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MUITO ALÉM DO JARDIM

DE CHANCEY

análise do filme e personagem

atualizado em: 22 de novembro de 2016

 

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Resumo do filme "Muito Além do Jardim", do diretor Hal Ashby, com os atores Peter Sellers e Shirley MacLaine no elenco

Em, “Muito Além do Jardim”, Chance, o jardineiro, é o personagem principal. Não há passagens que apresentem o seu passado, todas as cenas do filme, por assim dizer, aparecem de forma cronologicamente crescente, ou seja, tudo o que aconteceu com o personagem na sua infância, adolescência, ou mesmo um dia antes da primeira cena apresentada ao público, ainda com as legendas sobre a produção do filme, não são explicadas, cabe ao público imaginar com base nas reações do personagem com o mundo que o rodeia, sejam nos seus atos ou nas palavras, enfim, no seu comportamento diante do que lhe é apresentado.

Com a morte do velho patrão (“Old man”), a casa, onde Chance trabalha como jardineiro, é posta à venda. Além deles, morava no local uma velha governanta negra, chamada Louise. Esta se despede de Chance, aconselhando-o a arranjar alguém que cuide dele, de preferência uma “boa e velha mulher”.

Chance não compreende as conseqüências da morte do “Old man” e continua na casa, até o momento em que aparece o advogado (Thomaz Franklin); este confuso com a presença de Chance, por não saber com absoluta certeza de quem se trata (não há registros na casa de nenhum empregado com este nome), avisa-o que é necessário que ele deixe o local.

Ao deixar a casa, Chance anda sem rumo, pois não sabe para onde ir. É atropelado, por uma senhora rica (Sra. Rand), que o leva para sua casa ao invés de um hospital, para não tornar o acidente em uma notícia para os tablóides. Em sua mansão há um hospital particular, pois seu marido, Ben, sofre de uma doença grave e encontra-se em fase terminal.

Ele conquista o casal, com sua simplicidade e autenticidade, causando também muitas confusões, pois, tudo o que fala, suas opiniões sobre o mundo tem origens definidas: o jardim e a televisão. Quando está falando sobre o jardim, as pessoas ao seu redor acham que está usando de metáforas para explicar o mundo, os problemas da sociedade. Como não conhecia o elevador, por exemplo, todas as perguntas e comentários que faz, ao usar o mesmo, são recebidas como piadas pelo empregado da mansão.

Questionado pela esposa do milionário sobre o seu nome, ele responde, “Chance of garden, Chance the gardener” e mais uma vez não é compreendido. Chance “do jardim”, Chance o jardineiro, torna-se Chauncey Garden – “garden” em inglês significa jardim.

Sobre Chance, neste momento do filme, já é possível imaginar o seu passado: ele nunca antes saíra de casa, sua vida consistia em cuidar do jardim, ser alimentado por Louise, que preparava todas as suas refeições e, o principal, assistir televisão. É através da televisão que Chance tem contato com o mundo, seu comportamento, desde o modo de vestir aos assuntos a conversar com outras pessoas, têm como bases os programas assistidos na tela, além, é claro, dos assuntos sobre jardim, seus cuidados, enfim, tudo que se refere ao mesmo, sejam sobre plantas, adubos, modos de tratamentos das mesmas.

A maior confusão criada pelas palavras de Chance é realizada durante o encontro com o presidente do país. Uma vez apresentado como amigo íntimo do milionário, o político houve e preocupa-se com as “idéias” daquele senhor bem vestido e amigo íntimo do milionário. Perguntado sobre o que acha do atual estado da sociedade e política, Chance fala sobre jardins, sobre o efeito das estações do ano sobre o mesmo, porém, como das vezes anteriores, suas palavras são compreendidas como metáforas sobre governo, política e pronunciadas em declaração pública pelo presidente. O jardineiro torna-se um sucesso nacional, despertando o interesse da imprensa, do FBI, entre outros, que desejam saber mais sobre a vida do amigo do milionário e, nada encontram como referências de seu passado.

