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Centro de São Paulo

Gráças

Escultura de Victor Brecheret

Galeria Prestes Maia

dicionário do centro de são paulo

atualizado em: 11 de junho de 2022
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As esculturas conhecidas como "Graças" foram encomendadas pelo, então, prefeito Prestes Maia, em 1940. Atualmente, encontram-se na galeria que leve o mesmo nome do antigo prefeito de São Paulo, passagem entre a Praça do Patriarca e o Vale do Anhangabaú.

 


Graças, escultras de Victor Brecheret
FOTOGRAFIAS: Mônica Yamagawa

 

Alguns parágrafos sobre Victor Brecheret

Considerado o primeiro escultor moderno do país, Victor Brecheret nasce em Farnese de Castro, Itália, em 1894 e emigra para o Brasil, em 1904. Como descreve Marta Rossetti Batista: 

“Brecheret tornou-se um paulistano típico daquele período da imigração em massa, e sempre se considerou e foi considerado pelos modernistas e pela família como brasileiro nato.” 

[BATISTA, Marta Rossetti. Escritos sobre arte e modernismo brasileiro. São Paulo: Prata Design, 2012, p.118]

 

Entre os anos de 1912 e 1913, inicia seus estudos na capital paulista, dedicando-se ao desenho, modelagem e entalhe de madeira, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.

Ainda em 1913, muda-se para a Itália, onde permanece até o ano de 1919. Durante esse período, torna-se discípulo de Arturo Dazzi, interessando-se pelos trabalhos de Ivan Mestrovic, Rodin, entre outros.

Em 1916, com a obra “Despertar”, obtém o primeiro lugar na Exposição Internacional de Belas-Artes em Roma. A crítica da época destaca a influência de escultores como Rodin, Bourdelle e Mestrovic, nos seus trabalhos.

Em 1919, retorna para São Paulo, instalando seu ateliê em uma das salas do Palácio das Indústrias (espaço cedido por Ramos de Azevedo). Porém, antes, ainda na Europa, expõe suas obras na Mostra Degli Stranieri Allá Casina Del Pincio e, uma das peças, a “Medalha Comemorativa da Independência do Brasil”, é adquirida pelo Museu de Haya (Holanda).

Na capital paulista, seus trabalhos chamam a atenção dos escritores e intelectuais modernistas: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e dos, então, caricaturistas, Di Cavalcanti e Helios Seelinger:

“O encontro se deu em ocasião muito propícia, pois, pela primeira vez na cidade, discutia-se apaixonadamente a arte da escultura, discussão motivada pelos concursos para monumentos a serem erguidos em comemoração ao Centenário da Independência. Em oposição às propostas tradicionais, a obra expressiva e dramática de Brecheret, ainda que apresentando pequeno grau de inovação, impressionou os modernistas. E logo ‘começou a luta por Brecheret, nosso estandarte’, escreveria Mário de Andrade (1924). Os escritores, sobretudo Menotti Del Picchia, secundado por Oswald de Andrade, divulgavam o artista e suas obras e inspiravam-se nele na criação de seus romances.” 

[BATISTA, Marta Rossetti. Escritos sobre arte e modernismo brasileiro. São Paulo: Prata Design, 2012, p.118-119]

 

Influenciado pelo grupo modernista, projeta a maquete do Monumento às Bandeiras, em julho de 1920.

No ano seguinte (1921), “Eva” uma de suas esculturas expostas na Casa Byington é adquirida pela Prefeitura Municipal de São Paulo – a obra, atualmente, encontra-se exposta no Centro Cultural São Paulo. Como muitas das esculturas públicas na cidade de São Paulo, antes de “residir” no centro cultural, a obra de Brecheret foi instalada no Vale do Anhangabaú, onde permaneceu até 1976: 

“O aspecto sério da Eva contribui para dar a esta mulher uma certa expressão de mistério. Em que ela estaria pensando? Por que contorce o corpo dessa maneira? A estas perguntas o escritor Monteiro Lobato (1882 – 1948) respondeu à sua maneira: ‘A Eva de Brecheret possui essa alma, esse algo indizível, indefinível, imponderável, inclassificável, possui essa força misteriosa que, no observador, se traduz pela sensação augusta da obra-prima’.” 

