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Centro de São Paulo

Edifício Martinelli

rua são bento, 397/413
avenida são joão, 11/65
rua líbero badaró, 504/518

dicionário online sobre o centro de são paulo

atualizado em: 28 de fevereiro de 2021

 

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Fotografia de Mônica Yamagawa

 

Giuseppe Martinelli desembarcou no Brasil em 1889, consta que trabalhou como empregado em um açougue e como mascate, nas áreas de plantações de café.

Vários são os projetos e investimentos associados ao seu nome, em São Paulo, mas, talvez, o Edifício Martinelli, seja o que o colocou na história da cidade.

Segundo sua esposa, Rina Cataldi, Martinelli sonhava em ser arquiteto, porém, somente concluiu o curso de pedreiro na Escola Popular de Belas Artes de Luca, Itália. Trabalhou no ramo de construção civil com o pai e os irmãos; aos 19 anos embarcou para o Brasil, para trabalhar em uma empresa de importação de secos e molhados, chamada Fratelli Fiaccadori. Em Santos, cuidava dos processos alfandegários e das operações de câmbio.

 


Fotografia Mônica Yamagawa

 

Com a experiência adquirida na empresa da família Fiaccadori, fundou com seu irmão e outros dois sócios a Fratelli Martinelli: casas bancárias em Santos e São Paulo, representação do Lloyd Italiano e outras empresas de navegação e exportação de café, estavam incluídas nas atividades da empresa. Com a Primeira Guerra Mundial, montou uma frota de navios sucateados para comercializar com os países europeus: a carga valia mais que a própria embarcação. Também entrou para a área industrial, com a montagem do estaleiro Cruzeiro do Sul e a exploração de minas de carvão na região sul do país.

Com o patrimônio adquirido com suas atividades empresariais, voltou seus olhos para o terreno que adquiriu entre a Rua São Bento e Avenida São João, e onde, até 1914, funcionou o Café Brandão. Dez anos depois, começou a traçar os projetos para o futuro arranha-céu, talvez, inspirado com o Edifício Sampaio Moreira, inaugurado em 1924 e, até então, a mais alta edificação da cidade, com os seus 13 andares.

Com o engenheiro William Fillinger, projetou um Martinelli com 12 andares, em seguida outro, com 14 andares; o contrato assinado em dezembro de 1924, com a Amaral e Simões Engenheiros, mencionava 18 andares. Mas, erguer o futuro “espigão” não foi tarefa fácil: 

“O sonho de Martinelli ia se tornando cada vez mais ambicioso, porém as dificuldades que encontrou lhe renderam alguns pesadelos. Ainda na fase de escavações, começou a minar água do subsolo, e os engenheiros tiveram muitos problemas para drenar o terreno. Os trabalhos na fundação abalaram os alicerces do prédio vizinho, e a proprietária, Dona Stella Penteado da Silva Prado, embargou as obras de Martinelli. Para resolver o problema, ele comprou o prédio de Dona Stella e decidiu construir no lugar mais um bloco de seu edifício.”

[CAVALCANTI, Pedro, DELION, Luciana. São Paulo, a juventude do centro. São Paulo: Conex, 2004, p.78.]

 

Dificuldades para obtenção de madeira, pedra britada, ferro aço (para o concreto armado), cimento importando da Suécia e Noruega e a suspensão do trabalho, por parte de Martinelli, para novas alterações no projeto, levaram a construtora à falência, dois anos depois do início das obras, com o “grande” edifício estagnado no terceiro pavimento.

Ítalo Martinelli, sobrinho do “Comendador” (título que recebeu em 1918), arquiteto, formado pela Universidade Mackenzie, assumiu, juntamente com o tio, a direção dos trabalhos: 

“O Comendador morava no Rio de Janeiro e quando vinha a São Paulo hospedava-se no Hotel Esplanada. Às sete horas da manhã, empunhando um binóculo, verificava da janela do Hotel se os operários já estavam trabalhando. Ao meio dia ia fiscalizar as obras pessoalmente. (...) Reencontrava agora a oportunidade de relembrar a profissão que exercera na cidade natal. (...) Atraído pelo cheiro de argamassa, tirava a pá do pedreiro e completava com entusiasmo a tarefa, demonstrando grande satisfação. Ensinava aos operários como preparar e tratar o cimento, mantendo contato muito próximo com os mesmos. Manuel Urbano, o eletricista-chefe, recorda que o Comendador era muito afável e boa pessoa; com ele aprendeu a falar o toscano.”

[CAVALCANTI, Pedro, DELION, Luciana. São Paulo, a juventude do centro. São Paulo: Conex, 2004, p.78-79.]

 

O palacete onde vivia no Rio de Janeiro, vivia em obras, segundo comentário popular, ele “nunca pretendeu concluí-las, pois acreditava que morreria ao fazê-lo, segundo uma premonição que lhe teria sido feita” [CAVALCANTI; DELION, 2004, p.79]. Talvez isso explique os atrasos causados pelas decisões e re-decisões de Martinelli de acrescentar mais andares ao edifício. Em 1928, o novo projeto registrava vinte andar, mas, as obras continuaram; ao chegar ao vigésimo quarto andar, a obra foi embargada pela prefeitura. A construtora, Amaral e Simões, que brigava na justiça com Martinelli, declarou para os jornais que não se responsabilizava pela segurança das obras, uma vez, que o projeto original era para um prédio de 14 andares: “Pode ruir o Prédio Martinelli”, dizia o Diário Nacional, em maio de 1928.

