O primeiro projeto de lei propondo a criação de uma Escola Normal em São Paulo surgiu em 20 de janeiro de 1843, durante uma das sessões da Assembléia Provincial; porém, esse projeto foi concretizado apenas três anos depois, através da Lei n. 34, de 16 de março de 1846.
Inicialmente, foi instalada na sala da edificação contígua à Igreja Matriz da Sé, pertencente ao Cabido Diocesano. A escola oferecia um curso com duraçãod e dois anos - equivalente a duas cadeiras:
"1a. cadeira - Lógica, Gramática Geral e da Língua Nacional; Teoria e Prática da Aritmética, até Proporções, inclusive; Noções mais gerais de Geometria Prática; Caligrafia; Princípios e Doutrina da Religião do Estado;
2a. cadeira - Métodos e Processos do Ensino, suas aplicações e vantagens comparativas."
[DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013, p. 50.]
As duas cadeiras eram ministradas pelo Dr. Manoel José Chaves, formado em ciências sociais e jurídicas pela Academia de Direito de São Paulo. De acordo com Dias (2013, p. 62), os relatórios enviados por Manoel José Chaves para o Inspetor Geral da Instrução Pública, frequentemente solicitavam a ampliação do número de professores para a instituição, "para obtenção de um resultado mais satisfatório, com a especialização da docência e a repartição dos saberes" (DIAS: 20013, p. 62)
Embora em seu texto de criação fosse prevista a abertura de uma seção feminina, na prática, o curos criado destinava-se apenas para os alunos do sexo masculino.
A Escola Normal de São Paulo foi criada em 1846, sendo suprimida em 1867, tendo formado 40 professores durante esse período.
"A estabilidade da instituição coincide com o período do segundo liberalismo, quando se consolidam as ideias liberais de educação popular e da obrigatoriedade da instrução primária, bem como as de liberdade de ensino. Por volta de 1870, está generalizada a discussão da ideia de escola normal enquanto uma instituição normalizadora e produtora das regras de conduta do professor nos seus múltiplos aspectos: procedimentos didáticos, aspirações políticas, atuação profissional, comportamento público e privado. Essas instituições começam a se reorganizar em todas as províncias do Império,"
[DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013, p. 48.]
Assim, a Escola Normal é recriada em 1874, pela Lei n. 9, de 22 de março do mesmo ano; instalada em 1875, fechada em 1878 e, novamente, reinaugurada no ano de 1880, não escapando da
"conturbada tendência de criações e extinções que ocorreu no Brasil do século XIX, a qual denuncia as dificuldades que p Estado monárquico enfrentou para disciplinar as atividades docentes e firmar a Escola Normal como espaço privilegiado de formação dos professores de primeiras letras."
[DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013, p.49.]
As classes continuavam compostas apenas de alunos do sexo masculino:
"1a. cadeira - Línguas Nacional e Francesa, Aritimética e Sistema Métrico; Caligrafia; Doutrina Cristã, Metódica e Pedagogia, com exercícios práticos nas ecolas da capital: professor Paulo Antônio do Vale;
2a. cadeira - Noções de História Sagrada e Universal (inclusive a do Brasil); Geografia (especialmente a do Brasil) e elementos de Cosmografia: professor Américo Ferreira de Abreu."
[DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013, p. 51.]
Em 1876, a Lei n. 55, de 30 de março do mesmo ano, alterou a estrutura curricular da Escola Normal, desmembrando as duas cadeiras:
"1a. cadeira - Língua Nacional e Aritmética: professor Melchiades da Boa Morte Trigueiro, após a saída do professor Paulo do Valle, em janeiro de 1876;
2a. cadeira - Francês, Metódica e Pedagocia: professor João Bernardes da Silva;
3a. cadeira - Cosmografia e GEografia, especialmente a do Brasil: Professor Américo Ferreira de Abreu;
4a. cadeira - História Sagrada e Universal e Noções Gerais de Lógica: professor Antônio Augusto de Bulhões Jardim."
[DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013, p. 52.]
Nesse período foi instalada a seção feminina no andar térreo do Seminário de Nossa Senhora da Glória - antigo Seminário das Educandas. A seção masculina funcionava dentro da Academia de Direito - Largo de São Francisco - e os quatro professores acima mencionados eram responsáveis pelas aulas dos dois grupos.