[PELLEGRINNI, Sandra Brecheret. Em cada canto de São Paulo um encanto de Brecheret. São Paulo: Noovha América, 2004, p.8]

 

Ainda em 1921, recebe uma bolsa do Governo do Estado de São Paulo, viajando para Paris no mesmo ano, porém, deixando algumas esculturas para a Semana de Arte Moderna de 1922. Durante esta estadia, de cerca de dez anos, entra em contato com as obras de Brancusi e Bourdelle e, após essa segunda temporada europeia, segundo Sandra Brecheret Pellegrinni, suas obras passam a “ter superfícies mais uniformes e seus volumes ganharam expressão. [Pellegrinni, 2004, p.5]

Ainda em 1921, na França, expõe o “Templo da Minha Raça”, no Salão de Outono, sendo premiado um dos premiados entre os quatro mil concorrentes.

Em 1923, participa, novamente, do Salão de Outono e é premiado com a escultura “Sepultamento”. A obra é adquirida por Olívia Guedes Penteado e instalada no Cemitério da Consolação, quatro anos mais tarde.

Ainda na década de 1920, cria a “Musa Impassível”, para o túmulo de Francisca Júlia da Silva (poetisa paulista), no Cemitério do Araçá, encomendada pelo então senador Freitas Valle, pelo Governo do Estado de São Paulo. Em 2006, a escultura é transferida para o acervo da Pinacoteca do Estado, em seu lugar, é instalada uma réplica em bronze.

No ano seguinte (1924), novamente no Salão de Outono, apresenta“A Portadora de Perfume” –esta última, atualmente encontra-se no Jardim da Luz/Pinacoteca do Estado. Segundo conta Sandra Brecheret Pellegrini, Paris, no início do século XX, era um “mundo de despreocupação e luxo” onde até alimentos como pão-doce “eram servidos com agradáveis fragrâncias” – por isso, a obra ficou conhecida como “Madaleine au Parfum” – madalaine era um tipo de pão-doce local. [Pellegrinni, 2004, p.9]

Apesar de visitas esporádicas ao Brasil, durante essa temporada parisiense, Brecheret, através de cartas, mantém Mário de Andrade informado sobre suas atividades, enviando para o poeta-escritor, fotos de suas obras, desenhos e críticas publicadas sobre seus trabalhos.

Em 1925, recebe uma menção honrosa por sua participação no Salão da Sociedade dos Artistas Franceses (Paris); expõe no Salão de Outono a escultura “Dançarina” e também participa da Exposição Internacional de Roma. 

Antes de retornar para São Paulo, onde permanece por cerca de um ano, expõe, novamente, no Salão de Outono (Paris). Durante o período, na capital paulista, é organizada a sua primeira exposição individual, em dezembro de 1926. Em carta para Anita Malfatti, Mário de Andrade conta que o resultado da exposição fora positivo: “vendeu tudo o felizardo”, escreve o escritor, ao mesmo tempo em que se lamenta por não conseguir comprar nenhuma obra, pois estava sem fundos financeiros para a aquisição, naquele momento: 

ando com saudades de uma Banhista gorduchinha e gostosa que tinha lá e não posso mais ver ela! Paciência” (1927).

[BATISTA, Marta Rossetti. Escritos sobre arte e modernismo brasileiro. São Paulo: Prata Design, 2012, p.122]

 

Porém, anos antes, Mário de Andrade adquiriu a “Cabeça de Cristo”, e que, nas palavras do próprio autor de “Macunaíma”, serviu de inspiração para uma de suas mais famosas publicações: 

Porém, anos antes, Mário de Andrade adquiriu a “Cabeça de Cristo”, e que, nas palavras do próprio autor de “Macunaíma”, serviu de inspiração para uma de suas mais famosas publicações: 

“Foi quando Brecheret me concedeu passar em bronze um gesso dele que eu gostava, uma Cabeça de Cristo, mas com que roupa!... fiz mais conchavos financeiros com o mano, e afinal pude desembrulhar em casa minhaCabeça de Cristo, sensualissimamente feliz. Isso a notícia correu num átimo, e parentada que morava pegado, invadiu a casa para ver. E pra brigar. Berravam, berravam. Aquilo era até pecado mortal!... Onde se viu Cristo de trancinha! Era feio! Era medonho! Maria Luisa, vosso filho é um ‘perdido’ mesmo.

