"- Rua do Rozario, Casa No. 12, na loge em que esteve o fallecido Saldanha, se vendem, por preços, modicos, os generos seguintes - Semente de S(?) bolinho nova, e superior em qualidade, e óra já exprimentado nesta Capital: libra a 2$000 - Rendas de Linha finissimas de differentes larguras: de 200 rs. até 2$560 rs. a vara - Franjas de algodão para Cortinados e colchas: 1 160 rs. por vara - Botõs amarellos finissimos, para Fardas, ou casaca: a 320 rs. a duzia - Panos para banca barrados a 8$000 rs. - Colchas de Damasco obra rica, a 50$000 - Dictas bordadas de oiro: a 64$000 rs. - um habito de Aviz de diamantes obra prima: a 50$000 . Verdadeiro purgante de Le-Roi no. 3: a 2$000 rs. - Um par de Pistolas canos de bronze: a 20$000 rs. - Dois ferros Cirurgicos, por 2$100 rs. dada um - Bandeginhas de Espevitadeiras: a 160 cada uma. E muitas outras fazendas, todas com a maior commodidade em preço."
[O Farol Paulistano, número 148, de 17 de setembro de 1828.]
As grandes cidades são resultantes de complexos processos históricos, econômicos, sociais e têm uma sólida base na geografia natural e humana. Uma enorme quantidade de pessoas teve participação ativa em sua formação, deixando sua marca no que foi edificado e na cultura que as caracteriza. Em cada grande cidade a combinação desses elementos é única, dada a grande diversidade de fatores em ação. Entender como se deu a interação entre esses fatores exige a identificação de cada um deles e a avaliação de sua importância, permitindo ao historiador estabelecer a sua interpretação para o nexo que os une. É esse caminho que Adriane Baldin percorreu ao escolher a importante contribuição da imigração alemã de meados do século XIX para a construção da cidade de São Paulo. Caminho percorrido com segurança, repleto de descobertas à medida que as fontes primárias iam sendo pesquisadas, e que permitiu estabelecer com clareza o papel fundamental que os engenheiros e a mão de obra com qualificação técnica de origem alemã exerceram para a constituição da infraestrutura urbana e aprimoramento das técnicas de construção da cidade que, na segunda metade do século XIX, passou por um crescimento vertiginoso. Um aspecto original da pesquisa agora editada é a identificação da presença expressiva de imigrantes alemães entre os profissionais da construção civil no período estudado, das décadas de 1850 e 1860. Consultando arquivos, pesquisando e selecionando imagens e plantas da cidade, a autora traz com este trabalho uma contribuição altamente significativa ...[+]
Da hospedagem doméstica à pensão e ao atual hotel, a cidade de São Paulo conheceu diferentes meios de receber seus visitantes, forasteiros nem sempre vistos com bons olhos, no passado. Em 'Imagens da hotelaria na cidade de São Paulo' a evolução dos serviços de hospedagem é estudada por meio de crônicas de viajantes, cartões-postais, reportagens, fotografias, etiquetas de bagagem e anúncios, acompanhados de necessária contextualização, o que permite ao leitor conhecer não apenas o processo de instalação e desenvolvimento dessas atividades, mas também...[+]
Os escritos selecionados para este livro apresentam a cidade de São Paulo no momento de transição entre a pequena vila dedicada à subsistência e a prosperidade decorrente do cultivo do café. São escritos diversos, como memórias, depoimentos, evocações, peças de teatro, que procuram reconstituir os contornos da cidade e de sua província. Os variados depoimentos oferecem um quadro da vida paulista, observada a partir de diversos ângulos e interesses, e deles emerge uma visão abrangente do cotidiano na cidade e no campo, observado por contemporâneos que o vivenciaram. A coletânea conta com textos de Aluísio de Almeida, D. Maria Paes de Barros, o Diário da Princesa Isabel, duas peças de teatro de autores paulistas, acompanhados de comentários de especialistas, e de um levantamento iconográfico de autoria do organizador...[+]
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Clicar São Paulo em meados do século XIX não era tarefa fácil. Essa cidade de barro, que mantinha e fazia conviver sinais dos novos tempos, com o perfil colonial, que insistia teimosamente em permanecer e perdurar, era tarefa de Militão; ao mesmo tempo um artista e um artesão. O fotógrafo padecia de uma espécie de “complexo de Nabuco”, uma vez que se a realidade com a qual lidava diariamente era brasileira (e pior, paulistana), a imaginação continuava europeia. Ou seja, nosso artista, como bom artista, não se afastava de seu contexto, ou do imaginário desse momento, e tentava encontrar uma imagem progredida dessa urbe ou mesmo “admirável”. No entanto, o que sua lente gravava era bastante distinto, uma vez que temporalidades variadas conviviam: a pressa desse final de século, com a morosidade do tempo das carroças e da poeira fácil; a era da miríade de invenções, com uma população pouco afeita a tanta novidade. Militão, por seu turno lidava de maneira ambivalente diante da realidade com que diariamente se deparava. Sua clientela não era tão distinta como gostaria de apostar; São Paulo escapava do modelo que então se idealizava. É essa personagem fascinante, mas em tudo contraditória, que Íris Morais Araújo persegue, tal qual detetive atento a qualquer sinal ou pista que lhe permita perscrutar o mistério ou desvendar a incógnita. Nada parece escapar ao olhar da pesquisadora, que descreve o contexto, analisa a biografia de seu objeto dileto – fotógrafo e fotografia –, descobre documentos e os submete a uma operação de cruzamento analítico. Cruzar fontes é seu ofício, e é por isso que a investigação não se contenta em se limitar à análise das fotos de Militão. Ao contrário, Íris explora com primor as cartas legadas pelo artista, assim como recupera um velho Índice; um belo e inesperado indício das redes de sociabilidade, não sem dificuldades, construídas pelo fotógrafo. Ao invés de engrossar “o coro fácil dos contentes”, ou melhor, daqueles que só identificam nas fotos de Militão sinais do progresso e de otimismo diante da evolução social e urbana experimentada em São Paulo, Íris desconfia e, fiel ao espírito da antropologia, persegue “o olhar do observado”: o brilho das lentes de seu fotógrafo. E o resultado é não só impactante como bastante contraditório: se Militão encantou-se, sim, com a possibilidade de desenhar São Paulo como uma corte futura – republicana até –; de alguma maneira estranhou a particularidade da urbanização local. Talvez por isso progresso tenha que ser pensado no plural, como causa e não resultado; começo de conversa e não conclusão do tipo “viveram felizes para sempre”...[+]
Por vezes a história descansa nas entranhas dos arquivos, públicos ou cativos, e é preciso passos leves, lentos, para que ela se desperte sem perder os sentidos, e não se atrapalhe com as datas e eventos de que está prenhe. É disso que trata essa obra - de mapas que guardam a história que se desdobra lentamente pelas páginas deste livro. E não é qualquer história, mas aquela em que muitos têm vivido, como personagens, diretores, contra- regras, executores, enfim uma massa de construtores de um destino comum, feito a muitas mãos e múltiplas nacionalidades...[+]