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Centro de São Paulo

Cemitério e Capela de

Nossa Senhora dos Aflitos

rua dos aflitos, 70

dicionário online sobre o centro de são paulo

atualizado em: 25 de dezembro de 2020

 

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Capela dos Aflitos em 1939.
FONTE DA IMAGEM: BENS CULTURAIS ARQUITETÔNICOS NO MUNICÍPIO E NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. São Paulo: SNM – Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos, EMPLASA – Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S/A e SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento, 1984.

 

 

o cemitério dos aflitos

A história do Cemitério dos Aflitos está associada a história da Santa Casa de Misericórida. A fundação do cemitério, inicialmente conhecido como "Cemitério da Rua do Arcipreste" - Afonso Schmidt (2003, p. 170), em suas memórias registrou que era denominado "Cemitério Geral e também chamado de "Cemitério dos Aflitos" - , foi "oficialmente" sagrada em 27 de junho de 1779 (há menções de enterramentos no local, datadas de 1775), foi uma iniciativa de Dom Frei Manuel da Ressurreição, então Bispo de São Paulo, ao assumir o cargo de provedor dessa irmandade:

"Com o cemitério, estaria a Mitra criando um local apropriado para que a Santa casa continuasse a proceder aos sepultamentos das classes desfavorecidas, então sob sua responsabilidade, e acerca do qual não estava a irmandade em condições de tomar providências, dada sua difícil situação financeira.

Destinava-se ele, portanto, a receber os corpos das pessoas pobres e escravos, além dos despojos de todos os soldados, conforme afirmação de Castro Mendonça feita em 1802, datando, porém, a primeira menção a enterramento naquele cemitério de outubro de 1775. Em 1811, entretanto, o físico-mor Dr. João Alvares Fragoso retificava a informação do ex-governador, assegurando que dos doentes falecidos no Hospital Militar, só os civis, para lá encaminhados pela Santa Casa, eram inumados no cemitério; aos soldados estava reservada a igreja da Misericórdia."

[BENS CULTURAIS ARQUITETÔNICOS NO MUNICÍPIO E NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. São Paulo: SNM – Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos, EMPLASA – Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S/A e SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento, 1984, p.167-168.]

 

Porto (1996, p. 88), menciona que este cemitério ficava na Rua da Glória, com frente para o largo de mesmo nome (segundo o autor, atualmente, essa região seria a atual Praça Almeida Júnior). Assunção (2004, p. 147) confirma em suas pesquisas que o cemitério ficava entre as atuais Rua dos Estudantes, Rua da Glória, Rua Galvão Bueno e Praça Almeida Júnior.

"O cemitério confinava à esquerda com a rua dos Estudantes, pelos fundos com a atual rua Galvão Bueno e à direita com terrenos particulares."

[PORTO, Antônio Rodrigues. História da cidade de São Paulo através de suas ruas. 2ª. Edição. São Paulo: Carthago, 1996, p. 88.]

 

Na época da origem do cemitério, a forca estava arruinada, o que talvez explique a ausência de dados sobre os supliciados, porém, a Santa Casa era a responsável pelos corpos dos setenciados e como o cemitério ficava próximo ao local onde ficava a forca, é provável que os condenados tenham sido sepultados no Cemitério dos Aflitos.

Francisco José das Chagas, popularmente conhecidos como Chaguinhas, foi um dos condenados em 1821 e sepultado no Cemitério dos Aflitos. Ele foi um dos responsáveis pelo Motim de Santos, quando na noite de 28 para 29 de junho de 1821, pela falta, por longo período, do pagamento de soldo, encontrando-se "a maioria das praças andrajosas e famintas", segundo Antonio Barreto do Amaral (2006). Os integrantes dp 1o. Batalhão de Caçadores revoltaram-se, arrombaram a cadeia e casa do trem bélico e com as armas obtidas nessas instituições, "prenderam ou initimidaram autoridades, invadiram lares, saquearam e impuseram resgate". No dia 2 de julho, partiram da capital o 2o. Batalhão de Caçadores, chegando de surpresa em Santos no dia 6 de julho, com ordens de prisão para os amotinados. Foram condenados os responsáveis pelos motim e os oficiais que no momento do levante abandoram a unidade: os sete responsáveis pelo motim foram condenados à morte, outros vinte foram enviados para África (pérpétuo degredo) e os demais receberam penas menores. Dos sete condenados à morte, cinco foram executados em Santos e dois, Francisco José das Chagas e Joaquim José Cotindiba, por serem naturais de São Paulo, foram enviados para a forca da capital.

