No século XIX, essa edificação, localizada na Rua Quinze de Novembro 250 / 256, no centro da cidade de São Paulo, abrigou a “famosa” Casa Garraux.
Anatole Louis Garraux nasceu em 1833, em Paris; em 1850, veio para o Brasil e trabalhou na Livraria Garnier, no Rio de Janeiro. Mudou-se para São Paulo em 1858. Segundo o “Dicionário de História de São Paulo”, de Antonio Barreto do Amaral, estabeleceu seu primeiro estabelecimento na Rua do Rosário: a Livraria Acadêmica e três anos depois, em sociedade com “Lailhacau” (sic), abriu a “Casa Garraux”. [AMARAL: 2006, p.287.]
Porém, tal informação não está completa, segundo as memórias de Almeida, antes de abrir seu estabelecimento, Garraux, apresentando-se como agente de Garnier, abriu seu balcão de vendas ao lado do Pândega - um livreiro popular entre os bacharéis de Direito; posteriormente, em 1863, tendo como sócios Guelfe de Lailhacar e Raphael Suarèz, abriu a Livraria Acadêmica, no Largo da Sé, próximo a Rua da Imperatriz, que, depois, ficou conhecida como “Casa Garraux”:
“Ao lado da livraria do Pândega, ou mesmo numa seção dela, e à sua sombra, viu-se instalar, nos fins de 1859, um pequeno balcão, além do qual a figura simpática e sorridente de um homem loiro, com grandes bigodes, dotado de amabilidade características dos franceses, oferecia, à venda, papéis para cartas, penas, lápis e mais objetos de escritório, além de exemplares avulsos da Illustration e do Monde Illustré.
Essa modesta quitanda, dirigida por Mr. Anatole Garraux, era o ovo de onde tinha de sair a grande e suntuosa Casa Garraux.”
[NOGUEIRA, Almeida. A academia de São Paulo: tradições e reminiscências. 2ª. Edição. Edição comemorativa do sesquicentenário dos cursos jurídicos no Brasil, 1827 – 1977. Volume V. São Paulo: Saraiva / Secretaria da Cultura. Ciências e Tecnologia do Estado de São Paulo, 1977.]
Segundo Almeida Nogueira, foi Garraux quem apresentou o “envelope” para os paulistanos, pois,
“até então, escreviam-se as cartas em folha dupla de papel, papel de peso, como se dizia, e a segunda folha era dobrada de modo a capear a correspondência e pregada com pequenas obréias de cor em forma de hóstias minúsculas. O envoltório, já preparado e gomado, qual hoje conhecemos, veio assinalar um progresso.”
[NOGUEIRA, Almeida. A academia de São Paulo: tradições e reminiscências. 2ª. Edição. Edição comemorativa do sesquicentenário dos cursos jurídicos no Brasil, 1827 – 1977. Volume V. São Paulo: Saraiva / Secretaria da Cultura. Ciências e Tecnologia do Estado de São Paulo, 1977.]
Na década de 1860, quando abriu o estabelecimento que levava o seu nome, a cidade de São Paulo encontrava-se em um momento de transição: carros de bois, ferraria e hospedagem que serviam ao comércio de tropeiros conviviam com novos estabelecimentos, mais refinados, mais cosmopolitas, como a Casa Garraux que, nas décadas seguintes, além de livros, forneceria variados artigos de luxo para os moradores (e visitantes) da capital paulistana [BARBUY: 2006, p.27.]:
“... a Casa Garraux, vasta Babel, livraria em nome, mas verdadeiramente bazar de luxo, onde se encontra tudo, desde o livro raro até a pasta de açofeifa, passando pelo Clicquot legítimo e pelos cofres à prova de fogo.” – descreve, em carta, a personagem Lenita, para Barbosa, na obra “A Carne”, de Júlio Ribeiro.
[RIBEIRO, Júlio. A Carne. Série Bom Livro. São Paulo: Editora Ática, 1997, p.137-138.]
O imigrante francês, atuou como comissário e exportador de toda sorte de artigos de luxo franceses para o Brasil, mas, era conhecido em São Paulo, pela alcunha de o “livreiro Garraux” e, apesar dos livros ocuparem uma pequena parte de seus negócios, isso
“não quer isso dizer que o comércio de livros fosse de menos importância. Do ponto de vista mercadológico, Garraux se beneficiou do excedente produzido na França, portanto, da queda do preço dos livros e da demanda – do aumento da demanda, vale dizer – deste produto no mercado brasileiro. Tanto é verdade que, malgrado toda a diversidade de seu estabelecimento comercial, Garraux era conhecido como livreiro, como o maior livreiro da cidade. Do ponto de vista qualitativo, os catálogos da Casa Garraux ratificam o diferencial de sua empresa e a importância que ele atribuía aos livros no rol de suas mercadorias. Afinal, como podemos apreender em seu testamento, estamos a tratar de um negociante culto, de um bom burguês.”