O enterro do milionário Ben é a última cena do filme. Anterior a isso, em uma festa, Chance é aceito como um grande intelectual, que domina vários idiomas, mesmo afirmando que não lê jornais (ele é analfabeto), preferindo a televisão. Não passa sequer na mente daqueles que o estão questionando, que aquele homem bem-vestido, à la filme hollywoodiano, ao dizer que não lê jornais é porque não o sabe fazê-lo. É compreendido como uma pessoa que não se importa com a opinião alheia.

Todo o filme apresenta como é o aprendizado de uma pessoa, a formação de repertório através de símbolos, como atua o mecanismo de interpretação na mente das pessoas.

 

Análise

Chance não conheceu o mundo da mesma forma que os outros personagens do filme. Não aprendeu a ler, não saiu durante quase toda a sua vida da mansão do “Old Man”, para se manter vivo, quem preparava suas refeições era a governanta Louise. A sua interação com o mundo que o rodeava baseava-se nos cuidados do jardim e nas imagens que via na televisão.

Dentro da Teoria Geral de Sistemas, a própria noção de sistema constitui uma excelente orientação geral para a natureza do processo de comunicação, pois a mesma é realizada através de símbolos entre aquele que emite a mensagem e aquele que o recebe.

Chance seria um ótimo exemplo para ser usado no denominado Interacionismo Simbólico, dentro da Teoria da Comunicação.

Interacionismo Simbólico não é uma teoria, e sim, como o próprio nome apresenta, uma interação de várias teorias, ilustrando o fato de que as teorias não podem ser vistas como uma série de explicações independentes de algum fenômeno. As teorias inter-relacionam-se, sobrepõem-se e inserem-se em padrões. É’ freqüentemente difícil saber onde termina uma teoria e começa outra.

O Interacionismo Simbólico contém um núcleo de premissas comuns sobre comunicação e sociedade. Manis e Meltzer publicaram uma excelente compilação de artigos nesta área. Na conclusão de seu trabalho, os autores isolaram seis proposições teóricas básicas do Interacionismo Simbólico:

 

A mente, o eu e a sociedade não são estruturas distintas mas, processos de interação pessoal e interpessoal

Sociedade, eu e mente são os três conceitos cardeais na teoria de Mead. Não-distintos, são ênfases diferentes, sobre o mesmo processo geral: o ato social. Básica no pensamento de Mead é a noção de que o homem é um ator e não um reator.

Um ato humano pode ser breve, como amarrar um sapato, ou pode ser a realização de um plano de vida. Os atos inter-realcionam-se e estruturam-se uns sobre outros, em forma hierárquica, ao longo da vida da pessoa. Os atos começam com um impulso; envolvem percepção e atribuição de significado, repetição mental e ponderação de alternativas na cabeça da pessoa e consumação final. Em sua mais básica forma, um ato social é uma relação triádica, que consiste num gesto inicial de um indivíduo, uma resposta a esse gesto por outro indivíduo (encoberta ou abertamente) e uma resultante do ato, a qual é percebida ou imaginada por ambas as partes na interação.

No filme, um exemplo é o encontro de Chance com o presidente: ao se dirigir a Chance, o presidente movimenta os braços, indicando o que pretende fazer, Chance responde cumprimentando-o da forma em que viu na televisão (como o presidente era cumprimentado por outros), a resultante é a realização do cumprimento, o aperto de mãos.

Assim, como em todo o filme, Chance atua, não de forma a somente reagir a um estímulo, mas, dependendo do estímulo, possui em seu “arquivo” por assim dizer, de como atuar em tal situação. Ele tem “dentro si”, significados para aquele gesto que desencadeiam determinadas reações. Provavelmente o cumprimento a outras pessoas, que não o presidente, seria diferente, pois, o significado daquele gesto estava associado a figura do presidente( com base no que ela assistiu na televisão).