Os condenados partiram de Santos no dia 15 de setembro de 1821 e no dia 17 foram colocados à disposição do juiz relator para que fosse concluída a sentença, o que ocorreu no dia 20.

A execução da sentença de morte de Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, comoveu a população:

"Um fato macabro então aconteceu, enchendo de espanto e ao mesmo tempo de piedade o povo que assistia ao tétrico espetáculo: partiu-se a corda de barbante que suspendia o cabo José das Chagas. mandado fosse substituída pelo laço de couro, trazido de um açougue próximo, este não suportou o peso do condenado, sendo preciso que lançassem mão de um novo laço de couro para que a sentença fosse cumprida."

[AMARAL, Antonio Barreto do. Dicionário de história de São Paulo. Coleção Paulística. Volume XIX. São Paulo: Imesp, 2006, p.189.]

 

Anos depois, na sessão da Câmara de 22 de maio de 1835, Padre Diogo Antônio Feijó, relembrou o acontecimento:

"Senhor Presidente, o que eu entendo por atrocidade é, por exemplo, isto: mandar enforcar um homem, tendo ainda recurso legal contra sentença. Senhor Presidente, eu o vi com meus próprios olhos, na minha província. Era o primeiro espetáculo destes; a curiosidade chamou-me àquele lugar. O desgraçado pendurado, caiu por haver se cortado a corda. Recorreu-se ao Governo da Província, pedindo que se demorasse a execução, enquanto se implorava a clemência ao príncipe regente; não foram atendidos; alegou-se não haver corda própria para enforcar; mandou que se usasse laço de couro. Foi-se ao açougue, levou-se o laço; o infeliz foi de novo pendurado, mas o instrumento não era capaz de sufocar com presteza. Partiu-se de novo a corda e o miserável caiu ainda semivivo; já em terra foi acabado de assassinar."

[AMARAL, Antonio Barreto do. Dicionário de história de São Paulo. Coleção Paulística. Volume XIX. São Paulo: Imesp, 2006, p.189-190.]

 

O cemitério estava localizado na época, no que era considerado o limite sul da cidade: entre o Caminho de Carro para Santo Amaro e o Caminho do Mar. Atualmente, seria a área entre as Ruas Galvão Bueno, Dos Estudantes e Da Glória.

Anos depois, em suas proximidades fora erguido, em julho de 1825, na Chácara dos Ingleses, o Hospital de Caridade da Santa Casa (posteriormente transferido para Rua da Glória e em 1884, para o atual endereço, na Rua Doutor Cesário Motta Júnior).

Com a construção do Cemitério Municipal (Cemitério da Consolação), apesar dos protestos da população, o Cemitério dos Aflitos foi impedido de funcionar, pois, a partir de 15 de agosto de 1858, foram proibidos sepultamentos em outros lugares que não o novo Cemitério da Consolação (Cemitério Municipal).

De acordo com Arroyo e Danon (1971, p. 24), com a proibição de sepultamentos no local, em 1886, os terrenos ao redor da Capela dos Aflitos foram loteados, mantendo-se apenas o núcleo, o templo religioso. De acordo com Porto (1996, p. 88), a venda dos lotes tinha como objetivo a obtenção de recursos para a construção da Catedral da Sé.

 

 

iphan cadastra o sítio arqueológico do

cemitério dos aflitos

No dia 13 de fevereiro de 2020, o Sítio Arqueológico do Cemitério dos Aflitos foi incluído na plataforma de informação e gestão do Patrimônio Cultural, gerenciada por meio do SICG - Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão, cadastrado pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

"O sítio, descoberto durante pesquisa arqueológica realizada em um terreno da Rua dos Aflitos, integra a área envoltória da Capela dos Aflitos, tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Durante atividades realizadas na região, pesquisas revelaram que a área do cemitério - fundado no Distrito da Glória, antigo Distrito Sul da Sé, em 1775, e destinado à população pobre que vivia na região - era habitada por grupos sociais excluídos do processo de desenvolvimento da cidade, antes da modernização.