[DAECTO, Marisa Midori. Anatole Louis Garraux e o comércio da livraria francesa em São Paulo (1860-1890). V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Uerj, 5 a 9 Set. 2005. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0168-1.pdf>. Acesso em: 16 Dez. 2020.]
Em 1882, Firmo de Albuquerque Diniz, um dos bacharéis formado pela Academia de Direito de São Paulo, retorna a cidade e sob o pseudônimo de Június, publica “Notas de Viagem”, com detalhes sobre o seu passeio pela Paulicéia e, destaca a importância da Garraux:
“Retirando-nos do Café Americano guiamos nossos passos para a Casa Garraux.
Aí paramos a uma de suas portas, continuando a conversar e a ver seus transeuntes.
A Casa Garraux é um dos mais importantes estabelecimentos comerciais da cidade pela variedade e fina qualidade dos objetos expostos à venda: muitos destes de delicado gosto vêem-se nas suas lindas vitrinas. Ela apresenta à escolha dos consumidores grande sortimento de artigos para desenho; bengalas; binóculos; bolsas (indispensáveis para as senhoras); caixas para jóias, para costura; espelhos, quadros; jarras de cristal, de porcelana, jardineiras e infinita quantidade de muitos ornamentos de sala: globos celestes, terrestres, mapas geográficos; tinteiros, sinetes, penas de ouro, e de madrepérola; vistas fotográficas, opacas e transparentes; instrumentos para serviços de engenharia; vinhos superiores, charutos, fogos de salão, e muitos outros objetos.
O que porém recomenda especialmente essa casa é a sua notável livraria: nem na Corte há outra igual.
O Dr. Z.... disse-me a primeira vez que ali estivemos, logo depois de minha chegada à capital, que as novidades literárias ali chegavam primeiro que à Corte, e que muitas obras interessantes têm sido aqui compradas por pessoas, que as procurando na capital não as encontram.
Como prova de suas confirmações citou dois fatos, e são estes:
Estando de passeio nesta cidade o Conselheiro S., advogado na Corte, ao comprar da Casa Garraux um livro novo de Direito disse que lá o tinha procurado em todas as livrarias, e não o achara.
Mais curioso porém é o outro fato: o Dr. Z... tinha lido na Gazeta de Notícias um estirado artigo de crítica, traduzido de um literato francês, sobre o poema de Victor Hugo – “La Pieté Supremé”: ao terminá-lo dizia a Gazeta que a obra estava no prelo, e dentro de dois meses haveria no Rio de Janeiro. Na noite imediata à leitura, apresentando-se Dr. Z... à Casa Garraux para comprar um livro, o simpático e afável cidadão francês Michel, antigo empregado do estabelecimento, ofereceu o poema. O Dr. Z... comprou então um exemplar por dois mil réis, muito admirado de encontrá-lo aqui, quando na Corte só era esperado dentro de dois meses mais ou menos.
Não se falta à verdade dizendo-se que na livraria Garraux encontram-se livros acerca de todos os assuntos, e nas línguas as mais generalizadas, ou mais faladas.
Também assinam-se jornais dos mais civilizados países do mundo.
Esta livraria, disse-me o Dr. Z..., quando nos retirávamos, tem exercido benéfica influência na vida dos paulistas: pode-se mesmo afirmar que em grande parte a ela se deve a divulgação dos elementos de ilustração pública.
- Creio que a podes denominar – importante agência de civilização; está a perder de vista da antiga livraria do Pândega, disse o Jornalista, dirigindo-se ao Dr.Z...
- Ora que dúvida: o Pândega só tinha livros de Direito, e estes de Jurisconsultos e Praxistas de Portugal; alguns romances, e poesias da mesma procedência, ou ali traduzidos e publicados: além disto nada mais se encontrava, nem mesmo um compêndio em francês para qualquer ano da Academia.
- Bem me lembro disso: uma vez procurei um Ahreus para o meu primeiro ano e não o encontrei: substituía-o, quando ia à aula, por qualquer volume, que na ocasião eu lia, dos Três Mosqueteiros ou de qualquer outro romance: era o livro, com que me apresentava à aula de Direito Natural e ao qual eu dava os foros de compêndio.
