Website de Mônica Yamagawa

NETHERFIELD E O BAILE DE

MERYTON

mr. darcy

texto baseado na obra "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen

atualizado em: 24 de outubro de 2013

 

home > não-diário > NETHERFIELD E O BAILE DE MERYTON

Tinha planos de ir para Pemberley e desfrutar o tempo com os novos títulos adquiridos para sua biblioteca, no entanto, a insistência do amigo, o pedido para orientá-lo na aquisição de terras, fez com que Darcy concordasse em viajar para a casa de Netherfield.

Charles Bingley herdara 100 mil libras em bens e tencionava transformar parte da herança em terras. Com o propósito de melhor conhecer os moradores e analisar as possibilidades para a aquisição de uma futura propriedade na área, decidira alugar a casa de Netherfield e nela passar o verão. No entanto, Darcy tinha dúvidas que tal intenção se concretizasse, pois, conhecendo Bingley, sabia que esse, desprovido de grandes ambições, possuindo uma casa confortável e renda o suficiente para suas despesas, provavelmente, legaria a ampliação de suas terras, para as futuras gerações. O mesmo não ocorria com suas irmãs: Caroline Bingley e Louisa Hurst sonhavam transformar o irmão em um grande senhor de propriedades. Em várias ocasiões, Darcy presenciara a irmã solteira presidir à mesa da família e a casada, considerar como sua, a residência do irmão caçula, sem cerimônias. Tais atitudes explicavam a insistência de ambas, para que ele influenciasse as decisões de Mr. Bingley e o fizesse converter em terras, o legado obtido pelo pai, através do comércio. Nesses momentos, em seus pensamentos, Darcy agradecia o fato de Georgiana, sua irmã, ser dez anos mais jovem que ele e comportar-se diferentemente das irmãs do amigo.

Os Bingley já se encontravam instalados na casa de Netherfield, quando Darcy chegou ao vilarejo. Charles fora buscá-lo - e convencê-lo -, pessoalmente, em Londres. Vários moradores da vizinhança visitaram a família, logo nos primeiros dias, com o pretexto de dar-lhes boas-vindas. O amigo, com seu temperamento doce, ressaltava, encantado, a simpatia e atenção para com os seus; as irmãs, por outro lado, não perderam a oportunidade para ironizar a ausência de refinamento dos visitantes. Para Darcy, de caráter reservado, tais saudações e apresentações eram artifícios para bisbilhotices.

Hospedar-se em um lugar não-familiar sempre incomodava Fitzwilliam Darcy. Apesar de não o admitir em público, qualquer alteração em sua rotina, causava-lhe receio e desconforto. Ainda não se habituara ao novo ambiente, quando foi informado sobre o baile e para o qual, o amigo contava com sua companhia. Enquanto Bingley ansiava com a possibilidade de travar conversas e ampliar sua lista de conhecidos, o oposto acontecia com Darcy. Tais circunstâncias, públicas e entre desconhecidos, provocavam-lhe certa apreensão, retraindo-o ainda mais. Nessas ocasiões, mal conseguia emitir um sorriso, mesmo que discreto e mantinha-se a maior parte do tempo em silêncio, taciturno e isolado. Durante o baile de Meryton não foi diferente.

Ao entrar no salão, sentiu todos os olhares voltados para a sua figura, o que exigiu uma força redobrada do controle de suas emoções, para não recuar e sair pela mesma porta que entrara. Enquanto caminhava, ouviu o burburinho sobre suas 10 mil libras anuais, o que, de imediato, o indispôs ao grupo e acionou todas as suas defensivas, recusando-se a ser apresentado a qualquer jovem, dançando apenas duas vezes, com Caroline e Louisa.

Não sem uma certa inveja, Darcy observou a desenvoltura com que Bingley, sempre alegre e sem reservas, conversava com as pessoas no salão e dançava com várias das jovens presentes. Às vezes, em momentos como este, pensava se gostaria de ter o coração tão aberto e a personalidade tão espontânea quanto a do amigo. Como se ouvindo tais pensamentos, entre uma e outra música, Bingley abandonara a dança na tentativa de convencê-lo a imitá-lo:

"Vem, Darcy, quero que venhas dançar. Detesto ver-te por aí sozinho. Seria melhor se viesses dançar."

"Não contes comigo. Sabes perfeitamente como detesto dançar, se não conhecer intimamente meu par. Aliás, com gente como esta, isso seria insuportável. As tuas irmãs têm cada uma seu par e não há outra mulher no salão cuja companhia não se tornasse um sacrifício para mim."

"Eu não seria tão exigente. Por Deus! Palavra de honra que nunca em minha vida encontrei um grupo de moças tão agradável como o que aqui temos esta noite, e, como podes ver, algumas delas são excepcionalmente bonitas."

"Tu estavas dançando exatamente com a única moça bonita do salão."[*]

Respondeu Darcy e ambos voltaram suas atenções para a figura de Jane Bennet, a poucos passos deles que, mesmo sem saber que dela estavam a falar, retribuiu os olhares com um leve sorriso.

"Oh, ela é a criatura mais bela que eu já vi! Mas, sentada atrás de ti, está justamente uma de suas irmãs, que, além ser de muito bonita, parece-se ser bastante agradável. Deixa que meu par apresente-te a ela."