No local, foram encontradas ossadas de nove indivíduos, localizadas em um estrato mais profundo do terreno onde, segundo apontam os estudos, foram sepultadas pessoas executadas, indígenas e escravos. O estudo identificou ainda materiais (botões) diretamente associados a dois indivíduos, como parte da indumentária de um indivíduo e quatro contas de vidro azul junto ao pescoço de outro."

[SÍTIO ARQUEOLÓGICO CEMITÉRIO DOS AFLITOS, NA LIBERDADE (SP), É CADASTRADO PELO IPHAN. Revista Museu - cultura levada a sério, 2 Mar. 2020. Disponível em: <https://www.revistamuseu.com.br/site/br/noticias/nacionais/8039-02-03-2020-sitio-arqueologico-cemiterio-dos-aflitos-na-liberdade-sp-e-cadastrado-pelo-iphan.html>. Acesso em: 25 Dez. 2020.]

 

Os contos de vidro azul, de acordo com a pesquisadora Leila Maria França, do IPHAN, estão relacionados com o culto de Ogum, uma prática religiosa de povos da Guiné, Nação Cabinda ou Benguela. A maioria das ossadas encontradas eram de adultos, dois deles do sexso feminino. De acordo com a análise da arcada dentária, verificou-se que a saúde bucal era precária, um dado que demonstra o estado de miséria da população alí sepuldada.

Mais informações e fotografias sobre o trabalho arquiológico foram publicadas no artigo: "Escavação expõe ossadas de um século e meio em antigo cemitério no centro de SP", de William Cardodo, para Folha de S.Paulo / Agora.

 

FONTE: YouTube / Jornalistas Livres (2018)

 

 

a capela dos aflitos

A Capela dos Aflitos, construída contra um dos muros do cemitério, tem sua existência constada em documento do ano de 1779, quando, em sua sacristia fooi lavrada a ata de sagração do cemitério.

Em 1857, foi criada a Irmandade de Nossa Senhora dos Aflitos, para a manutenção do templo. Anos depois, em 1872, constam registros de problemas financeiros, com relatos direcionado para a Mitra, pela irmandade informando sobre a impossibilidade de manter a tarefa de manutenção da igreja, por falta de recursos.

O frontispício, ainda que um tanto mutilado, que resistiu ao tempo, deve ter sido erguido após a Irmandade assumir sua administração, pois, segundo o historiador Affonso Taunay, em uma aquarela de Carlos Rath, datada de 1850,

"a torre está ainda retratada com a aparência diversa da atual, e pela inscrição de ano de 1869 - seria essa a data da reforma? - no antigo mostrador do relógio, hoje desaparecido", sugerem que as alterações foram feitas nesse intervalo de tempo.

[BENS CULTURAIS ARQUITETÔNICOS NO MUNICÍPIO E NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. São Paulo: SNM – Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos, EMPLASA – Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S/A e SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento, 1984, p.168.]

 

Na sessão de 27 de de maio de 1885, o vereador Manoel José de Araújo Costa, propôs que fosse solicitado ao bisppo a recosntrução dos muros do cemitério, uma vez que o local à Mitra pertencia. Porém, no final de 1885, a Santa Casa de Misericórdia, procurando um local para implantar o Asilo de Mendicidade, comunicou ao bispo que o cemitério pertencia a sua irmandade, e o grupo tinha intenção de tomar posse do local e lá instalar o asilo.

No ano seguinte, Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, declarou que o local pertencia a Igreja Paroquial da Sé, autorizando o loteamento e venda do terreno, excluindo do negócio, o terreno da capela e o o espaço para criar um logradouro para acesso para a mesma, dando origem ao Beco dos Aflitos, hoje conhecido como Rua dos Aflitos.

Em dezembro de 1883, Dr. José Maria Bourroul, foi nomeado, por tempo indeterminado, o zelador da capela. Sua irmã, Dona Sebastiana sucedeu o Dr. Bourroul até a sua morte, em 1948, quando a zeladoria foi passada para sua filha Dona Branca. Porém, em 1962, Dona Branca devolveu as cheves da Capela dos Aflitos para a Mitra, alegando não ter forças para prosseguir com sua manutenção.

Durante a zeladoria da Família Bourroul, a capela foi ampliada: nova sacristia, nave do Evangelho e coro; em 1889, foi construída uma pequena capela das almas e em 1939, uma outra intervenção foi feita para sua conservação.