Os peritos da Escola Politécnica, recomendaram a redução da carga: remoção de paredes e pisos e uso de materiais mais leves ou a redução para 25 andares. Mas, o Comendador queria os seus 30 andares, então: 

“No topo do prédio, decidiu construir um palacete. Acrescentou dois andares para a habitação, mais um andar para a cabina com gerador, outro com uma sala ladeada por dois terraços e, finalmente, um terrão onde eram hasteadas as bandeiras do Brasil e da Itália. Assim, ele podia dizer que havia construído seus trinta andares.

[CAVALCANTI, Pedro, DELION, Luciana. São Paulo, a juventude do centro. São Paulo: Conex, 2004, p.80.]

 


Fotografia de Mônica Yamagawa

 

Não era somente o “pai” dos futuros arranha-ceús paulistanos, como um predecessor dos futuros shopping centers, dentro do Martinelli, funcionaram o Cine Rosário, a Brasserie Paulista, as sedes do Palestra Itália e da Portuguesa de Desportos, os salões de banquetes Verde e Mourisco, a escola de dança Arturo Patrizi, além de outros estabelecimentos como lojas, barbearias, restaurante e até um night club.

Com a inauguração, também veio a crise econômica de 1929, sem conseguir pagar pelos empréstimos, vendeu seus 30 andares em 1934. O Comendador retornou para o Rio de Janeiro e refez a sua fortuna, na década seguinte.

O “Martinelli Prédio” também passou maus bocados depois da saída do Comendador: “Confiscado aos italianos pelo governo brasileiro durante a II Guerra Mundial, foi a leilão em 1944, sendo arrematado por um grupo de investidores que o transformaram em condomínio, com mais de uma centena de proprietários. Entrou em decadência e acabou virando um imenso cortiço vertical.”[CAVALCANTI; DELION, 2004, p.80] 

“Em 1946, ao chegar a São Paulo, a italiana Maria Bonomi ouviu seu avô recomendar ao motorista do táxi: ‘Não passe na Líbero Badaró’. O comendador Giuseppe Martinelli não queria passar na rua onde estava o prédio que havia construído, batizado e, anos antes, perdido: o edifício Martinelli, primeiro arranha-céu da cidade. ‘Ver o prédio daquele jeito, subutilizado, era uma tristeza muito grande para ele, lembra.’”

[MARTINELLI ABRIGARÁ CENTRO CULTURAL. Folha de São Paulo: 15 Dez. 2004. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1512200413.htm>. Acesso em: 26 Set. 2017.]

 


Fotografia de Mônica Yamagawa

 

A partir da década de 1970, as notícias do Edifício Martinelli são sempre sobre degradação e promessas de restauração:

 

 

referências bibliográficas

CAPITAL PODE GANHAR DOIS NOVOS PONTOS. Folha de São Paulo: 17 Nov. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac1711200202.htm>. Acesso em: 26 Set. 2017.

CAVALCANTI, Pedro, DELION, Luciana. São Paulo, a juventude do centro. São Paulo: Conex, 2004.

CORRÊA. Sílvia. Prefeitura usa embargo para negociar dívida. Folha de São Paulo: 24 Mar. 2004. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2403200401.htm>. Acesso em: 26 Set. 2017.

CORREA, Vanessa. Martinelli reabre visitação após dois anos de reforma. Folha de São Paulo: 24 Jul. 2010. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2407201021.htm>. Acesso em: 26 Set. 2017.

DIMENSTEIN, Gilberto. Metro mais caro do mundo é aqui. Folha de São Paulo: 16 Jan. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1601200205.htm>. Acesso em: 26 Set. 2017.

DURAN, Sérgio. Marta supera Alckmin e leva ‘Banespinha’. Folha de São Paulo: 17 Dez. 2001. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1712200101.htm>. Acesso em: 26 Set. 2017.

FAÇA TURISMO NO METRÔ. Folha de São Paulo: 8 Mar. 2012. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/29939-faca-turismo-no-metro.shtml>. Acesso em: 26 Set. 2017.

FAMÍLIA VIVIA DENTRO DE CABINE. Folha de São Paulo: 9 Abr. 1995. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/4/09/cotidiano/19.html>. Acesso em: 26 Set. 2017.

LUCCHESI , Cristiane Perini. CUT vai dividida à eleição dos bancáriosFolha de São Paulo: 17 jan. 1994. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/1/17/brasil/17.html>. Acesso em: 26 Set. 2017.

MARCOVITCH, Jacques. Pioneiros & Empreendedores: a saga do desenvolvimento no Brasil - Volume 1. São Paulo: Edusp / Saraiva, 2009.

MARTINELLI ABRIGARÁ CENTRO CULTURAL. Folha de São Paulo: 15 Dez. 2004. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1512200413.htm>. Acesso em: 26 Set. 2017.

SCHIVARTCHE, FabioPrimeiro arranha-céu de SP aguarda reforma desde 1995. Folha de São Paulo: 25 Jan. 1998. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff250119.htm>. Acesso em: 26 Set. 2017.

VIVEIROS, Mariana. Centro ganha seis ‘novos” prédios. Folha de São Paulo: 22 de Jan. 2004. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2201200420.htm>. Acesso em: 26 Set. 2017.

 

 

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