Em janeiro de 1875, Alexandre Planet anunciava a abertura de seu estabelecimento, na Travessa do Rosário, 10. O "bem sortido botequim", segundo anúncio publicado no Correio Paulistano, informava ao leitor seus serviços de "almoço às 9h da manhã e jantar às 3h da tarde" (os horário podem ser estranhos se comparados com os dias atuais, porém, é importante lembrar que não havia iluminação elétrica na década de 1870, o que dificultava a circulação noturna pela cidade). Além das duas refeições, o estabelecimento oferecia "café com leite, chocolate, chá" em qualquer horário do dia e da noite, além de "sala particular para pessoas que não quizerem (sic) ser vistas". No cardápio, estavam inclusas as "empadas de camarão", a partir das duas horas da tarde. No final do mês, além dos pastéis de camarão, o estabelecimento oferecia "empadas de galinha, pasteis de carne, croquetes, comida a qualquer hora do dia".
Em sua tese, Vanessa dos Santos Bodstein Vivar (2007), informa que Alexandre era francês e irmão de José (proprietário do Hotel da Europa). Através de sua pesquisa, descobrimos que o termo "mesa redonda" significava "ceia coletiva",
"Alexandre Planet tinha dois diferenciais. Um no tocante à privacidade burguesa que começava se processar, tanto nso restaurantes da França, como neste de São Paulo, 'havendo sala particular para pessoas que não quiserem ser vistas'. E o outro era o do cosmopolitismo que fazia questão de frizar, pois no estabelecimento falava-se alemão, francês e português. O que detona uma simbiose cultural no trabalho para além dos pportugueses e africanos, as nacionalidades que mais se sobressaíam em termos numéricos do período pré-imigração de massa foram a de alemães e franceses, cuja proximidade em termos de interações na vida cotidiana era patente."
[BIVAR, Vanessa dos Santos Bodstein. Vivre à St. Paul: os imigrantes franceses na São Paulo oitocentista. Tese. FFLCH - USP, 2007.]
OBSERVAÇÃO: o MOYARTE ainda não localizou a imagem do anúncio mencionado por Bivar (2007) sobre o atendimento em línguas estrangeiras (francês e alemão), mencionados pela pesquisadora.
Em fevereiro de 1875, além dos quitutes anunciados anteriormente, Alexandre Planet incluiu a oferta de "peixe de Santos" - lembrando que a ferrovia Santos-Jundiá foi inaugurada em 1867, facilitando o transporte entre a cidade de Santos e a capital paulista:
O anúncio acima também fornece uma informação interessante: a de que Alexandre Planet, proprietário do botequim era um cozinheiro conhecido na cidade. No entanto, sobre isso, BIvar (2007) discorre que
"na realidade, nenhum desses proprietários de restaurante, fosse em hotel ou não, eram experts em cozinha, nem detinham o savoir-faire, mas aventuravam-se alugando escravos mais versados na preparação de alimentos e um ou outro francês que se denominava cozinheiro, porém cujos conhecimentos deveriam ser rudimentar. Improvisar papéis, segundo a onda da influência cultural, era estratégia de sobrevivência de muitos franceses."
[BIVAR, Vanessa dos Santos Bodstein. Vivre à St. Paul: os imigrantes franceses na São Paulo oitocentista. Tese. FFLCH - USP, 2007.]
No anúncio acima, além do cardápio já mencionado em publicações anteriores, o texto informa que os pratos de Alexandre Planet não eram servidos apenas no estabelecimento, sendo possível comprar para o que nos dias de hoje, chamamos de "para viagem": "As familias que quizerem (sic) podem mandar procurar das duas horas em diante que as acharão promptas".
Em 1 de janeiro de 1876, o Botequim Paulistano anunciava seus serviços com detalhes no Correio Paulistano:
"Attenção
No Botequim paulistano, na travessa do Rosário, em frente ao telegrapho, comidas a qualquer hora do dia, haverá mesa redonda as 9 horas da manhã e as 3 horas da tarde chocolate e café: recebe-se qualquer encomenda que quizerem, por preço rasoável. Todos os domingos e dias santos haverá empadas e pastéis de camarão e outros petiscos que desejarem.
Hoje dia de Anno Bom, haverá empadas e pastéis de camarões; espera-se a concorrencia do Respeitavel Publico.
São Paulo, 1o. de janeiro de 1876."
[CORREIO PAULISTANO, n.5770, 1 Jan. 1876.]
No Diário de S.Paulo, há uma nota sobre a filha "legítima" de Alexandre Planet e Catharina Planet, chamada Mathilde, que nasceu em 29 de fevereiro de 1876 e foi batizada no dia 13 de agosto de 1876, na Sé [DIÁRIO DE S.PAULO, n.3233, 16 Set. 1876].
Em junho de 1877, Alexandre Planet publicou uma nota no Correio Paulistano, informando que vendeu o Botequim Paulistano para Francisco C. Messa (? Mesna), então localizado na Rua do Rozário, 10 e na mesma nota, avisava aos leitores que continuava como proprietário do estabelecimento de secos e molhados localizado no número 12 do mesmo logradouro.