Na década de 1960, a Mitra designou um de seus padres para a administração, este foi responsável pelo

"atual velário - construção medíocre - seguido de alterações que, entre outros efeitos nocivos, desfiguraram o fronstispício a ponto de comprometer o interesse arquitetônico do pequeno templo."

[BENS CULTURAIS ARQUITETÔNICOS NO MUNICÍPIO E NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. São Paulo: SNM – Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos, EMPLASA – Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S/A e SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento, 1984, p.169.]

 

Em 1981, já sob a administração da Capela de Santa Cruz dos Enforcados, a edificação sofreu uma nova reforma, que agravou as descaracterizações arquitetônicas realizadas na década de 1960.

Segundo a descrição da década de 1980:

"Seu interior modestíssimo, conserva, sob várias camadas de pintura, restos de antigas talhas, de origem não esclarecida: o retábulo principal com características rococó e um remanescente de sacrário extremamente valioso, dada a sua raridade, do início do século XVIII e que, adaptado, abriga a imagem de Santo Antônio de Categeró."

[BENS CULTURAIS ARQUITETÔNICOS NO MUNICÍPIO E NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. São Paulo: SNM – Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos, EMPLASA – Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S/A e SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento, 1984, p.169.]

 

Imagens do interior da capela estão disponíveis no artigo: "Igreja Nossa Senhora dos Aflitos, bairro da Liberdade: a lembrança de um esquecimento", de Denise Fernandes Geribello, para o site Vitruvius. Informações sobre os problemas de preservação do templo foram registrados em 2018, no artigo "Capela que restou do 1º cemitério público de SP tem estrutura abalada", de Fabrício Lobel, para Folha de São Paulo. Mais fotografias do interior da capela foram publicadas no artigo: "Escavação expõe ossadas de um século e meio em antigo cemitério no centro de SP", de William Cardodo, para Folha de S.Paulo / Agora.

 

 

dados técnicos da construção

Número de pavimentos: um.

Técnica construtiva: taipa de pilão, alvenaria de tijolos de várias épocas e concreto armado no acréscimo.

 

 

patrimônio cultural: tombamento

 

CONDEPHAAT - CONSELHO DE DEFESA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ARQUEOLÓGICO, ARTÍSTICO E TURÍSTICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Resolução SC 23/10/78, de 23 de outubro de 1978, publicado no DOE 25/10/78, p.

Max Feffer, Secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia no uso de suas atribuições legais e nos termos do artigo 1o do Decreto-Lei no 149, de 15 de agosto de 1969,

Resolve:

Artigo 1o – Fica tombado como monumento histórico a Capela dos Aflitos, localizada à Rua dos Aflitos, no 70, no Bairro da Liberdade, nesta Capital.

Artigo 2o – Fica o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado autorizado a inscrever no Livro do Tombo competente o bem cultural em referência, para os devidos e legais efeitos.

Artigo 3o - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação.

 

CONPRESP - CONSELHO MUNICIPAL DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E AMBIENTAL DA CIDADE DE SÃO PAULO

RESOLUÇÃO Nº 25/CONPRESP/2018

O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo - CONPRESP, no uso de suas atribuições legais e nos termos da Lei nº 10.032, de 27 de dezembro de 1985, e alterações posteriores, e de acordo com a decisão dos Conselheiros presentes à 665ª Reunião Ordinária, realizada em 05 de março de 2018;

CONSIDERANDO os estudos para o Inventário Geral do Patrimônio Ambiental, Cultural e Urbano de São Paulo – IGEPAC-SP, realizados pelo Departamento do Patrimônio Histórico e publicados no Caderno do IGEPAC-Liberdade (1987) e a sua atualização, conforme contido no processo administrativo nº1995-0.021.764-3, que resultou na legislação vigente de Abertura de Tombamento do Patrimônio Ambiental, Cultural e Urbano da Liberdade (IGEPAC-Liberdade), através da Resolução 20/CONPRESP/2016;

CONSIDERANDO que o objetivo de um IGEPAC fundamenta-se na questão central da memória e identidade urbanas e que dentre os objetivos específicos do IGEPAC ressalta-se a participação nas políticas e planos de desenvolvimento urbano, no que diz respeito à indicação de áreas a serem preservadas e outras sujeitas à renovação urbana;

CONSIDERANDO que as áreas identificadas no IGEPAC-Liberdade a serem preservadas incluem uma dimensão sócio-cultural da história, do cotidiano e da paisagem local, para além dos aspectos da arquitetura em si;