Sociedade: Uma pessoa deve chegar a entender as “intenções” do outro comunicador. Ela deve perceber as ações do outro, mas, num sentido mais importante, deve imaginar o que o outro pretende fazer no futuro. Uma vez que “refletir mentalmente” ou pensar é um processo de imaginar que ações serão empreendidas pela pessoa no futuro próximo ou distante, parte do processo de “sondar” o outro, consiste em “ler” as ações e intenções da outra pessoa, e em responder de um modo apropriado. Isso é a essência da comunicação interpessoal, e essa noção de resposta mútua com o uso da linguagem faz do Interacionismo Simbólico uma teoria vital da comunicação. A partir disso é possível compreender a confusão, por exemplo, no encontro com o presidente: naquele contexto, quando o presidente é apresentado a Chance, ocorreu uma “leitura antecipada”, de que ele era amigo íntimo e de influência sobre o milionário e por isso, era importante saber sua opinião, em nenhum momento ocorreu a afirmação de tal situação em atos concretos (“este é um de meus melhores amigos”, por exemplo). Ao ser perguntado sobre o governo, mesmo que a reposta parecesse estranha - afinal, na realidade, ele estava falando dos cuidados de um jardim - e a compreensão não muito clara, a questão não era sobre o que ele estava falando, mas o que ele queria dizer, pois, qual seria o pressuposto? De que ele iria falar do governo e nunca de um jardim de verdade. Assim como também, no momento em que a imprensa o questiona se havia lido os jornais e ele responde que “não lê”, os jornalistas declaram ser ele um homem corajoso em afirmar o não-interesse por informações provenientes de jornais e preferir televisão, o que significava quebrar, criticar os valores de qualidade sobre qual o melhor veículo de informação. Porque, por exemplo, a imprensa não tem como hipótese que ele “não lê”, porque “não saber ler”, o que seria uma possibilidade, por exemplo, se o entrevistado fosse um morador da Região Nordeste do Brasil. Isso ocorre, porque há um contexto influindo na interpretação e codificação de símbolos. No caso, o fato de ser amigo de um milionário, de influenciar no discurso do presidente, “cancela” por assim dizer, a hipótese que poderia ser viável na região pobre do Brasil (analfabetismo).

Eu: é a capacidade humana de se “colocar no lugar”, mesmo quando emissor, do receptor. A criança, num primeiro estágio, chamado teatral, imita o que ocorre a sua volta e se põe no lugar do pai, do carteiro, do bombeiro. No filme, ao ver dois homens se cumprimentando, Chance usa as suas duas mãos tentando se colocar no lugar de quem irá receber seu cumprimento.

Mente: refletir envolve o ato, o momento em que a pessoa interpreta conscientemente o que está acontecendo. Por exemplo, a primeira morte, do “Old Man” é algo novo para Chance, sua reação é indiferente ao ocorrido, a noção de perda ainda não existe. Quando Ben, o milionário, morre, mesmo que sua reação seja diferente das outras pessoas da sociedade, há neste caso uma reflexão do ocorrido (uma associação entre a primeira perda e a segunda). E uma reação, diferente, perante a morte. Ele já não é mais um reator passivo.

 

A Interação Simbólica é um ponto de vista que enfatiza a linguagem como o mecanismo primário que culmina na mente e no eu do indivíduo

Através da linguagem é que o ser humano define-se e define o que o rodeia. É através dela que ele se comunica. A televisão não deixa de ser uma forma de linguagem, é desta maneira que Chance recebe as informações para suas reações, assim como, também, através das informações absorvidas, durante as conversas com outras pessoas.

 

A mente é concebida como a internalização de processos sociais no indivíduo

É dentro da mente que são arquivadas todas as informações recebidas. E de tudo que foi vivido anteriormente, por isso, muitas vezes, aquilo que foi visto somente uma vez na vida ou até mesmo absorvido através de uma imagem, não desaparece da mente de quem interpreta qualquer mensagem, seja visual, auditiva ou através de símbolos como a escrita.