Já vês, portanto, que a querer-se comparar a antiga livraria do Pândega com a Garraux teremos de concluir desfavoravelmente; a comparação será para declarar-se a notabilíssima inferioridade daquela casa.
- De inteiro acordo.
- Acresce ainda que o Pândega era de um espírito inculto; nada lia, nem sabia quais as novidades a fazer barulho no Velho Mundo; creio que ele supunha que a Europa se limitava a Portugal. Não acontece o mesmo à Casa Garraux; o chefe dela lá está em Paris; quando pelos jornais tem conhecimento de publicações interessantes, novas, ou de que mais se fala, em qualquer ramo de ciências, artes, literatura, não se descuida de fazer remessas para aqui. O Michel, inteligente, ativo, e dado a leitura, é solícito em indicar aos fregueses as novidades recebidas, dizer duas palavras a respeito, e delicadamente despertar neles a curiosidade de lerem o livro.
O certo é que em uma livraria, como aquela, quem entra ou espontaneamente lança os olhos para as obras, que tratam de assuntos, que lhe parecem interessantes, ou provocados pelas informações do Michel quer conhecer as que ele recomenda como muito aplaudidas na França: em todo o caso não se sai sem comprar um livro novo: feita a leitura, conversa-se com os amigos e conhecidos, dá-se opinião, discute-se, e assim vai-se também alargando o círculo dos curiosos, e dentro de pouco tempo os livros e os assuntos ficam na ordem do dia; tornam-se da moda. O resultado é que estende-se o número dos leitores; vulgariza-se o conhecimento das novidades, as ideias circulam, aceitas por uns,combatidas por outros, e assim discutidas concorrem para a ilustração pública.
- Tens razão, disse o Jornalista; as tuas observações são concludentes e justíssimas, e em vista delas proclamo a Casa Garraux uma das primeiras, das mais úteis instituições desta capital, e se algum dia eu for a Paris, e Gambetta for influência política hei de pedir seja conferido o grau de cavalheiro da Legião de Honra ao cidadão Michel, um dos mais dedicados vulgarizados dos bons livros, e um grande agente da civilização.
- Mas para que vais procurar tão longe a distinção ao Michel?
Vê se a obténs cá no nosso país, ou mesmo nesta província.
- Pois nesse caso, e como todos aqui julgam-se com direito de falar em nome da província de S. Paulo, eu também usando da mesma faculdade, por parte desta terra, que me viu nascer, rendo os mais sinceros agradecimentos ao prestimoso cidadão: pelo que me diz respeito, tomo o solene compromisso de ser freguês da Casa Garraux, enquanto ele ali estiver.
Depois desta expansão de entusiasmo do jornalista perguntei ao Dr. Z... se havia outras livrarias.
- Respondeu-me que sim, e mencionou a Livraria Paulista, a Empresa Literária e a Livraria Dolivaes, assegurando-me que esta também recebe novidades, porque é a agência aqui da importante Empresa Faro e Lino e da Livraria Internacional do Carrilho Videira, de Lisboa.
Também referiu-me que a casa Dolivaes, como a Garraux, além de livros tem à venda excelentes charutos, ricos álbuns, e tantos outros artigos, não se esquecendo de dizer que Dolivaes vende livros vindos de Portugal por preço muito mais barato que a casa Garraux.”
[DINIZ, Firmo de Albuquerque. Notas de viagem. Coleção Paulística: Volume V. São Paulo: Governo do Estado, 1978, p.85-88.]
Os vários parágrafos de Diniz, dedicados a Garraux, reforça o prestígio do livreiro e comerciante. A força da “marca Garraux”, sobreviveu vários anos, mesmo após a sua partida, o seu retorno para França, em 1884, nesse ano, o estabelecimento, provavelmente, já era administrado por Alexandre Thioller, pois, em novembro, a cidade recebeu a visita da família real e na obra organizada por Carlos Eugênio Marcondes de Moura, “Vida cotidiana em São Paulo no século XIX”, não é menciona a presença de Anatole Louis Garraux (mas, de seu genro, Willy Fisher, casado com sua filha Amélie Henriette Aspasie) [DAECTO: 2005]:
“Recebidos pelos srs. Willy Fisher e Alexandre Thioller, foi-lhes oferecido: um volume ricamente encadernado de Rosas Loucas, da lavra de Carlos Ferreira, poeta rio-grandense do sul e articulista na Gazeta de Campinas, e um catálogo do estabelecimento, encadernado em veludo, tendo estampados os escudos d’armas das Casas de Bragança e de Orléans.”
[MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (organizador). Vida cotidiana em São Paulo no século XIX. São Paulo: Ateliê Editorial / Editora Unesp / Imprensa Oficial / Secretaria de Estado de Cultura, 1998, p 251.]
A Princesa Isabel, em seu diário, também registrou um comentário pessoal, sobre sua visita à Casa Garraux:
“Visita à Casa Garraux, com Pedro e Luís, cheia de tentações para grandes e pequenos” – 23 de novembro de 1884.
[MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (organizador). Vida cotidiana em São Paulo no século XIX. São Paulo: Ateliê Editorial / Editora Unesp / Imprensa Oficial / Secretaria de Estado de Cultura, 1998, p 243.]
Segundo a pesquisadora Marisa Midori Deaecto, tais palavras reforçam a importância do estabelecimento no setor de artigos de luxo, pois, tal comentário,
“seria muito provavelmente uma alusão aos livros, em se tratando de uma nobre cultivada, mas também ao vasto mundo de artigos finos que o livreiro dispunha em sua loja. Eram as francesias, enfim, que dominavam o imaginário das gentes. Tais como papéis finos, envelopes, vinhos, charutos – os famosos charutos de Havana anunciados nos jornais – entre incontáveis produtos que se confundiam com os livros.”
[DAECTO, Marisa Midori. Anatole Louis Garraux e o comércio da livraria francesa em São Paulo (1860-1890). V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Uerj, 5 a 9 Set. 2005. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0168-1.pdf>. Acesso em: 16 Dez. 2020.]
Sobre a edificação, até 1896, a edificação original era composta de um pavimento térreo e um andar superior; Alexandre Thiollier, que mantinha residência no pavimento superior, solicitou para Julio Michele a construção de um segundo andar residencial. De acordo com o projeto apresentado, hoje, parte do acervo do Arquivo Histórico Washington Luís,
“uma sala de jantar ao centro comunicava-se com uma área coberta possível e provavelmente por clarabóia- talvez, uma jard im de inverno -, que dava por sua vez, para um amplíssimo terraço.”
[BARBUY, Heloisa. A Cidade-Exposição: comércio e cosmopolitismo em São Paulo, 1860 – 1914. São Paulo: Edusp, 2006.]
Sobre o seu pavimento térreo, em seu livro “A Casa do Barão de Iguape”, Pedro Luís Pereira de Souza, descreveu o estabelecimento como
“um prédio com fachada de mármore, bonita e vistosa, ocupando uma grande loja com larga porta central e duas grandes vitrinas laterais. (...) Lembro-me que as suas grandes vitrinas eram sempre procuradas para exposições. (...) Qualquer objeto exposto produzia grande atração do público, e conforme fossem os objetos a imprensa da cidade fazia grande reclame.”[13]
[CAVALCANTI, Pedro, DELION, Luciana. São Paulo, a juventude do centro. São Paulo: Conex, 2004.]
As vitrines não eram uma exclusividade da Casa Garraux, com o desenvolvimento industrial e o aumento da produção de bens de consumo, São Paulo, como qualquer outra grande cidade da época, começava a refletir, em seu espaço urbano, o triângulo do sistema capitalista: “produção – propaganda – consumo”. As vitrinas serviam de moldura publicitária, não apenas como expositor dos produtos à venda, mas, também, como exposição da vida moderna, a expressão “moda” começa a ganhar espaço na sociedade e nas formas de consumo. O termo “exposição”, dentro e nas proximidades da Casa Garraux, não se limita aos produtos, mas, também aos seus frequentadores, além das publicações, disponibilizava aos interessados vinhos alemães, champanhe francês, chocolates, bengalas, binóculos, bolsas, quadros, espelhos, também servia de ponto de encontro, “para apreciar as belezas femininas que iam às compras” e “também as que não iam às compras”, segundo as memórias de Jorge Americano, que explica o “procedimento”:
“O que chegava primeiro olhava as vitrinas, comprava o Diário Popular e começava a lê-lo, à espera do bonde. Passavam de todas as linhas, menos o dele. Afinal passava, justamente na hora em que estava distraído a ler notícias interessantes no jornal. E assim decorriam duas horas. Os que chegavam depois praticavam idêntica manobra. Cumprimentavam-se e até se aventuravam a comentários sobre uma criatura que passasse. Mas não faziam liga e, sempre que possível, nenhum deixava de referir-se aos outros, sem ironia. A leitura do jornal era interrompida por uma série de incidentes que coincidiam com a passagem de seres do ‘belo sexo’. Se por acaso (não era raro) um cavalheiro era atingido por um olhar, luziam-lhe os olhos e passava a mão pelo bigode, no gozo de seu triunfo, olhando de soslaio para os outros. (...) Os ‘pince-nez’ eram retirados e desanuviados pelos lenços, e recolocados nos narizes, para a próxima observação.”
[AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo: 1895 – 1915. 2ª. Edição. São Paulo: Carrenho Editorial / Narrativa Um / Carbono 14, 2004.]
Livraria, lojas de artigos de luxo, ponto de encontro, como mencionado anteriormente, o estabelecimento manteve o nome “Garraux”, por cerca de 70 anos, mesmo com outros proprietários: “Layahcarre” (provavelmente, Guelfe de Lailhacar – seu amigo e quem nomeou, em seu testamento, “tutor da sucessão dos bens declarados”), Alexandre Thioller, Hildebrandt e Bressane, antes do seu fechamento, na década de 1930. O sucesso da casa não se deveu apenas ao nome de seu fundador, mas, por vários fatores sócio-econômicos da época [DAECTO: 2005 e MOURA: 1998, p.232]:
"1870 a 1914, as oportunidades são amplas e variadas para investidores e especuladores. A belle époque não significou apenas um dos mais férteis períodos de criação artística – literária e pictórica – no longo século XIX, mas também uma época de oportunidades neste imenso sistema mundo que elevou as atividades de comércio – a troca de mercadorias, é certo, mas também a troca de idéias – a escalas até então desconhecidas (...) o volume de exportações de livros franceses apresenta aumento contínuo e regular no período de 1815 a 1913, com altas acentuadas nos anos de 1880, 1887 e 1890, quando se verifica o crash da produção editorial francesa, ao que se segue uma fase de recuo das exportações. Mesmo na fase anterior, que o autor reputa como a menos significativa, nos anos de 1860-70, os índices estão sempre acima da média, em torno de 55 pontos. Índice alto, que merece algumas ponderações quando comparado com o período posterior: a população mundial ainda não assistira às taxas de crescimento verificadas nas últimas duas décadas do século XIX e, por sua vez, o comércio e os meios de transportes também não haviam atingido as potencialidades observadas na época do crash produtivo. Ora, a Casa Garraux se insere nesta curva ascendente do comércio internacional de livros franceses”
[DAECTO, Marisa Midori. Anatole Louis Garraux e o comércio da livraria francesa em São Paulo (1860-1890). V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Uerj, 5 a 9 Set. 2005. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0168-1.pdf>. Acesso em: 16 Dez. 2020.]
Pouco se sabe sobre a situação econômica antes da mudança para o Brasil, porém, com base nos dados de seu testamento, na época de sua morte, em 1904, seus bens equivaliam cerca de um milhão de francos franceses; em 2000 esses valores equivaliam a três milhões de euros, situando Garraux, na faixa dos 4% de franceses que deixaram os maiores legados no seu tempo! [DAECTO: 2005]
AMARAL, Antonio Barreto do. Dicionário de história de São Paulo. Coleção Paulística. Volume XIX. São Paulo: Imesp, 2006.
AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo: 1895 – 1915. 2ª. Edição. São Paulo: Carrenho Editorial / Narrativa Um / Carbono 14, 2004.
BARBUY, Heloisa. A Cidade-Exposição: comércio e cosmopolitismo em São Paulo, 1860 – 1914. São Paulo: Edusp, 2006.
CAVALCANTI, Pedro, DELION, Luciana. São Paulo, a juventude do centro. São Paulo: Conex, 2004.
DAECTO, Marisa Midori. Anatole Louis Garraux e o comércio da livraria francesa em São Paulo (1860-1890). V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Uerj, 5 a 9 Set. 2005. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0168-1.pdf>. Acesso em: 16 Dez. 2020.
DINIZ, Firmo de Albuquerque. Notas de viagem. Coleção Paulística: Volume V. São Paulo: Governo do Estado, 1978, p.85-88.
MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (organizador). Vida cotidiana em São Paulo no século XIX. São Paulo: Ateliê Editorial / Editora Unesp / Imprensa Oficial / Secretaria de Estado de Cultura, 1998, p 251.
NOGUEIRA, Almeida. A academia de São Paulo: tradições e reminiscências. 2ª. Edição. Edição comemorativa do sesquicentenário dos cursos jurídicos no Brasil, 1827 – 1977. Volume V. São Paulo: Saraiva / Secretaria da Cultura. Ciências e Tecnologia do Estado de São Paulo, 1977.
RIBEIRO, Júlio. A Carne. Série Bom Livro. São Paulo: Editora Ática, 1997, p.137-138.
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