Rua São Bento, 35, foi o primeiro endereço da "Confeitaria Paulicéa", em 1883, o estabelecimento mandou publicar no Correio Paulistano, seus produtos para as festas de São João e São Pedro:
"FESTAS
S.JOÃO E S.PEDRO
A confeitaria Paulicéa
Grande sortimento de doces, pães de lot, podim, queijos, presuntos, bolos de S.João nos dias 23 e 24, com sortes variadas, presentes, etc.
Tudo proprio para as duas festas.
35 - Rua de São Bento - 35"
[Correio Paulistano, Anno XXIX, Número 8046: 21 de junho de 1883]
Além dos doces, para as festas natalinas do mesmo ano, a confeitaria também oferecia para seus clientes enfeites para as árvores de Natal dos paulistanos:
"PARA AS FESTAS DO NATAL
A' PAULICEA
CONFEITARIA
RUA DE S.BENTO N.35
O proprietario deste bem montado estabelecimento convida o respeitavel publico, a visital-o, onde encontrarão um variado sortimento de enfeites para arvore de natal, caixinhas para presentes, doces de todas as especies, das quaes farão uma exposição.
PREÇOS SEM COMPETIDOR"
[Correio Paulistano, Anno XXX, Número 8201: 16 de dezembro de 1883]
É interessante observar a informação "farão uma exposição", o que provavelmente, significa que os produtos estarão expostos, para que os consumidores possam visualizá-los, conhecê-los antes de comprar ou encomendar. Nos dias atuais, nós não levamos isso em conta, pois, é comum vitrines, prateleiras, bancadas com produtos em padarias, porém, nem sempre o comércio foi assim, para ter uma ideia do que estou falando, recomendo ver o 1o. episódio/1a. temporada, de Mr. Selfridges, disponível na Netflix: as pessoas entravam nas lojas para "comprar" e aqueles que entravam somente para "ver" os produtos eram convidados a sair do estabelecimento; os produtos não ficavam expostos na loja, somente os funcionário podiam manuseá-los.
Às vésperas do Natal, o novo anúncio foca a parte gastronômica disponível na confeitaria:
"NATAL
A' Paulicéa
Rua de S. Bento n. 35
Grande variedade de bollos proprios para esta festa, assim como variado sortimento de doces
Bollo inglez
PODIM
PRESUNTOS
PREÇOS RASOAVEIS"
[Correio Paulistano, Anno XXX, Número 8207: 23 de dezembro de 1883]
Em 1886, novamente, a confeitaria anuncia seus produtos para as festas juninas (não sei o que são "rôlos com versos", caso você saiba, entre em contato com o Moyarte; a princípio pensei que eram "bôlos", porém, com base os nos outros anúncios, na época, "bôlo" era escrito com dois "L": "bollos". Mas, no ano seguinte a palavra "bolo" aparece com apenas uma letra "L"):
'Viva S.João
Rôlos (ou Bôlos)
com versos, para este dia. Grande e variado sortimento de doces de todas as qualidades, pão de lót, presunto, ballas de estallos com versos para noite de S.Jão.
A PAULICÉA
Confeitaria
Rua de S.Bento n.63"
[Correio Paulistano, Anno XXXII, Número 8947: 22 de junho de 1886]
Em outubro de 1887, as instalações da confeitaria passaram por uma reforma que resultaram em uma nota no Correio Paulistano:
"Á PAULICÉA
Depois de uma completa reforma porque passou, abriu de novo a confeitaria - Á Paulicéa, sita na rua de São Bento, as suas portas aos numerosos freguezes.
Realmente agora está nos casos receber quanta gente queira ir até lá tomar sorvete ou cerveja; pois que os seus vastissimos salões são mais que sufficinetes para conterem a freguezia, por maior que seja.