CONSIDERANDO os caminhos históricos da cidade de São Paulo, seu traçado e geografia, como testemunhos do processo de urbanização da cidade e da sua paisagem cultural;

CONSIDERANDO esses caminhos como lugares a serem requalificados por concentrar importantes elementos físicos e culturais da identidade paulistana;

CONSIDERANDO a historicidade do caminho que parte do centro da cidade em direção a Santos, a partir da Rua da Glória, Rua do Lavapés, e depois segue em direção ao Ipiranga e à Serra do Mar, utilizado por tropeiros antes da instalação da ferrovia;

CONSIDERANDO que nas margens desse caminho, nomeado pelo IGEPAC-Liberdade como “Caminho Histórico Glória-Lavapés”, existe uma urbanização particular, composta por casario, casas operárias, galpões industriais, estruturada a partir dessa via ou eixo que perpassa as seguintes quadras e ele adjacentes:

* Setor 004, Quadras: 043, 044, 052, 060, 067, 068.

* Setor 005, Quadras: 019, 058, 062, 063, 069, 070, 071, 072, 073.

* Setor 033, Quadras: 023, 024, 037, 040.

* Setor 034, Quadras: 001, 002, 003.

CONSIDERANDO que a salvaguarda do caminho histórico e de conjuntos e exemplares arquitetônicos representativos do processo de formação desta área no bairro da Liberdade e Cambuci desempenhará papel fundamental como elemento de permanência e de estruturação da memória daquela área urbana em processo de transformação;

CONSIDERANDO os diversos bens já tombados contidos no perímetro de estudo do IGEPAC – Liberdade e os conjuntos em situação de abertura de processo de tombamento protegidos pela Resolução 22/CONPRESP/2015 e pela Resolução 20/CONPRESP/2016;

CONSIDERANDO a legislação vigente de preservação da Capela dos Aflitos, através da Resolução Estadual de 23/10/1978 do CONDEPHAAT e da Resolução Municipal nº 05/CONPRESP/91 (Tombamento ex-officio) e a necessidade de estabelecer diretrizes para Regulamentação da Área Envoltória atualmente compreendida por um raio de 300 metros, conforme previsto no âmbito dos trabalhos do Escritório Técnico Compartilhado entre os profissionais do Condephaat e DPH;

CONSIDERANDO a Resolução de Tombamento do Outeiro da Glória, 08/CONPRESP/2008;

CONSIDERANDO o contido no processo administrativo nº 2007-0.178.658-9;

RESOLVE:

Artigo 1º - TOMBAR O CAMINHO HISTÓRICO DA RUA DA GLÓRIA e RUA DO LAVAPÉS conformado pelo traçado e geometria sinuosa dos logradouros Rua da Glória (codlog 08029-2) e Rua do Lavapés (codlog 11649-1) e REGULAMENTAR A ÁREA ENVOLTÓRIA de proteção do imóvel denominado Capela dos Aflitos, localizado na Rua dos Aflitos, nº 70, Liberdade (Setor 005 Quadra 051 Lote 0039-8), bem tombado ex-officio pela Resolução nº 05/CONPRESP/91.

Artigo 2º - Qualquer intervenção nos logradouros e suas calçadas mencionados no caput do artigo 1º, tais como a instalação ou alteração do mobiliário urbano, pavimentação, vegetação e infraestrutura deverá ser submetida à prévia análise e manifestação do DPH/CONPRESP e, no caso de intervenção que afete o subsolo, à análise e manifestação do Centro de Arqueologia de São Paulo - CASP.

Artigo 3º - FICA PROTEGIDA, como lugar de interesse paisagístico e ambiental, considerando a geomorfologia da paisagem, a área remanescente da ENCOSTA DO ANTIGO MORRO DO PIOLHO, um mirante natural da várzea do Tamanduateí, definida pelo cone visual e pelas restrições dadas em diretrizes para os lotes e logradouro listados em tabela abaixo:

Quadro - Resolução CONPRESP n° 25_2018        

Parágrafo Único: qualquer intervenção nessa área da encosta está sujeita à prévia análise e manifestação do DPH/CONPRESP.

Artigo 4º - FICAM TOMBADOS OS BENS IMÓVEIS contidos na tabela do ANEXO I, com suas diretrizes específicas, sendo que qualquer intervenção nestes estão sujeitas à prévia análise e manifestação do DPH/CONPRESP.