"Qual?"[*]

Com um movimento discreto, Bingley indicou Elizabeth Bennet, que, devido ao número reduzido de cavalheiros, permanecera sem par, sentada a pouca distância de Mr. Darcy, durante as últimas duas danças. Fechado em seus próprios pensamentos, ele não percebera a presença da jovem até a intromissão do amigo. Olhou minuciosamente para Elizabeth, porém, quando esta decidiu encará-lo, devolvendo-lhe o olhar, desviou o seu, em uma reação imediata e defensiva, voltando-se para o amigo:

"É razoável, mas não suficiente bonita para tentar-me. No momento não me sinto disposto a consolar as jovens que outros desprezaram. Vai tu para junto do teu par e desfruta-lhe os sorrisos, que comigo perdes o teu tempo."[*]

Bingley obedeceu, sem fazer comentários. Não era de sua índole criticar o amigo, porém, tinha dificuldades para entender porque ele era tão ríspido e monossilábico em público, quando, entre amigos, mostrava-se agradável e atencioso. Darcy, por sua vez, ao ver o amigo se afastar cabisbaixo e em silêncio, arrependeu-se de suas palavras. Em várias ocasiões, tinha consciência da rudeza de suas expressões, afinal, mesmo que a idéia de dançar com as jovens por outros desprezadas não o agradasse, poderia ter guardado tal sentimento para si. Pensando nisso, voltou os olhos para Elizabeth, desejando que ela não tivesse ouvido seu comentário.

Mônica Yamagawa

 

Referências Bibliográficas

[*] AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. São Paulo: Marin Claret, 2008, p.19-20.

NÃO-DIÁRIO

Livro: Orgulho & Preconceito

Orgulho e Preconceito

AUSTEN, Jane
Martin Claret
2010

Inglaterra, 1797. As cinco irmãs Bennet - Elizabeth, Jane, Lydia, Mary e Kitty foram criadas por uma mãe que tinha fixação em lhes encontrar maridos que garantissem seu futuro. Porém, Elizabeth deseja ter uma vida mais ampla do que apenas se dedicar ao marido, sendo apoiada pelo pai. Quando o Sr. Bingley, um solteiro rico, passa a morar em uma mansão vizinha, as irmãs logo ficam agitadas. Jane logo parece que irá conquistar o coração do novo vizinho, mas quando a jovem Elizabeth Bennett encontra o charmoso Sr. Darcy, ela acredita que ele seja o último homem na terra com quem ela poderia se casar um dia. Mas quando suas vidas se tornam entrelaçadas em uma inesperada aventura, ela se descobre cativada pela pessoa que jurou desprezar por toda eternidade... [+]

 


Filme: Orgulho & Preconceito

Estados Unidos, 2005
Direção: Joe Wright

Inglaterra, 1797. As cinco irmãs Bennet - Elizabeth (Keira Knightley), Jane (Rosamund Pike), Lydia (Jena Malone), Mary (Talulah Riley) e Kitty (Carey Mulligan) - foram criadas por uma mãe (Brenda Blethyn) que tinha fixação em lhes encontrar maridos que garantissem seu futuro. Porém, Elizabeth deseja ter uma vida mais ampla do que apenas se dedicar ao marido, sendo apoiada pelo pai (Donald Sutherland). Quando o Sr. Bingley (Simon Woods), um solteiro rico, passa a morar em uma mansão vizinha, as irmãs logo ficam agitadas. Jane logo parece que irá conquistar o coração do novo vizinho, mas quando a jovem Elizabeth Bennett encontra o charmoso Sr. Darcy, ela acredita que ele seja o último homem na terra com quem ela poderia se casar um dia. Mas quando suas vidas se tornam entrelaçadas em uma inesperada aventura, ela se descobre cativada pela pessoa que jurou desprezar por toda eternidade... [+]

 


Jane Austen
no Google Books

[download gratuito]

 

Emma
Richard Bentley
1882
Oxford University

 

Mansfield Park
Richard Bentley
1833
Oxford University

 

Northanger Abbey & Persuasion
R. Bentley
1833
Oxford University

 

Persuasion
John Murray
1818
Oxford University

 

Pride and Prejudice
RD Bentley
1853
Biblioteca Pública de Nova York

 

Sense and Sensibility: a Novel
Richard Bentley
1833
Oxford University

 


RODAPÉ ONLINE

artigos para download gratuito

 

AUSTEN, Jane.Pride and Prejudice. Reginald B. Johnson, J. M. Dent, 1892. Harvard University. Digitalizado em: 12 fev. 2008. Google Books

 

"Jane Austen pode ter morrido intoxicada com arsênico" 
Artigo de Alison Flood, Folha.Com/Guardian, Nov. 2011

 

"Manuscrito de Jane Austen é vendido por mais de US$ 1,6 mi."
Folha.Com/EFE-Londres, Jul. 2011

 

"Especialista revela que escritora Jane Austen era péssima em ortografia"
Folha.Com/France Presse, Out. 2010

Guia de leitura de "Orgulho e Preconceito" (Jane Austen). Elaborado pela Companhia das Letras

"Estudo Comparativo das Traduções de Lúcio Cardoso e Jean Melville, da Obra Pride and Prejudice, de Jane Austen"
Texto de Francine Bendochi, Centro de Comunicação e Letras – Universidade Presbiteriana Mackenzie

"Ironia em Orgulho e Preconceito"
Texto de Fatima Ines Sonego, UNIMEP

 


home      moyarte      não-diário      contato