Assistimos hontem á inauguração e viemos encontados pelo aspecto imponente que nos apresentaram, todos enfeitados de giorno e flores, aos sons de uma orchestra estridente que se achava collocada n'uma pittoresca area"
[Correio Paulistano, Anno XXXIV, Número 9326: 2 de outubro de 1887]
No anúncio do natal de 1887, aparece o nome do proprietário da Confeitaria Paulicéa:
"A Paulicéa
Nesta excellente confeitaria encontra-se de tudo que diz respeito a gulodices.
O sr. Rocha, que é o estimavel dono, este anno não teve mãos a medir. O feliz mortal que alli entra pode considerar-se o mais ditosos dos discipulos de Epicuro, encontrando bolos de natal, doces para arvores, bombas, etc. etc.
Pedimos a attenção dos nossos mais gulosos leitores para o annuncio que publicamos na secção competente desta folha"
[Correio Paulistano, Anno XXXIV, Número 9396: 25 de dezembro de 1887]
Em 1890, o estabelecimento passou por outra reforma, como estratégia de divulgação, os responsáveis pelo conteúdo do Correio Paulistano foram convidados para conhecer o novo espaço, gerando a publicação de uma nota (hoje, chamaríamos isso de marketing gratuito):
"CONFEITARIA PAULICÉA
Este acreditado estabelecimento mandou reformar os seus salões, de acordo com as exigências da freguezia que é numerosa.
Para assistir a essa reforma, fomos hintem convidados pelos proprietarios daquelle estabelecimento.
A Confeitaria Paulicéa propõe-se a alargar o seu genero de negócio proporcionando serviço para bouquetes bailes etc.
Somos gratos pelo convite."
[Correio Paulistano, Anno XXXVII, Número 10239: 21 de outubro de 1890]
Não somente atrás dos bolos e doces estão os clientes da Confeitaria Paulicéa, ao publicar um anúncio sobre o uso indevido de sua marca, a Cerveja Antarctica Paulista divulga que o estabelecimento é um os distribuidores autorizados da bebida:
"ANNUNCIOS
Cerveja Antarctica Paulista
Constando-nos que alguns proprietarios de CAF'S E RESTAURANTS, pouco escrupulosos, vendem como nossa, cerveja de procedencia duvidosa, illudindo assim o publico, declaramos que são actualmente nossos consumidores de cerveja para chops os srs.:
Carlos Schorcht Junior
João Sarre&t (?)
Frederico Kupsel
Viuva Gluber
Café do Chá
Confeitaria Paulicéa
Pedro Hausen & Comp.Outro sim, scientificamos os nossos freguezes que, o deposito estará aberto aos domingos e dias santos, sómente até ao meio-dia.
S.Paulo, 4 de Outubro de 1891.
O gerente
Asdrubal do Nascimento"
[Correio Paulistano, Anno XXXVIII, Número 10523: 10 de outubro de 1891]
Mas, nem todas as notas são positivas, em fevereiro de 1892:
"Pelo fiscal Julio foi multado em 30$000 mil réis, Coelho & Comp., proproetários da Confeitaria Paulicéa, sita á rua de S.Bento, por infracção do artigo 82 das Posturas Municipaes, por ter grande quantidade de lixo em seu quintal produzindo má exalação. Pagou a multa que foi recolhida ao cofre municipal."
[Correio Paulistano, Anno XXXVIII, Número 10624: 21 de fevereiro de 1892]
Em março de 1893, os proprietários do Paulicéa assinam o contrato para funcionar nas antigas instalações do Progredior. A nota do Commercio de S.Paulo demonstra um pouco da insatisfação da mudança:
"O PROGREDIOR
Foi assignado hontem o constracto pelo qual o proprietario da Paulicéa aluga os salões do Progredior.