Artigo 5º - Visando à preservação do patrimônio arqueológico relacionado ao Caminho Histórico Glória - Lavapés, extensão da colina central da cidade, foram definidas ÁREAS DE INTERESSE ARQUEOLÓGICO, conforme estabelecido no ANEXO II desta resolução.

Parágrafo Primeiro – Qualquer intervenção nessas áreas, incluindo a escavação ou instalação de qualquer tipo de equipamento e mobiliário urbano, deve ser submetida à prévia aprovação do DPH/CONPRESP e à análise e manifestação do Centro de Arqueologia.

Parágrafo Segundo – Fica obrigatória a contratação de serviço de Acompanhamento Arqueológico pelo Poder Público e suas empresas concessionárias em intervenções que afetem o subsolo em todas as áreas definidas no ANEXO II.

Parágrafo Terceiro – Fica obrigatória a contratação de serviço de Acompanhamento Arqueológico em lotes que venham a ser construídas edificações com mais de 10 metros de altura ou três pavimentos, nas áreas definidas no ANEXO II.

Artigo 6º - Para garantir e resguardar a leitura do conjunto urbano tombado fica definido como ÁREA ENVOLTÓRIA DE PROTEÇÃO os imóveis listados no ANEXO III.

Parágrafo Único: As intervenções nesses imóveis estão sujeitas à prévia análise e aprovação do DPH/CONPRESP, com base na apreciação, caso a caso, de elementos que possam vir a interferir na ambiência, visibilidade e harmonia dos bens tombados, tais como: implantação, altura, textura, cor e quaisquer outros que venham a ser identificados na análise da intervenção proposta.

Artigo 7º - Ficam expressamente EXCLUÍDOS da ÁREA ENVOLTÓRIA municipal os demais imóveis não listados no quadro do ANEXO III desta resolução e que estavam inseridos na anterior área envoltória compreendida num raio de 300 (trezentos) metros da Capela dos Aflitos, nos termos da redação original do artigo 137 do Decreto Estadual nº 13.426 de 16/03/1979.

Artigo 8º - Ficam EXCLUÍDOS do TOMBAMENTO DEFINITIVO os seguintes imóveis listados anteriormente neste conjunto para proteção, conforme tabela do ANEXO IV.

Artigo 9º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial da Cidade, revogadas as disposições em contrário.

 

 

referências bibliográficas

AMARAL, Antonio Barreto do. Dicionário de história de São Paulo. Coleção Paulística. Volume XIX. São Paulo: Imesp, 2006.

ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo: introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas relações com a crônica da cidade. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954.

ARROYO, Leonardo, DANON, Diana Dorothèa. Memórias e Tempo das Igrejas de São Paulo. São Paulo: Editora Nacional / EDUSP, 1971.

ASSUNÇÃO, Paulo de. São Paulo Imperial: a cidade em transformação. São Paulo: Arké, 2004.

BENS CULTURAIS ARQUITETÔNICOS NO MUNICÍPIO E NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. São Paulo: SNM – Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos, EMPLASA – Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S/A e SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento, 1984.

CANNABRAVA, Iatã, GORDINHO, Margarida Cintra. Patrimônio da metrópole paulistana. São Paulo: Terceiro Nome / Secretaria do Estado de Cultura, 2010.

PONCIANO, Levino. Todos os centros da paulicéia. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007.

PORTO, Antônio Rodrigues. História da cidade de São Paulo através de suas ruas. 2ª. Edição. São Paulo: Carthago, 1996.

PORTO, Antônio Rodrigues. História Urbanística da cidade de São Paulo (1554 a 1988). São Paulo: Carthago, 1992.

SCHMIDT, Afonso. São Paulo de meus amores. Coleção São Paulo: volume 1. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

SÍTIO ARQUEOLÓGICO CEMITÉRIO DOS AFLITOS, NA LIBERDADE (SP), É CADASTRADO PELO IPHAN. Revista Museu - cultura levada a sério, 2 Mar. 2020. Disponível em: <https://www.revistamuseu.com.br/site/br/noticias/nacionais/8039-02-03-2020-sitio-arqueologico-cemiterio-dos-aflitos-na-liberdade-sp-e-cadastrado-pelo-iphan.html>. Acesso em: 25 Dez. 2020.

 

 

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