Assim também ocorre o contrário, como, por exemplo, as reações estranhas diante do elevador. Anteriormente, não havia registro desta informação na mente de Chance, pois ele não havia vivido isto, nem mesmo na televisão. O contrário acontece em relação à cadeira de rodas. Chance não estranha a cadeira, sabe que é para se sentar nela e alguém irá empurrá-la, isto acontece porque em um dos programas de televisão ele assiste à um homem que se locomove através da mesma.

Os interacionistas simbólicos concordam em que os comportamentos são “construídos” pela pessoa no decurso de sua ação. O comportamento não é puramente reativo, de um modo mecanicista. Mesmo no comportamento de Chance, ao copiar o que vê na televisão, como o citado encontro presidencial: o cumprimento ao presidente, que ele imitou da televisão, não seria o mesmo cumprimento que ele usaria para outra pessoa. Há, mesmo que simples, uma interação sobre situações: “presidente, cumprimento”. As pessoas usam as linguagens para refletir, repetir, mentalmente e adaptar-se ao momento, à situação.


Com a morte de Ben, Chance parte novamente, afinal, quando o “Old Man” morreu , foi necessário que ele saísse da casa. Ou então, nas associações entre pessoas negras: depois de sair de casa, ele encontra uma senhora negra, e a primeira coisa que pede é para ela lhe servir algo para comer, pois, está com fome (Louise, a governanta do “Old Man” era negra). Ou, quando se deparou com os meninos de rua e pergunta ao médico do Sr. Rand se ele conhece “Rafael”, pois tem um recado para o mesmo, o médico em questão também é negro assim como os meninos. Mesmo que "simples" estas associações são formas de pensamento, de raciocínio.

 

O veículo primário para a conduta humana é a definição da situação pelo ator (quem age, quem atua)

O comportamento de uma pessoa é influenciado por sua definição da situação, o indivíduo interpreta ativamente o que é visto e ouvido. Atribuindo significados a objetos e eventos, mesmo que estranhos para os valores da sociedade, as ações de Chance passam por um tipo de significação. A diferença entre eles seria a fonte de referência. A de Chance são os programas de televisão e os cuidados com o jardim, a dos outros, a convivência dentro da sociedade.

O eu é constituído, na opinião da maioria dos interacionistas, por definições tanto sociais como pessoais (de natureza única). Neste sentido, a pessoa contém a sociedade em si mesma, mas não é apenas um espelho dos outros significativos.

O fato do ser humano ser diferente do ser animal é, justamente, por não se poder ter certeza de sua reação. Pois, dentro da mente, as informações se interagem diferentemente em cada ser humano, por isso, perante as mesmas situações, Chance reage diferente do restante dos membros da sociedade.

No enredo há uma metáfora sobre “conter a sociedade dentro de si”, referente ao que está dentro de Chance: a própria casa do “Old Man”, as primeiras cenas, nas quais a casa é apresentada por “dentro”, incluindo o jardim, tem-se a sensação de que é enorme, uma mansão e rica, com seus pertences, quando Chance parte, é possível ver que não se trata de uma bela mansão, mas uma casa, em uma rua em decadência. Assim como também o “tempo”, dentro dela, parece se tratar de uma época, ao serem apresentadas as cenas externas é possível ver que a época da história é outra.

 