Na Sessão Ordinária de 2 de Agosto de 1877, da Cãmara Municipal de São Paulo, leu-se o seguinte ofício:
"Do Engenheiro Fernando de Albuquerque de 30 de Junnho findo, dando informações sobre o predio em construcção na Travessa do Rozario, que foi por elle examinado e que pertence a Alexandre Planet - Ao mesmo Engenheiro para informar sobre o laudo do perito por parte de Alexandre Planet."
[ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO: Sessão Ordinária de 2 de Agosto de 1877.]
E na Sessão Ordinária de 10 de Agosto de 1877:
"Do engenheiro Fernando de Albuquerque; de 8 do corrente, dando as informações pedidas em officio de 3 do mesmo acerca do predio em construcção na Travessra do Rozario pertencente a Alexandre Planét. - O Fiscal intime ao proprietario que sobre as bases propostas pelo Engenheiro da Camara modifique a obra começada."
[ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO: Sessão Ordinária de 10 de Agosto de 1877.]
Com base no anúncio publicado em junho de 1877, a construção mencionada na sessão ordinária, provavelmente, estava relacionada com o estabelecimento de secos e molhados e não mais com o Botequim Paulistano. E no "Indicador de São Paulo: Administrativo, Judicial, Industrial, Profissional e Comercial (SP) - 1878", está registrado na lista de "Lojas de molhados e generos do paiz": Alexandre Planet, Travessa do Rosário, 12.
Em 1878, no obituário publicado no Correio Paulistano, há informação que no dia 23 de dezembro foi sepultada "Regenia, preta, 18 mezes, filha de Alexandre Planet", que faleceu de "catarro suffocante". É interessante observar que anteriormente, foi mencionada a filha Mathilde (1876), descrita no texto como "legítima", termo incluido no texto sobre o batizado, juntamente com o nome da mãe - Catharina -, nesse, Regenia é descrita como "preta". Não há detalhes sobre nas notas sobre a mãe da criança, porém, em 1876/1878, ainda existiam escravos, uma vez que a Lei Áurea foi assinada em 1888, então, a menção no jornal da cor da pele da criança que faleceu pode ser indicação de uma filha ilegítima, com uma amante ou escrava, ou, até mesmo, uma filha adotiva, porém, tais possibilidades são meras suposições [CORREIO PAULISTANO, n.6632, 27 Dez. 1878].
Em 1879, há informação sobre a venda do "Botequim Paulistano", porém, o endereço mencionado é Rua do Carmo, 66. Apesar do nome do estabelecimento ser o mesmo, não há detalhes que possam confirmar que o estabelecimento mencionado é o mesmo da Travessa do Rosário, que pertenceu a Alexandre Planet. O texto do anúncio menciona o motivo da venda: o proprietário irá para Europa para tratar da saúde - como também não menciona o nome, não é possível confirmar que se trata de Francisco C. Messsa (? Mesna).
Em 1879, há um anúncio do "Botequim Paulistano", porém na Penha, talvez, Francisco Lopes Sertan tenha comprado o botequim de Francisco C. Messa (? Mesna). Mas, como o Botequim Paulsitano da Rua do Carmo, não é possível afirmar que este era o antigo estabelecimento de Alexandre Planet ou apenas um novo estabelecimento com o mesmo nome:
Em 1893, uma nota no Correio Paulistano, informa que no dia 1 de junho de 1893, casaram-se na Igreja da Consolação Benedicto Garcia e Mathilde Catharina Planet - provavelmente, a filha de Alexandre Planet e Catharina Planet.
YAMAGAWA, Mônica. XXX - História do Comércio do Centro de São Paulo. Moyarte. Disponível em: <http://www.moyarte.com.br/centro-de-sao-paulo/historia-do-comercio /indice-historia-comercio.html>. Acesso em: 24 Out. 1973. [Em "Acesso em", indicar a data de consulta, data de acesso ao site].
ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO: Sessão Ordinária de 2 de Agosto de 1877.
ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO: Sessão Ordinária de 10 de Agosto de 1877.
BIVAR, Vanessa dos Santos Bodstein. Vivre à St. Paul: os imigrantes franceses na São Paulo oitocentista. Tese. FFLCH - USP, 2007.
CORREIO PAULISTANO, n.5484, 1 Jan. 1875.
CORREIO PAULISTANO, n.5507, 31 Jan. 1875.
CORREIO PAULISTANO, n.5516, 14 Fev. 1875.
CORREIO PAULISTANO, n.5549, 25 Mar. 1875.
CORREIO PAULISTANO, n.5636, 18 Jul. 1875.
CORREIO PAULISTANO, n.5765, 25 Dez. 1875.
CORREIO PAULISTANO, n.5770, 1 Jan. 1876.
CORREIO PAULISTANO, n.6122, 9 Mar. 1877.
CORREIO PAULISTANO, n.6175, 5 Jun. 1877.
CORREIO PAULISTANO, n.6632, 27 Dez. 1878.
DIÁRIO DE S.PAULO, n.3233, 16 Set. 1876.
INDICADOR DE SÃO PAULO: ADMINISTRATIVO, JUDICIAL, INDUSTRIAL, PROFISSIONAL E COMERCIAL (sp) - 1878.
JORNAL DA TARDE, n.288, 20 Ago. 1879.
JORNAL DA TARDE, n.297, 30 Ago. 1879.
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