O publico perde muito com a nova transformação por que vai passar o Progredior. - Simples confeitaria, fechar-se-ha muito antes de terminarem os espectaculos, ás 10 horas da noite. O restaurante, que era um dos attractivos da casa, pela magnificiencia do salão, os bellos concertos orchestraes, borborinho que enxameava todos aquelles vastos aposentos, serão d'ora avante simples reminiscencias saudpsas para o bom publico de S.Paulo"
[O Commercio de São Paulo, Anno I, Nùmero 45: 14 de março de 1893]
Antes da instalação, foi realizado um leilão com móveis e utensílios do antigo Progredior, como é possível ver os detalhes no anúncio ao lado. O leilão aconteceu no dia 22 de março de 1893 e no dia 12 de maio, Á Paulicéa já reabria suas portas no novo endereço:
"Confeitaria Paulicéa
Sexta-feira, 12 do corrente, se fará a installação nos sumptuosos salões do predio á rua 15 de Novembro n.38, onde funccionou o Café Progredior.
Os proprietários vêem-se obrigados a fechar, por alguns dias, a sua casa á rua de S.bento n.63, para maior facilidade na mudança.
S.Paulo, 8 de maio de 1893."
[O Commercio de São Paulo, Anno I, Número 88: 9 de maio de 1893]
"A PAULICÉA
A confeitaria << Paulicéa >> reabrir-se-á hoje, no edificio do antigo << Progredior >>, á rua 15 de Novembro."
[Correio Paulistano, Anno XXXIX, Número 10970: 12 de maio de 1893]
"CONFEITARIA PAULICÉA
Abre-se hoje, definitivamente, no edificio da ex-companhia Progredior, aquelle conceituado estabelecimento que funccionava á rua de S.Bento.
A nova casa apresenta o que há de mais escolhido do genero, devido aos esforços do seu proprietario, sr. Domingos Coelho."
[Correio Paulistano, Anno XXXIX, Número 10971: 13 de maio de 1893]
Durante o decorrer do ano de 1893, após a sua re-inauguração no endereço da Rua 15 de Novembro, várias apresentações musicais foram realizadas do espaço, como é possível ver nos anúncios ao publicados nos jornais (abri uma página somente para os anúncios dos concertos).
Meses depois da inauguração, em setembro (1893), é aberto uma filial da Paulicéa no seu antigo endereço na Rua de São Bento:
"Filial d'A Paulicéa
Rua de São Bento n.63
Aberto este estabelecimento modelo desde 27 corrente
Nelle encontrará o público tudo quanto se pôde desejar de especial em Chops, bebidas, lunck, beefs à la Fischer, e tambem uma magnifica fonte de soda-wather, da qual jorrarão todos os refrescos apetecidos e hygienicos.
O estabelecimento abrir-se-á todos os dias ás 10 horas da manhã e ficará aberto até depois do espectaculo.
O preço dos beefs será de 1$000 cada um e serão fornecidos a qualquer hora."
[Correio Paulistano, Anno XL, Número 11078: 27 de setembro de 1893]
Em dezembro de 1893, como era costume, a confeitaria manda publicar anúncios de seus produtos para as festas de Natal:
"CONFEITARIA PAULICÉA
PARA FESTAS
Participamos aos nossos numerosos freguezes que já recebemos o colossal sortimento para as festas do Natal, Anno Bom e Reis.
COELHO & COMP.
CONFEITARIA PAULICÉA
Rua 15 de Novembro, 38"
[Correio Paulistano, Anno XL, Número 11150: 27 de dezembro de 1893]
Em 2 de fevereiro de 1897, com base no anúncio publicado no periódico "O Comércio de São Paulo", o Salão da Paulicéa recebeu o Vitascope de Edison:
"SALÃO DA PAULICÉA
EDISON'S ELETRICAL EXHIBITION
PROFESSOR KIJ & JOSEPHA ÚLTIMA MARAVILHA
HOJE HOJE
O VITASCOPE
Fotografia Viva
Combinação com o moderno MICROFONÓGRAFO, de grande buzina, para ouvir-se sem necessidde de tubinhos auditivos.
No Salão de Concertos da
PAULICÉA
Rua Quinze de Novembro
Função Permanente das 8 às 10 horas da noite.Os intervalos serão preenchidos pela excelente orquestra da Paulicéa.