No ano seguinte, o Regulamento de 5 de janeiro de 1877, criou o cargo de diretor da instituição, que deveria ser exercido por um dos professores.
"Esse cargo foi exercido pelo professor Américo Ferreira de Abreu, mas na realidade suas funções eram mais as de vice-diretor, pois quem a dirigia, de fato era o Inspetor Geral da Instrução Pública, DR. Francisco Aurélio de Souza Carvalho."
[DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013, p. 52.]
A seção masculina deixou a Academia de Direito e foi instalada no prédio do Tesouro Municipal, localizada na esquina na Rua das Casinhas com a Rua da Imperatriz.
Duas escolas de ensino primário foram anexadas à Escola Normal, com o objetivo de oferecer exercícios práticos: as escolas regidas pelos professores Graldino da Silva Campista e Catharina Amélia do Prado Alvim, para meninso e meninas, respectivamente.
Em 30 de junho de 1878, de acordo com o Ato de 9 de maio de 1878, as atividades da Escola Normal foram extintas pela falta de professores.
A Lei n. 130, de 25 de abril de 1880, autorizou a reabertura da Escola Normal. As atividades começaram em 2 de agosto do mesmo ano - com um novo regimento interno datado de 30 de junho de 1880, no qual o cargo de diretor seria exercido por um dos professores e subordinado diretamente ao Presidente da Província.
As aulas começaram a ser ministradas no térreo do prédio do Tesouro Municipal e no ano seguinte (1881) foram transferidas para um sobrado na Rua da Boa Morte - onde passou a funconar com aulas mistas e com cinco cadeiras:
"1a. cadeira - Gramática e Língua Nacional (estudos práticos de estilo e declamação): professor Vicente Mamede de Freitas, acumulando o cargo de Diretor da Escola;
2a. cadeira - Aritmética e Geometria: professor Godofredo José Furtado;
3a. cadeira - Geografia Geral, História do Brasil e especialmente da Província, História Sagrada e resumo cronológico da História Universal: professor José Estácio Corrêa de Sá e Benevides;
4a. cadeira - Pedagocia e Metodologia, compreendendo exercícios de intuição; e Doutrina Cristã: professor Ignácio Soares de Bulhões Jardim;
5a. cadeira - Francês, Física e Química: professor Paulo Bourroul."
[DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013, p. 55.]
De acordo com a Lei n. 59, de 25 de abril de 1884, a escola passou a ter 6 cadeiras:
"1a. cadeira - Gramática e Língua Nacional: professor Antônio da Silva Jardim;
2a. cadeira - Aritmética e Geometria: professor Godofredo José Furtado;
3a. cadeira - Elementos de Cosmografia, Geografia e História: professor José Estácio Corrêa de Sá e Benevides;
4a. cadeira - Pedagogia, Metodologia e Instrução Religiosa: professor Ignácio Soares de Bulhões Jardim (a partir de 17 de março de 1885, professor padre Camillo Passalacqua;
5a. cadeira - Noções de Física e Química: professor Cypriano José de Carvalho;
6a. cadeira - Gramática e Língua Francesa: professor Carlos Marcondes de Toledo Lessa."
[DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013, p. 58.]
A Lei n. 81, de 6 de abril de 1887 e o Regulamento de 22 de agosto de 1887, estabeleceu para o ano de 1888, oito cadeiras, sendo que a 7a. e 8a. cadeiras eram de Caligrfia e Desenho, uma para a seção masculina e outra para a feminina:
"1a. cadeira - Português: professor Carlos Reis;
2a. cadeira - Aritmética e Geometria: professor Joaquim José de Azevedo Soares;
3a. cadeira - História e Geografia: professor José Estácio Corrêa de Sá e Benevides;
4a. cadeira - Pedagogia, Metodologia e Religião: professor Pe. Camillo Passalacqua;
5a. cadeira - Física e Química: professor José Eduardo de Macedo Soares;
6a. cadeira - Francês: professor Tiburtino Mondim Pestana; vaga desde fins de 1888;
7a. cadeira - Caligrafia e Desenho, seção masculina: professor Thomaz Augusto Ribeiro de Lima;
8. cadeira - Caligrafia e Desenho, seção feminina: professora Felicidade Perpétua de Macedo."
[DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013, p. 58.]
