o efeito de inversão de escalas, no caso, a tubulação onde se encontra o fotógrafo (moldura), parece possuir dimensão superior à da tubulação no centro da imagem, assim como essa, a de possuir a metade da dimensão do Edifício Martinelli.

O contraste “claro-escuro” está presente nos efeitos de “sol-sombra”, dentro e fora da tubulação, assim como, a similitude formal, no formato circular do objeto citado, a “moldura” criada pela posição do fotógrafo e o objeto central da imagem:Avenida São João. A cidade não descansa, (...) (legenda original). Foto de Georg Paulus Waschinski. Eis São Paulo. São Paulo: Monumento, 1954, p. 14. Acervo da Biblioteca Mário de Andrade.

A estrutura gera tensão visual, o olhar, como em um binóculo ou monóculo, segue os formatos circulares, assim como as linhas das fachadas ad edificações tentam formar um vértice e os três arranha-ceús, transportam o olhar para o sentido vertical.

Avenida São João. A cidade não descansa, (...) (legenda original). Foto de Georg Paulus Waschinski. Eis São Paulo. São Paulo: Monumento, 1954, p. 14. Acervo da Biblioteca Mário de Andrade.

 A fragmentação está presente na imagem, com a vista parcial do equipamento à direita, com o entulho encobrindo parte da figura humana, dificultando a compreensão das atividades nesse contexto (humano e do maquinário), no entanto, como já mencionado acima, há uma contextualização espacial, papel das edificações verticais, nesse caso.

 

Considerações Finais

Trinta anos separaram a imagem do Largo de São Francisco e a da Avenida São João. Em ambas, edificações com referências históricas (a antiga edificação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, a Igreja de São Francisco de Assis da Venerável Ordem dos Frades Menores, o Edifício Altino Arantes e o Edifício Martinelli). No entanto, na primeira imagem, a edificação é tema central e na segunda, apesar da posição, é um referencial.

A cidade de São Paulo apresentada em 1914, sugere um “produto final acabado” e a percepção de que alterações urbanas, breves ou futuras na cidade não estariam em pauta. O contrário ocorre na metrópole de 1954, em plena ebulição de transformação da malha urbana. A Academia de Direto da Casa Duprat parece ter saído de uma pintura de Benedito Calixto ou de uma aquarela de José Wasth Rodrigues, iconografias com a intenção de captar os melhores ângulo e momento. A Avenida São João com seus Edifícios Altino Arantes e Martinelli, de Waschinski, sugere um registro jornalístico, sem a preocupação do citado “embelezamento”, o registro de algo que com certeza sofrerá alterações em um curto espaço de tempo.

Passados mais de cinqüenta anos, é interessante observar e cotejar as imagens dos cartões-postais disponíveis no mercado, com as analisadas nos parágrafos anteriores. O conjunto franciscano sofreu uma grande alteração, com a construção da nova edificação destinada à Faculdade de Direito e o ponto de vista escolhido primeiramente por Militão e posteriormente para o álbum de 1914, não está presente nos cartões atuais, provavelmente, devido às mudanças na malha urbana, o enquadramento não seja mais favorável para captação do conjunto inteiro, assim como, destacá-lo como tema central, sem competir com as construções do entorno. Por outro lado, o Altino Arantes e o Martinelli, vistos da Avenida São João, continua sendo o ponto de vista dos fotógrafos responsáveis pelas iconografias dos postais à venda.

 

Largo de São Francisco. Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Waldemir A. Oliveira.
Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Waldemir A. Oliveira.
 
Largo de São Francisco. Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Maurício Cardim
Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Maurício Cardim
 
Largo de São Francisco. Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Maurício Cardim
Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Maurício Cardim
 
Avenida São João, Prédio Banespa, Altino Arantes e Edifício Martinelli. Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Waldemir de Araujo Oliveira
Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Waldemir de Araujo Oliveira
 
Vale do Anhangabaú, Avenida São João, Prédio Banespa, Altino Arantes e Edifício Martinelli. Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Anízio L. de Miranda
Reprodução de cartão-postal. Fotografia: Anízio L. de Miranda

 


publicações sobre fotografia, iconografia do centro de são paulo, largo de são francisco


 

ARAÚJO, Íris M. Militão Augusto de Azevedo: Fotografia, História e Antropologia. São Paulo: Alameda, 2010.

ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo: introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas relações com a crônica da cidade. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954.

ARROYO, Leonardo, DANON, Diana Dorothèa. Memórias e Tempo das Igrejas de São Paulo. São Paulo: Editora Nacional / EDUSP, 1971.

BARBUY, Heloisa, FERNANDES JÚNIOR, Rubens, FREHSE, Fraya, SIQUEIRA, Henrique. Militão Augusto de Azevedo. São Paulo: Cosa Naify, 2012.

CADERNOS CIDADE DE SÃO PAULO: LARGO DE SÃO FRANCISCO. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1993.

CADERNOS DE FOTOGRAFIA BRASILEIRA: SÃO PAULO 450 ANOS. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2006.

CARVALHO, Vânia Carneiro de, LIMA, Solange Ferraz de. Fotografia e Cidade: da razão urbana à lógica de consumo - álbuns de São Paulo (1887-1954). Campinas, SP: Mercado de Letras, 1997.

FERNANDES JÚNIOR, Rubens, KOSSOY, Boris, SEGAWA, Hugo. Guilherme Gaensly. São Paulo: Cosac Naify / Departamento do Patrimônio Histórico / Museu da Cidade de São Paulo / Prefeitura Municipal de São Paulo / Casa da Imagem, 2011.

FERNANDES JÚNIOR, Rubens, LAGO, Pedro Corrêa do. O século XIX na fotografia brasileira - Coleção Pedro Corrêa do Lago. Rio de Janeiro: Francisco Alves, S/D.

FERRAZ, Vera Maria de Barro (Organizadora). Imagens de São Paulo: Gaensly no acervo da Light - 1899-1925. São Paulo: Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo, 2001.

GROLA, Diego A. A Memória nas Arcadas. Construção Material, Simbólica e Ideológica do Edifício de Direito do Largo de São Francisco. São Paulo: Humanitas, 2012.

KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: fotógrafos e ofícios da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

LAGO, Pedro Corrêa do. Militão Augusto de Azevedo: São Paulo nos anos 1860. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Editora Capivara, 2001.

NOGUEIRA, Almeida. Academia de São Paulo: tradições e reminiscências. São Paulo: Arcadas, 1953.

VÁRIOS Autores. Guilherme Gaensly e Augusto Malta: dois mestres da fotografia brasileira no Acervo Brascan. Instituto Moreira Salles, S/D.

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