Esta maravilha científica, última criação do genial EDISON, apresenta em tamanho natural a reprodução fiel das cenas vivas da vida quotidiana dos povos e da natureza.
O novo fonógrafo que acompnha esta exibição é um moderno aperfeiçoamento especial para o salão, que permite ouvir clara e distintivamente, SEM NECESSIDADE DO TUBINHOS auditivos.
Magnífico e variado repertório de canto, bandas e orquestras, excêntricos, etc. etc., em seis línguas diferentes.INGRESSO, 2$000
SENSAÇÃO DO DIA! A VER!
A MARAVILHA DAS MARAVILHAS"[ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, circos e cinemas de São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1981, p.15-16.]
O comentário sobre o espetáculo:
"O acolhimento que tem tido o tríplice divertimento do Salão da Paulicéa, constitui uma revelação para nós que nunca vimos em um compartimento tantas pessoas reunidas. O concerto, o microfonógrafo e o vitascópio são o divertimento predileto do nosso público."
[O Comércio de São Paulo: 2 Fev. 1897, p.2. Apud: ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, circos e cinemas de São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1981, p.13.]
Nas sessões do dia 1 de fevereiro de 1897, o salão estava lotado, Domingos José Coelho, proprietário do Salão da Paulicéa, precisou improvisar e providenciar novas cadeiras e mesas, pois, muitos ficaram em pé. No entanto, o sucesso foi temporário, pois, no dia 7 de fevereiro, o "Comércio de São Paulo" noticiava que o Vitascópio de Edison foi quebrado, suspendo as sessões seguintes.
No dia 19 de março de 1897, "O Estado de S.Paulo" anunciava que a "Confeitaria Paulicéa" estava à venda e seu proprietário, doente:
"CONFEITARIA PAULICÉA
Traspassa-se o contrato desta casa e vende-se o estabelecimento, visto o proprietário não poder dirigí-lo por estar doente, Aceitam-se propostas até o dia 30 do corrente.
Informa-se no mesmo estabelecimento."[O Estado de São Paulo: 19 Mar. 1897, p.4. Apud: ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, circos e cinemas de São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1981, p.16.]
Observação: o mesmo anúncio foi publicado várias vezes no Correio Paulistano.
Infelizmente, a Confeitaria Paulicéa foi a leilão,
"com todas as suas mercadorias, móveis, espelhos, lustres, fogão econômico, tachos de cobre, bateria de cozinha, caixas de vinhos e outras bebidas, balcões, serviço de cristal, armações, cadeiras, mesas, cofre de ferro, um piano Boisselot, uma grande máquina para fazer 200 sorvetes em 15 minutos, etc."
[ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, circos e cinemas de São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1981, p.16.]
O terceiro e último leilão aconteceu no dia 29 de maio de 1897 (o primeiro ocorreu no dia 26 e o segundo no dia 28).
