Em 1854, em um anúncio publicado no Correio Paulistano, os destaques do estabelecimento são os frutos do mar e a produção diária de empadas:
"HOTEL DA PROVIDENCIA
Os proprietarios deste estabelecimento avisam á seus freguezes, que têem continuadamente um sortimento de peixes, camorões e hostras. Haverá d'ora ávante, empadas todas as noites. As pessoas que quizerem para suas cazas será prudente avisarem uma hora antes."
[Correio Paulistano, Anno I, Número 8: 5 de julho de 1854]
Em 1855, uma nota assinada por "Cornelio", no Correio Paulistano de 26 de outubro [Anno II, Número 332], acusava o Hotel da Providência de aumentar abusivamente o valor do cognac:
"Olho vivo!!!
A companhia olho vivo, de seguro contra peneira nos olhos, descobriu que o congnac é um dos remedio anti-colericos, sendo tomado com moderação; porém previne-se aos Srs. accionistas, e mais pessoas que não comprem no bilhar do hotel - Providencia, pois que este, com a nova descoberta, levantou o preço do calix a 200 rs. e consta-nos que a 240 rs. Ora vendendo-se a 80 rs. o calix já dá um lucro de cem por cento, pergunta-se agora custando uma garrafa 2$000 rs. a qual dá 40 cálix (dos que lá tem) e sendo cada um caliz vendido a 200 rs., quanto se rapa aos que tem peneira nos olhos?
Eu que sou accionista e que tenho olho vivo cahi, que dirá os que não forem da companhia!
Alerta rapasiada! ... O accionista
Cornelio"
[Correio Paulistano, Anno II, Ano 332: 26 de outubro de 1855]
Através de um anúncio publicado no dia 15 de julho de 1856, fooi possível descobrir que o hotel explorava mão de obra escrava, ao procurar por um escravo "para todo o serviço do Hotel da Providencia".
Também em 1856, foi publicado um anúncio sobre as reformas feitas no estabelecimento (e, ao invés de Rua do Commercio 10, consta Rua do Commercio 13):
"HOTEL DA PROVIDENCIA
13 Rua do Commercio 13
Madame Felicia Lagarde tem a honra de participar ao publico e aos seus freguezes, que se achã terminados os concertos que mandou fazer no hotel acima, no qual encontrarão todos os dias a qualquer horas comidas do paiz do mais variado gosto e vinhos da melhor qualidade. Esperando pela modicidade dos preços grande concurrencia, ella não se poupará a exforços, afim de tornar sua cada digna das pessoas que a honrarem com a sua confiança.
No mesmo hotel ha salas particulares para familias, e quartor mobiliados á alugar. Tambem aprompta-se jantares e objectos de pastelaria para fóra a qualquer hora do dia.
Na mesma casa ha um deposito de charutos de havana que se venderá em porça e a varejo.
S.Paulo 25 de setembro de 1856"
[Correio Paulistano, Anno III, Número 457 (impresso incorretamente como 458): 27 de setembro de 1856]
No Almanak Paulistano de 1857 (com dados baseados em 1856), consta que o Café e Hotel da Providencia, era de propriedade de Madame Felicia Lagarde e estava localizado na Rua do Commercio. A descrição adicional do estabelecimento mencionava que o estabelecimento possuia bilhares e oferecia hospedagem. Um outro detalhe sobre os serviços de hospedagem é que a partir desse período (década de 1850), segundo Sandra Trabucco Valenzuela, alguns estabelecimentos passaram a não exigir carta de apresentação, entre eles estava o Hotel da Providencia (antes, sem carta de apresentação, os viajantes não conseguiam hospedagem na cidade).
Em 1858, o Hotel Providencia não estava mais relacionado entre os estabelecimentos comercias registrados no Almanak Administtrativo, Mercantil e Industrial da Provincia de S.Paulo de 1858.
[Correio Paulistano, Anno I, Número 8: 5 de julho de 1854]
[Correio Paulistano, Anno II, Ano 332: 26 de outubro de 1855]
[Correio Paulistano, Anno III, Número 457 (impresso incorretamente como 458): 27 de setembro de 1856]
Da hospedagem doméstica à pensão e ao atual hotel, a cidade de São Paulo conheceu diferentes meios de receber seus visitantes, forasteiros nem sempre vistos com bons olhos, no passado. Em 'Imagens da hotelaria na cidade de São Paulo' a evolução dos serviços de hospedagem é estudada por meio de crônicas de viajantes, cartões-postais, reportagens, fotografias, etiquetas de bagagem e anúncios, acompanhados de necessária contextualização, o que permite ao leitor conhecer não apenas o processo de instalação e desenvolvimento dessas atividades, mas também as profundas mudanças que a própria cidade sofreu ao longo de mais de quatrocentos anos...[+]
Antonio Egydio Martins foi responsável pela organização do Arquivo do Estado de São Paulo por 30 anos, ao longo dos quais percorreu a documentação em busca dos pormenores da história paulistana. São Paulo Antigo era o título das crônicas que passou a publicar nas páginas do Diário Popular e que caíram no gosto do público, dando origem ao livro, publicado em dois volumes em 1911 e 1912. O livro permaneceu como fonte privilegiada para se conhecer o cotidiano da cidade, tratando de seus personagens, das festas, dos costumes, dos hábitos alimentares, dos governantes, dos jornais, das lojas... São Paulo Antigo é como um baú da história paulistana, ao qual se recorre em busca da informação miúda, do detalhe, da data, dos tipos da cidade, dos pormenores perdidos no rolar do tempo...[+]