Em "São Paulo Antigo 1554 a 1910", Antônio Egydio Martins descreveu as vendedeiras de peixe do século XIX:
"Até o ano de 1867, data em que foi inaugurado o Mercado da Rua 25 de Março, as vendedeiras de peixe, que residiam no Bairro do Pari em outros lugares próximos desta Cidade, vestidas de saias curtas e cobertas com um pequeno xale ou com uma baeta azul, descalças, postavam-se, para vender as cambadas de peixes e outras coisas que traziam na calçada da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, do lado da rua do mesmo nome, custando, naquele tempo, cada cambada de peixe 6 vinténs e, pela Quaresma, o preço das mesmas elevavam-se a 12 vinténs."
[MARTINS, Antonio Egydio. São Paulo Antigo - 1554-1910. Coleção São Paulo: volume 4. São Paulo: Paz e Terra, 2003, p.120.]
O texto não menciona, porém, ao descrever como "descalças" é provável que as vendedeiras eram negras e ainda escravas.
Antonio Egydio Martins foi responsável pela organização do Arquivo do Estado de São Paulo por 30 anos, ao longo dos quais percorreu a documentação em busca dos pormenores da história paulistana. São Paulo Antigo era o título das crônicas que passou a publicar nas páginas do Diário Popular e que caíram no gosto do público, dando origem ao livro, publicado em dois volumes em 1911 e 1912. O livro permaneceu como fonte privilegiada para se conhecer o cotidiano da cidade, tratando de seus personagens, das festas, dos costumes, dos hábitos alimentares, dos governantes, dos jornais, das lojas... São Paulo Antigo é como um baú da história paulistana, ao qual se recorre em busca da informação miúda, do detalhe, da data, dos tipos da cidade, dos pormenores perdidos no rolar do tempo...[+]
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