Chancey

Para Chancey, ao sair da casa do “Old Man”, todos os outros acontecimentos eram novos, assim como imagens, sons, cores. As três fases descritas por Pierce, Primeiridade, Secundidade e Terceiridade são vividas em várias cenas do filme por Chancey. Por exemplo, no elevador, aquela primeira percepção do local, ainda indefinível (primeiridade), somente de qualidade, sentimentos de qualidade (outro exemplo de primeiridade, é o contato com o cartão de visitas do advogado, ele segura, vira o cartão, para ele não há significados logo de primeiro momento, é pura qualidade, tato). A secundidade apresentada na pergunta “quanto tempo ficariam dentro daquele local?”, o reconhecimento do local, e depois quando o empregado define-o como sendo “elevador”, o uso de um símbolo, nada relacionado com o objeto para defini-lo (terceiridade). O mesmo acontece com Chancey e a “morte”: quando Ben, o milionário morre, já há uma associação de idéias de perda, dor, sofrimento. Pois, a primeira morte, do “Old Man” não tinha nenhuma referencia anterior, como Kasper Hauzer, personagem de outro filme (O Enigma de Kasper Hauzer), em frente a chama de uma vela ou ao movimento de uma espada (não sentia nem medo nem repulsa), o mesmo acontece com Chance perante a faca dos meninos de rua.

Quando do “encontro” de Chance com os meninos de ruas e a pergunta ao médico de Ben, também negro, sobre se ele conhecia Rafael, pois tinha um recado para o mesmo. Seria para Chancey, algo como um índice, pois, a referência dele esta na cor de pele do médico. O mesmo acontece conosco ao ver pegadas de um gato, sabe-se que se trata de pegadas de um gato, porque se relaciona as formas, das patas com os riscos no chão. No caso, do filme, o fator relacionado é a cor de pele.

Sobre Comunicação o que se tem nada mais é do que há uma relação entre, receptor, emissor, repertório de cada um, situação à sua volta. Ao mesmo tempo, que a análise separada de cada item não é a melhor maneira para se analisar o processo de comunicação, não há como defini-lo, ou melhor, como precisá-lo, pois, será diferente sempre que um dos itens acima for modificado, mesmo que em pequena dimensão.

 

Diálogos: Televisão X Chance

Durante todo o filme, há, por assim dizer, dois tipos básicos de cenários: o primeiro, os lugares onde Chance se encontra, seja na casa do “Old Man”, na rua ou na mansão dos Rand. O segundo: a televisão e seus programas. Um se completa ao outro, como se fossem diálogos à parte, com dois personagens: a “Televisão” e a “Vida de Chance”.

Frio: Chance está assistindo à televisão enquanto toma seu café. Na TV o programa está falando de clima, que irá fazer “frio”, com tempestade. Quando Louise, a governanta, conta a Chance que o “Old Man” morreu e que ele estava “frio”. A primeira associação que Chance faz é sobre o clima. É como se a televisão fosse a extensão do cérebro de Chance.

Gente diferente, modos diferentes: durante o café no qual Louise conta a Chance que o “velho” morreu, no programa de TV a locutora fala sobre “gente diferente, modos diferentes de encarar a vida” é como se isso fosse uma leitura do pensamento de Louise.

Colchão - Morte: quando o “Old Man” morre, Chance vai até o quarto onde se encontra o corpo do mesmo, na TV a propaganda diz que colchões ruins são responsáveis por doenças. Dentro de Chance, está é uma explicação aceitável para a morte do “Old Man”.

Desenho, musical falando sobre amigos, necessidade de torcida, alguém para passar a bola: após o acidente, no trajeto com destino à mansão, Chance assiste na TV um desenho animado em que jovens cantam, sendo o assunto, tema da canção, a necessidade de ter amigos, de “passar a bola” que em gíria significa transferir responsabilidades, deixar que outros também brilhem, dividir as glórias. É como se isso fosse um tipo de “resumo” do que irá acontecer depois, os Rand, devido à doença do milionário Ben, estão em uma fase de “infelicidade” por assim dizer. Em todo o filme, com exceção do médico e dos empregados (fora a visita do presidente), não há a apresentação, aparição de amigos do milionário, mostrando a face “hipócrita” da alta sociedade, a falta de confiança nas pessoas que os rodeiam. A entrada de Chance traz aos Rand uma amizade sincera, sem interesses, Ben “passa a bola” para Chance ao deixar uma Instituição para ele cuidar ou mesmo “deixando” sua esposa para o mesmo.