Cidades são feitas de vidas humanas e de cimento armado. Evocar o centro de São Paulo nos anos de sua juventude significa trazer de volta não apenas o traçado esquecido de suas ruas e edifícios, como também a trajetória dos homens e mulheres que lá viveram, sonharam e trabalharam. Este livro trata de arquitetos e construtores, e também de revolucionários e administradores, banqueiros e industriais, jornalistas, pintores e poetas, célebres ou modestos, e das marcas materiais e imateriais que deixaram no corpo e na alma da cidade. O período coberto pelo livro, da Proclamação da República ao Quarto Centenário, foi escolhido por representar o que se poderia chamar de juventude do centro, época do apogeu de sua beleza e de seu prestígio...[+]
Esta obra busca contribuir para o entendimento da história de São Paulo, tendo como eixo condutor o comércio, sua formação e desenvolvimento. A urbanização de São Paulo está associada às transformações dos espaços comerciais e de sua arquitetura. Segundo o livro, recuperar essa história é também valorizar parte da cultura material dos habitantes da cidade...[+]
Nas quatro décadas iniciadas com a República e finalizadas com o movimento que entregou o poder a Getúlio Vargas, São Paulo experimentou um surto de desenvolvimento cujos efeitos ainda hoje se manifestam, traduzidos na situação de liderança que o estado ocupa. A saga da evolução industrial, que é a base desse progresso, é contada neste livro por Edgard Carone, mestre da historiografia, numa obra ilustrada com fotos..[+]
À medida que o capitalismo lança suas raízes nas sociedades periféricas, um processo de modernização de características específicas segue seu curso. No país como um todo, as marcas da escravidão ainda estão vívidas; na cidade de São Paulo, a nova elite cafeeira procura apagar os vestígios do seu passado escravagista utilizando as divisas obtidas com a venda do café para trazer, entre outras coisas, as novidades da moda da “Belle Époque” europeia. A cidade vive uma época de transformação urbana, com a abertura de ruas e avenidas, melhorias no âmbito do saneamento e instalação da iluminação elétrica; cria-se, assim, um ambiente favorável à construção de novos imóveis – alguns palacetes – pelas famílias abonadas que almejam adquirir um verniz europeu. A pesquisa que norteou a realização desse livro partiu dos aspectos característicos da modernização de São Paulo para concentrar-se no papel desempenhado pelo comércio de luxo na mudança dos hábitos e do modo de vida das classes urbanas. A “Revolução do Consumo”, fenômeno que corre paralelo à Revolução Industrial no hemisfério Norte, tem na periferia um papel importante na formação da elite: consagra sua participação no “mundo civilizado” e diferencia-a das classes trabalhadoras (nesse momento integradas em grande medida pelos imigrantes que chegavam em massa). Guiando-nos através do comércio das luxuosas casas especializadas em artigos finos importados, que integravam a nova paisagem urbana, e mostrando como as classes abastadas assimilavam as novidades no campo do vestuário, do lazer e da moradia, o livro, de leitura agradável, traz uma valiosa contribuição ao conhecimento da sociedade paulistana do início do século XX...[+]
O livro analisa o microterritório formado pelas três principais ruas comerciais na passagem do século XIX para o XX - ruas 15 de Novembro, Direita e de São Bento, que compunham o chamado Triângulo - tendo como eixo as casas de comércio da região. Com isso, o livro proporciona a compreensão do desenvolvimento da cidade refletido, por exemplo, na introdução gradual de uma estética cosmopolita tanto na arquitetura dos edifícios quanto na exibição de produtos ou cartazes publicitários. A união entre texto e ilustrações reconstrói o cenário do triângulo central de São Paulo, levando o leitor a conhecer os pormenores das fachadas e dos interiores das edificações da época numa imersão lenta e intensa nos processos por meio dos quais a cidade se reinventa...[+]
A autora mostra, nesse livro, como evoluíram o comércio e a vida urbana de São Paulo no período da Primeira República. Ao examinar as inter-relações do comércio e da indústria, com interesses em muitos casos divergentes mas complementares, essa obra é uma contribuição para que melhor se avalie a história econômica da metrópole...[+]
