Na imagem escolhida (abaixo), extraída do Álbum Comparativo da cidade de São Paulo: 1862 – 1887 – 1914, publicado pela Casa Duprat, em 1914 (sem indicação de autoria), alguns elementos icônicos são passíveis de identificação: a antiga edificação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, a Igreja de São Francisco de Assis da Venerável Ordem dos Frades Menores, o logradouro Largo de São Francisco. Somando-se a esses, outros: os trilhos de bondes, o calçamento de paralelepípedos, um veículo (automóvel), o guarda de trânsito (identificado pela indumentária e pela localização dentro do contexto da imagem), as árvores (entre elas, uma espécie de palmeira), o poste de iluminação, um cavalo (pequena parte da cabeça do animal à esquerda), um escultura, algumas figuras humanas (transeuntes).
Trata-se de uma imagem com vista parcial, pois, não são apresentadas várias vias urbanas e seus entrecruzamentos, como em uma vista panorâmica, restringindo-se ao espaço do logradouro conhecido como Largo de São Francisco, onde a linearidade das árvores, similares em altura e espécie, indica o trabalho de paisagismo - área verde planejada.
O ponto de vista do fotógrafo, sua posição na tomada da cena é diagonal, de forma a captar a totalidade do conjunto edificado, composto pela antiga edificação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e as duas Igrejas, a das Chagas do Seráfico Pai São Francisco e a de São Francisco de Assis da Venerável Ordem dos Frades Menores. Somando-se a isso, a escolha do momento para a realização do registro: sem a presença do bonde, que cobriria parte da construção e do cavalo à esquerda.
A linearidade, imposta pelo projeto paisagístico, cria um arranjo rítmico, através da cadência, da repetição do elemento “árvore”. O mesmo ocorre com as janelas da instituição de ensino:
À cadência das árvores e janelas, somam-se outros vetores de direção, neste caso a fachada da edificação e o traçado da calçada, formando uma contigüidade espacial, que atravessa os planos da imagem.
A leitura ocidental da esquerda para direita, ganha reforço como o posicionamento da cabeça do animal à esquerda, como um vértice que conecta com outra linha, formada pelos trilhos de bonde.
Apesar de a fotografia datar de 1914, ou seja, século XX, seu ponto de vista tem como base as fotografias de Militão Augusto de Azevedo, realizadas na segunda metade do século XIX, período em que as tomadas diagonais, a linha do horizonte no terço superior e a ausência de atividade humana são características presentes, contribuindo para a percepção de estabilidade na imagem.
Na segunda imagem escolhida, extraída da publicação Eis São Paulo, publicada pela Monumento, em 1954, autoria de Georg Paulus Waschinski, os elementos icônicos passíveis de identificação são: o Edifício Altino Arantes e o Edifício Martinelli. Adicionando-se ao grupo, outros elementos como: tubulação, entulho, poste de iluminação, guindaste, galões, edificações, figuras humanas, placas de identificação de casas comerciais, letreiros de publicidade, pneus, texto inserido “não descansa,”.
Entre a parcial e a pontual, a vista escolhida por Waschinski não descontextualiza a imagem, pois, incorpora dois elementos identificáveis: os edifícios Altino Arantes e Martinelli, sendo possível localizar o logradouro, sem o auxílio da legenda, desde que conhecido tal repertório. No entanto, o foco principal são o entulho e a tubulaç ão, expostos no logradouro, conseqüências da demolição/construção/implantação resultantes das transformações na malha urbana na região central de São Paulo, ocorridas na década de 1950.
Duas figuras humanas estão presentes, ao lado da tubulação, porém, com base nas suas vestimentas e posições, não é possível diferenciá-los, se transeuntes ou funcionários da obra em realização. Porém, as comparações entre as dimensões da tubulação e das figuras humanas, sugerem a possibilidade de localização do fotógrafo: no interior de uma tubulação semelhante.
Nesse caso, a posição do fotógrafo, permitiu a criação de uma “moldura” circular delimitando o enquadramento da imagem, nesse caso, um ponto de vista central, com arranjo discreto, no qual o primeiro plano encobre, parcialmente, os demais elementos: os entulhos e tubulação, a continuidade do logradouro; os edifícios laterais, o guindaste e o poste de iluminação, a visão ampla das três edificações com número superior de andares.
A sobreposição acima mencionada gera o efeito de inversão de escalas, no caso, a tubulação onde se encontra o fotógrafo (moldura), parece possuir dimensão superior à da tubulação no centro da imagem, assim como essa, a de possuir a metade da dimensão do Edifício Martinelli.
O contraste “claro-escuro” está presente nos efeitos de “sol-sombra”, dentro e fora da tubulação, assim como, a similitude formal, no formato circular do objeto citado, a “moldura” criada pela posição do fotógrafo e o objeto central da imagem:
A estrutura gera tensão visual, o olhar, como em um binóculo ou monóculo, segue os formatos circulares, assim como as linhas das fachadas ad edificações tentam formar um vértice e os três arranha-ceús, transportam o olhar para o sentido vertical.
A fragmentação está presente na imagem, com a vista parcial do equipamento à direita, com o entulho encobrindo parte da figura humana, dificultando a compreensão das atividades nesse contexto (humano e do maquinário), no entanto, como já mencionado acima, há uma contextualização espacial, papel das edificações verticais, nesse caso.
Trinta anos separaram a imagem do Largo de São Francisco e a da Avenida São João. Em ambas, edificações com referências históricas (a antiga edificação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, a Igreja de São Francisco de Assis da Venerável Ordem dos Frades Menores, o Edifício Altino Arantes e o Edifício Martinelli). No entanto, na primeira imagem, a edificação é tema central e na segunda, apesar da posição, é um referencial.
A cidade de São Paulo apresentada em 1914, sugere um “produto final acabado” e a percepção de que alterações urbanas, breves ou futuras na cidade não estariam em pauta. O contrário ocorre na metrópole de 1954, em plena ebulição de transformação da malha urbana. A Academia de Direto da Casa Duprat parece ter saído de uma pintura de Benedito Calixto ou de uma aquarela de José Wasth Rodrigues, iconografias com a intenção de captar os melhores ângulo e momento. A Avenida São João com seus Edifícios Altino Arantes e Martinelli, de Waschinski, sugere um registro jornalístico, sem a preocupação do citado “embelezamento”, o registro de algo que com certeza sofrerá alterações em um curto espaço de tempo.
Passados mais de cinqüenta anos, é interessante observar e cotejar as imagens dos cartões-postais disponíveis no mercado, com as analisadas nos parágrafos anteriores. O conjunto franciscano sofreu uma grande alteração, com a construção da nova edificação destinada à Faculdade de Direito e o ponto de vista escolhido primeiramente por Militão e posteriormente para o álbum de 1914, não está presente nos cartões atuais, provavelmente, devido às mudanças na malha urbana, o enquadramento não seja mais favorável para captação do conjunto inteiro, assim como, destacá-lo como tema central, sem competir com as construções do entorno. Por outro lado, o Altino Arantes e o Martinelli, vistos da Avenida São João, continua sendo o ponto de vista dos fotógrafos responsáveis pelas iconografias dos postais à venda.
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