 

Música X História de Chancey

Há três trilhas sonoras importantes para serem lembradas no filme:

Música sobre amizade: já descrita no item sobre “Diálogos”.

Música de Beethoven: no início do filme, enquanto assiste ao concerto na TV, Chance não percebe, porém está limpando a casa no mesmo ritmo da música.

Música de ficção científica: quando partiu da casa do “Old Man” a música que acompanha sua passagem, sua “exploração” pelas ruas da cidade é de ficção científica: O que não é Chance na rua, senão um extra-terrestre vendo a sociedade pela primeira vez.

 

Cenários X História de Chancey

Casa do “Old Man”: por dentro a casa do “Old Man” parece uma mansão em uma determinada época. Quando o filme apresenta Chance deixando a casa, é possível perceber que não se trata de um bairro de alta classe e a casa não é uma mansão. Pelo contrário, a cena que se apresenta é decadente. Uma metáfora do próprio Chance, afinal, ele é uma pessoa fora de foco, fora da sociedade. Assim como a casa, mobiliada por móveis antigos, fora de época, fora de contexto.

Estátua apontando a direção: na rua, perdido, Chance segue a direção a qual a mão da estátua aponta. Em direção à Casa Branca.

Caminho para a Casa Branca: ainda perdido nas ruas da cidade, após seguir em direção a qual apontava a estátua, há a apresentação de uma cena, na qual Chance caminha entre os carros, sozinho, em direção à Casa Branca. Um resumo em forma de metáfora sobre o resto do filme: a caminhada de Chance à Casa Branca, a sua entrada na política através do milionário Benjamin Rand, o encontro com o morador da Casa Branca.

Chancey "dentro" da TV: antes do acidente, Chance com o auxílio de uma câmera, é inserido dentro da televisão que está na vitrine de uma loja. Cena lírica, que representa o próprio Chance, como Criador e Criatura, afinal “Chance/pensamento” vem de dentro da TV.

 

 

Andando sobre as águas: Cristo andou sobre as águas, na história da religião cristã ele foi o inocente sacrificado para salvar a humanidade, Chance caminha sobre as águas no final do filme. Os acionistas ricos e importantes de Rand conversam sobre “usar” Chance para seus próprios propósitos de se manterem no poder. O filme não apresenta, mais é possível imaginar que assim como o Dr. Allemby, futuramente será descoberto quem é realmente Chauncey Garden ou melhor, Chance, o jardineiro e assim, aproveitando-se da sua ingenuidade, ele será usado, manipulado e “sacrificado” como o principal culpado por qualquer erro político perante a sociedade, assim como foi feito com Cristo.

Observação: Este texto foi escrito há mais de dez anos, para uma das disciplinas de Teoria da Comunicação, do curso de Comunicação Social (PUC/SP). Infelizmente, não consegui localizar todas as referências bibliográficas utilizadas na época.

 

Referências Bibliográficas

LITTLEJOHN, S.W. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de Janeiro, Guanabara, 1988.

 

 

 

NÃO-DIÁRIO

MUITO ALÉM DO JARDIM

dvd

Assim que Muito Além do Jardim foi lançado, o escritor Jerzy Kosinski recebeu um telegrama de seu principal personagem, Chance, o Jardineiro: Disponível no meu jardim ou fora dele. Kosinski discou freneticamente um número de telefonee Peter Sellers atendeu. Sellers, de fato, pegou o espírito do personagem e nos deu uma mamorável performance (vencedor do globo de Ouro, além de indicado ao OSCAR®) nessa comédia moderna. Isolado em sua vida em Washington D.C., Chance conhece do mundo apenas aquilo que vê na televisão. Lançado na vida real por um infortúnio, acaba adentrando num restrito círculo de poderosos homens do governo (dentre os quais está Melvyn Douglas, em seu segundo OSCAR® de Ator), famintos por sua sabedoria. Como Chance poderia dizer, você gostará de assistir...[+]

 



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