Fiquei alucinado, palavra de honra... Depois subi para o meu quarto, era noitinha... Não sei o que me deu. Fui até a escrivaninha, abri um caderno, escrevi o título em que jamais pensara, Pauliceia desvairada. O estouro chegara afinal, depois de quase um ano de angústias interrogativas... em pouco mais de uma semana estava jogado no papel um canto bárbaro, duas vezes maior talvez que isso que o trabalho de arte deu um livro. (1942)”

[BATISTA, Marta Rossetti. Escritos sobre arte e modernismo brasileiro. São Paulo: Prata Design, 2012, p.120]

 

Em 1927, cria “Diana Caçadora”, adquirida por Olívia Guedes Penteado e doada para o Teatro Municipal de São Paulo.

Expõe “Depois do Banho” e “Fuga Para o Egito”, no Salão dos Independentes, em 1929.

Em 1930, uma nova mostra individual de seus trabalhos é realizada em São Paulo.

Torna-se sócio-fundador da SPAM – Sociedade Pró-Arte Moderna, em 1932, participando, no ano seguinte, da primeira exposição organizada pelo grupo.

Em 1934, além de uma nova exposição individual, agora, no Rio de Janeiro, recebe a Cruz da Legião de Honra, título de Belas-Artes no Grau cavalheiro e uma de suas obras “Grupo”, é adquirida pelo governo francês para o Musée Du Jeu de Pomme.

Entanto isso, em São Paulo, Armando Salles de Oliveira, assume o compromisso de construir o “Monumento às Bandeiras”: 

“Objetivando-se o andamento do processo, foi escolhido o local em que seria instalado o monumento. A região do Ibirapuera se apresentou como um sítio legítimo, pois a região fora propriedade dos bandeirantes: as terras do Virapoeira que se estendiam desde a região da Aldeia de Santo Amaro até as várzeas contíguas a Invernada dos Bombeiros... próximo ao caminho de Santo Amaro, atual área vizinha à confluência da Av. Brigadeiro Luis Antonio com Avenida Brasil.” 

[ESCOBAR, Miriam. Esculturas no Espaço Público em São Paulo. São Paulo: CPA – Consultoria de Projetos e Artes, 1998, p.45]

 

Uma nova exposição individual, em 1935, é organizada em São Paulo.

A partir de 1936, dedica-se ao projeto do Monumento às Bandeiras, que tem sua construção iniciada em 1946 e concluída em 1953. 

“Não há quem desconheça a concepção de Brecheret:  é uma arrancada de bandeirantes para a conquista da Terra Virgem. É um instantâneo da vida de uma Bandeira, apanhado com impressionante felicidade. Tudo ali é força, movimento e ação. Os homens, surpreendidos numa subida, caminham para o alto: é o idealismo paulista em ação. Alguns homens, ajudando com o braço a puxar o batelão, com o outro sustêm companheiros desfalecidos de fadiga ou de febre: é a solidariedade, indispensável para o triunfo. Dois bandeirantes, os chefes, vão na frente a cavalo: é o princípio da autoridade, o mais forte esteio da civilização que o comunismo tenta destruir. As figuras decrescem em tamanho: é a hierarquia, inseparável da disciplina, e um dos mais belos princípios da organização social, porque permite ao que está no ponto mais baixo ascender por si mesmo à posição mais alta. Na frente do grupo a grande figura da mulher que representa a terra virgem, em cuja conquista os bandeirantes partem, mostra que eles sabem o que querem e para onde vão: é o pensamento dominando a ação. Pela avenida Brasil, que dá acesso a todos os grandes caminhos de penetração ao Tietê e às estradas que levam ao Sul, ao Mato Grosso, a Minas e a Goiás saíram como sairão, grandes grupos de bandeirantes, que iniciarão uma nova etapa de sua obra, a serviço da Pátria"(No livro “São Paulo – Artes e Etnias” de Percival Tirapeli e Manoel Nunes da Silva, este trecho é mencionado como de autoria de Menotti Del Picchia, já no artigo “Luzes e Sombras Na Cidade – São Paulo na obra de Mário de Andrade”, de Monica Raisa Schpun, o trecho é descrito como parte da Mensagem do governador Armando de Salles Oliveira apresentada à Assembleia Legislativa de São Paulo a 9 de julho de 1936)

[SCHPUN, Monica Raisa. "Luzes e Sombras Na Cidade – São Paulo na obra de Mário de Andrade". Revista Brasileira de História, vol. 23, nº 46, Dez. 2003, p. 15-16]
[TIRAPELLI, Percial, SILVA, Manoel Nunes da. São Paulo - Artes e Etnias. São Paulo: Unesp, 2007, p.68]

 

Participa, em 1937, 1938 e 1939, do Salão de Maio.