A edificação original data de 1894, projeto de Antônio Francisco de Paula Sousa e construção e detalhamento de Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Localizada na Praça da República, 53, atualmente abriga a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. O nome "Caetano de Campos" é uma homenagem a Antônio Caetano de Campos, o primeiro diretor da escola.
Em 1946, era conhecida como Escola Modelo Caetano de Campos,
"tinha como objetivo formar professores que se encarregariam da disseminação dos conhecimentos necessários ao Progresso (ideal Positivista), em oposição à prática do ensino religioso tradicional."
[ABDALLA, Antônio Carlos, ESTEVES, Juan. Capital - São Paulo e Seu Patrimônio Arquitetônico. São Paulo: Imesp, 2013, p.261.]
Em 1975, a edificação por pouco não foi destruída para a construção da estação e linha de metrô, porém, a Associação dos Antigos Alunos da Caetano de Campos, através das ferramentas de preservação do patrimônio histórico, conseguiu o tombamento do prédio e, ao final, a estação de metrô foi construída sem a necessidade de demolição da edificação.
Após o tombamento, a edificação foi restaurada pelo arquiteto Benedito de Lima Toledo, recebendo o acréscimo de um terceiro andar:
"Edifício de estilo eclético/neoclássico, com suas pilastras dóricas e janelas de arco pleno, inaugura na arquitetura escolar a presença da luz e dos espaços amplos, representativos dos novos ventos republicanos, implantadores da escola pública, onde não se distinguia cor da pele ou religião e se faziam experiências de pedagogia moderna e de aplicação da psicologia à educação"
[PERRONE, Carlos. São Paulo por dentro: um guia panorâmico de arquitetura. São Paulo: Senac SP, 2000, p.12.]
Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo
Resolução no . 05/91
Por decisão unânime dos Conselheiros presentes à reunião realizada aos cinco dias do mês de abril de 1991, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo - CONPRESP, resolve, nos termos e para os fins da Lei no 10.032/85, com as alterações introduzidas pela Lei n o 10.236/86, tombar "ex-officio" os bens abaixo descriminados:
(...)
18) Antigo Instituto de Educação Caetano de Campos - Praça da República, 54 - Centro;
(...)
Esta resolução deverá ser submetida à efetivação da Senhora Secretária, bem como homologada pela Senhora Prefeita, com posterior registro no livro próprio.
Número do Processo: 00610/75
Resolução de Tombamento: Resolução de 03/06/1976Livro do Tombo Histórico: inscrição nº 112, p. 16, 25/6/1979
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo
Resolução SC S/N/76, de 2 de junho de 1976, publicado no DOE 03/06/76.
Max Feffer, Secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia, no uso de suas atribuições legais e nos termos do artigo 1o do Decreto-Lei no 149, de 15 de agosto de 1969,
Resolve:
Artigo 1o – Fica tombado como monumento histórico, artístico e de relevância na paisagem urbana o imóvel em que está situado o Instituto de Educação "Caetano de Campos", nesta Capital.
Artigo 2o – Fica o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado autorizado a inscrever no Livro do Tombo competente o bem cultural em referência, para os devidos e legais efeitos.
Artigo 3o - Esta Resolução entrará em vigor na data da sua publicação
Publicação de editada em 2000, em celebração à restauração da edificação, com belas imagens produzidas por Marcos Piffer:
WEY, Vara Lúcia, PICCININI JR., Fernando, PIFFER, Marcos. Edifício Caetanos de Campos. São Paulo: Secretaria Estadual da Educação, 2000.
Outras publicação sobre a edificação e história da instituição:
ALMEIDA, Jane Soares de. A formação de professores em São Paulo (1846-1996): a prática de ensino em questão. Campinas/SP: Autores Associados, 2016.
GOLOMBEK, Patricia. Caetano de Campos: a escola que mudou o Brasil. São Paulo: Edusp, 2016.
ABDALLA, Antônio Carlos, ESTEVES, Juan. Capital - São Paulo e Seu Patrimônio Arquitetônico. São Paulo: Imesp, 2013.
ALMANACH PAULISTA PARA O ANNO DE 1882. São Paulo: G. Rangel, 1881.
DIAS, Marcia H. Professores da Escola Normal de São Paulo (1846 - 1890): a história não-escrita. Campinas/SP: Editota Alínea, 2013.
PERRONE, Carlos. São Paulo por dentro: um guia panorâmico de arquitetura. São Paulo: Senac SP, 2000.
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