Este livro é um convite para o leitor voltar a um tempo no qual São Paulo combinava características de uma cidade moderna com traços fortemente rurais. Bastava uma rápida caminhada até a Igreja da Misericórdia para avistar, do alto de seu campanário, descampados, grotões, charnecas, beiras de rios e até animais silvestres e matas, que se estendiam muito além dos vales do Anhangabaú e Tamanduateí. Os personagens deste cenário? Aquela parte da população abstratamente designada como "classes médias" - na verdade, uma gente esquecida, os remediados da sociedade, uma multidão de figurantes mudos da cena paulistana - os quais atendiam pelos nomes de Dona Carolina, Seu Marcelino, Ana de Sorocaba e centenas de outros que aparecem nos registros dos quase mil inventários e testamentos que chegaram até nós. A maioria tinha pouco mais de quarenta anos no longínquo ano de 1872, quando surgiram na cidade os primeiros lampiões a gás. Pessoas que vivenciaram um tempo de incertezas e mudanças, abriram lojas e armazéns, compraram uma casinha, faliram, venderam tudo, tiveram dias bons ou ruins - enfim, sentiram na pele aquele diagnóstico certeiro de António de Alcântara Machado, quando dizia que 'em São Paulo não há nada acabado e nem definitivo, as casas vivem menos que os homens e se afastam, rápidas, para alargar as ruas'...[+]
O livro 'Memória Paulistana' inclui fotografias de nomes da época, como Militão Augusto de Azevedo, e anônimos que fizeram registros precisos...[+]
Os escritos selecionados para este livro apresentam a cidade de São Paulo no momento de transição entre a pequena vila dedicada à subsistência e a prosperidade decorrente do cultivo do café. São escritos diversos, como memórias, depoimentos, evocações, peças de teatro, que procuram reconstituir os contornos da cidade e de sua província. Os variados depoimentos oferecem um quadro da vida paulista, observada a partir de diversos ângulos e interesses, e deles emerge uma visão abrangente do cotidiano na cidade e no campo, observado por contemporâneos que o vivenciaram. A coletânea conta com textos de Aluísio de Almeida, D. Maria Paes de Barros, o Diário da Princesa Isabel, duas peças de teatro de autores paulistas, acompanhados de comentários de especialistas, e de um levantamento iconográfico de autoria do organizador, composto de desenhos e aquarelas de viajantes que aqui estiveram na primeira metade do século XIX...[+]
"Salas de cinema e história urbana de São Paulo (1895-1930) - o cinema dos engenheiros" apresenta um vasto panorama sobre os espaços de exibição cinematográfica na cidade de São Paulo, cobrindo todo o ciclo do cinema silencioso. Por meio da documentação custodiada pelo Arquivo Histórico de São Paulo (AHSP- SMC/PMSP), um dos principais acervos históricos da cidade, o autor reconstitui um momento significativo da história do cinema e da memória urbana paulistana do século XX, marcado pela presença das "salas de rua". Nesta edição, que amplia os estudos de seu livro Imagens do passado - São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema (Editora Senac São Paulo, 2004), o autor recupera no rico conjunto documental do AHSP projetos de salas especialmente construídas, ou adaptações, para abrigar os cinematógrafos, reproduzindo fachadas, plantas e cortes dessas edificações, além de outros registros de acervos diversos, como anúncios na imprensa, fotografias e cartões- postais. José Inacio de Melo Souza, um dos mais dedicados pesquisadores da história do cinema no Brasil, destaca documentos pouco conhecidos, delineando uma perspectiva renovada sobre esse complexo momento de introdução do cinema em São Paulo e a constituição de um circuito de distribuição e exibição, espaço de socialização privilegiado da modernidade...[+]
Nesta obra, o autor registra suas lembranças de infância e juventude em crônicas que fazem recordar da São Paulo antiga de quem viveu a atmosfera de um dia qualquer entre os anos de 1895 e 1915. Editado pela primeira vez em 1957, mais do que objeto entre memorialistas, 'São Paulo Naquele Tempo' é uma obra para aqueles que querem conhecer as transformações da capital paulista nos últimos anos do século XIX e primeiras décadas do século XX...[+]
A produção artística brasileira entre o final do século XIX e as primeiras décadas do seguinte, muitas vezes vista como sem interesse diante da produção européia, é analisada neste livro com o objetivo de oferecer uma compreensão mais ampla do processo de desenvolvimento da arte nacional. A autora retira do esquecimento obras de diversos pintores, acompanhando as críticas, exposições e a atuação de instituições, como a Pinacoteca do Estado e o Museu Paulista, no desenvolvimento artístico brasileiro. Com base em extensa pesquisa e, sobretudo, no contato direto com as obras, 'Pintores Paisagistas em São Paulo- 1890-1920' procura dar conta da complexidade de um grande número de artistas e obras nos primórdios da arte no Brasil...[+]