Na década de 1940, durante a administração de Prestes Maia, várias obras são instaladas nos espaços públicos de São Paulo. Em 1942, Brecheret cria a escultura “Fauno” – atualmente no Parque Siqueira Campos, popularmente conhecido como Parque Trianon, na Avenida Paulista (São Paulo). Em 1943, é autorizada a execução do “Monumento a Duque de Caxias”, resultante de um concurso internacional realizado pela cidade – inicialmente, esta obra seria instalada no Largo do Paissandú, ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no entanto, uma década depois (1953), o governo percebe que as dimensões da obra são incompatíveis com o espaço e, no local, é instalada outra escultura: “Mãe Preta”, de Júlio Guerra. Em 1959, é autorizada a construção da obra de Brecheret, na Praça Princesa Isabel, cuja inauguração ocorre em 1960. [Escobar, 1998, p.37-39]

Em 1950, participa da XXV Bienal de Veneza.

Ganha o 1º. Prêmio Nacional de Escultura, na I Bienal de São Paulo, com “O Índio e a Suassuapara”.
Participa da XXVI Bienal de Veneza, do Salão do Museu de Arte Contemporânea da Universidade do Chile e do Salão de Maio (Paris), em 1952.

Em 1953, realiza a fachada e o interior do Jockey Club de São Paulo e, no ano seguinte, o“Monumento às Bandeiras”, finalmente,é inaugurado no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo:

“O monumento foi posicionado de maneira que as figuras escultóricas mantivessem o olhar em direção ao Pico do Jaraguá, no sentido do caminho de entrada dos bandeirantes pelo sertão. A escolha do lugar, coincidentemente, estava de acordo com as diretrizes do Plano de Avenidas de Prestes Maia. O plano contemplava a criação do Parque do Ibirapuera e o prolongamento da Avenida Brasil. O conceito estava definido: o conjunto escultórico seria o marco e o portal do Parque, sua entrada principal.” 

[ESCOBAR, Miriam. Esculturas no Espaço Público em São Paulo. São Paulo: CPA – Consultoria de Projetos e Artes, 1998, p.45]

 

Em 1954, realiza afrescos para a cidade de Osasco, “Três Graças” e “São Francisco”, e para a Capela Pararanga, em Atibaia.

Em 1955, participa da II Bienal de São Paulo, do Artistes Brésiliens (Paris).

Na década de 1950, reside em Osasco e trabalha em várias obras de inspiração “marajoara-indígena”, fase que marca o final de sua vida artística.

Falece no dia 17 de dezembro de 1955.

 

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YAMAGAWA, Mônica. Gráças, escultura de Victor Brecheret - Dicionário do Centro de São Paulo. Moyarte. Disponível em: <http://www.moyarte.com.br/centro-de-sao- paulo/dicionario-do-centro-de-sao-paulo/ indice-dicionario.html>. Acesso em: 25 Jan. 2022. [Em "Acesso em", indicar a data de consulta, data de acesso ao site].

 

 

referência bibliográficas

BATISTA, Marta Rossetti. Escritos sobre arte e modernismo brasileiro. São Paulo: Prata Design, 2012.

ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br>. Acesso em: 26 Set. 2017.

ESCOBAR, Miriam. Esculturas no Espaço Público em São Paulo. São Paulo: CPA – Consultoria de Projetos e Artes, 1998.

ESCULTURA DE BRECHERET ACHADA EM CEMITÉRIO CHEGA À PINACOTECA.  Folha Online: 12 Dez. 2006. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u66909.shtml>. Acesso em: 26 Set. 2017.

IVB – INSTITUTO VICTOR BRECHERET. Disponível em: <http://www.brecheret.com.br>. Acesso em: 26 Set. 2017.

LEITE, José Roberto Teixeira. "Notícias sobre Rodolfo Bernardelli, Ricardo Cipicchia e Victor Brecheret & dos sete bronzes ora incorporados à Pinacoteca do Estado". In: Fundições em bronze. Escultura Brasileira. Jornal do Acervo Permanente. Pinacoteca do Estado: Jun. / Jul. 1998.

PELLEGRINNI, Sandra Brecheret. Em cada canto de São Paulo um encanto de Brecheret. São Paulo: Noovha América, 2004.

SCHPUN, Monica Raisa. Luzes e Sombras Na Cidade – São Paulo na obra de Mário de Andrade. Revista Brasileira de História, vol. 23, nº 46, Dez. 2003.

 

 

 

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