O Pátio do Colégio atual é uma réplica da década de 1970, do original colonial reconstruído com base nas fotografias de Militão Augusto de Azevedo. O projeto de reconstituição do antigo colégio começou em 1976 e a edificação foi inaugurada em 1979.
Fotografias de Militão Augusto de Azevedo, do então Largo do Palácio (atual Pátio do Colégio), em 1862 e 1887.FONTE DAS IMAGENS: Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo
Em suas cartas, José de Anchieta descreveu o primeiro casebre que serviu de residência, escola, igreja e até mesmo "posto de saúde" (os jesuítas além de catequizarem as crianças, ofereciam serviços de tratamento de sáude):
"De janeiro até o presente tempo permanecemos, algumas vezes mais de vinte, em uma pobre casinha feita de barro e paus, coberta de palhas, tendo quatorze passos de comprimento e apenas dez de largura, onde estão ao mesmo tempo a escola, a enfermaria, o dormitório, o refeitório, a cozinha, a despensa: todavia, não invejamos as espaçosas habitações que gozam em outras partes os nossos irmãos, pois N.S. Jesus Cristo se colocou em mais estreitos lugares."
[PONCIANO, Levino. Todos os centros da paulicéia. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007, p.60.]
No local, além de residência e espaço de orações, os jesuítas catequizavam e tratavam da saúde de cerca de 130 crianças, segundo Levino Ponciano (2007). O mesmo autor também conta que os moradores nem sempre podiam pagar pela missa em espécie, uma das contas, por exemplo, fora quitada com sete frangos.
Em 1556, a primeira igreja foi construída o local, sob o comendo do padre Afonso Brás. Não sendo possível construir a edificação em pedras, foram utilizados os materiais disponíveis na região:
"ao conjunto composto pelo Colégio e Seminário foram adicionados oito cubículos para servir de rediência aos padres, além de uma Igreja, construída com a técnica mais aprimorada da taipa de pilão (...) montavam-se formas de madeira com até um metro de largura, que eram recheadas com uma liga de barro, sangue de animal, pedrisco e ervaas encontradas ao redor, socados num pilão. Depois de seco o miolo, as tábua eram retiradas e um trecho da parede grossa estava pronto. A cada metro de altura colocavam uma viga transversal de madeira cilíndrica para dar sustentação. Enrolada numa folha de bananeira, de modo que não grudasse, era dispensada após a secagem e o orifício por ela deixado, a caboda tapada com barro. (...) Para a cobertura, trocaram o sapé pelas telhas do tipo capa e canal, feitas segundo uma técnica árabe que os portugueses aprenderam com os mouros. Os largos beirais dos telhados tinham a função de proteger as paredes externas durantes as frequentes tempestades."
[TORRES, Terciano. São Paulo Pátio do Colégio: uma história ilustrada a bico de pena. São Paulo: Globo, 2004.]
Por causa dos ataques das tribos indígenas contra a instalação dos jesuítas, por volta de 1560, uma muralha foi construída em torno da morada dos jesuítas. Segundo Terciano Torres (2014), não se sabe quando e em que locais essa muralha foi construída, porém, pela leitura das Atas da Câmara, percebe-se que ela era importante para a proteção dos ataques indígenas na época e altas o suficientes para dificultar a entrada no local. Terciano Torres (2014), menciona que há registros de alguns moradores que a quebravam com picaretas para sair do local, ao invés de dar voltas para sair da vila através da abertura, da porteira "oficial". Ainda segundo o autor, até 1590, há menções sobre "remendos" feitos para corrigir falhas feitas pelos estragos humanos ou pelo tempo; porém, ao final do século XVI já não havia mais menções sobre a muralha.
Na década de 1640 a construção jesuíta começava a se deteriorar, Terciano Torres (2004)explica que a maioria dos residentes moravam em sítios e chácaras autosustentáveis, assim sendo, ter moeda de troca, em espécie, era algo raro. A maioria dos negócios, salários e até taxas municipais eram pagas através de escambos, com tecidos de algodão, couro, cera, galinhas, bois. A população era pobre, enquanto os jesuítas viam os índios como almas para serem cristianizadas, os paulistas viam os índios como mão-de-obra barata, algo como um "gado humano". Com a redução dos ataques, a escravização dos índios passou a ser vista como um negócio para o colonizador. Com pontos de vistas diferentes sobre o relacionamento com os índios, jesuítas e paulistas entraram em conflito, que culminou com a expulsão dos religiosos. A construção que já possúia buracos em suas paredes, permitindo a invasão, com a expulsão dos jesuítas caiu em ruínas.
Os jesuítas retornaram a São Paulo mais de uma década depois. Para marcar o retorno, eles instalaram no local os primeiros cursos de filosofia, teologia e artes, além de uma biblioteca e uma capela.
"Ergueram em 1683 uma torre de pedra que abalaria os alicerces da igreja, causando, anos mais tarde, os afundamento da fachada de taipa devido ao excesso de peso."
[TORRES, Terciano. São Paulo Pátio do Colégio: uma história ilustrada a bico de pena. São Paulo: Globo, 2004.]
De acordo com Esteves e Abdalla (2013), a terceira reconstrução do Pátio do Colégio data de 1681, possivelmente a torre acima descrita era parte ou um complemento dessa reconstrução que segundo os autores, ruiu em 1896.
Já no século XVIII, na década de 1740, o colégio foi ampliado, com uma construção perpendicular, na lateral direita (veja a foto de Militão Augusto de Azevedo, nos parágrafos acima) que aproximava o Pátio do Colégio à Igreja do Rosário, quando esta ainda estava localizada no espaço hoje conhecido como Praça Antônio Prado.
O poder exercido pelos jesuítas gerou conflitos para as ambições do governo português; em 1759, o Marquês de Pompal assinou um decreto expulsando os religiosos das terras portuguesas e de suas colônias pelo mundo.
Durante o governo de Morgado de Mateus (capitão-Geral D. Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão), entre 1765 - 1775, o antigo colégio jesuíta passou a servir de Palácio do Governo:
"o velho edifício tinha, do lado direito, uma ala perpendicular ao corpo principal, na qual funcionavam as repartições fiscais da antiga Província de São Paulo e o Correio Geral, (...) o corpo do edifício, do mesmo palácio ocupado pela presidência da província, secretaria e Assembléia Provincial."
[MARTINS, Antonio Egydio. São Paulo Antigo: 1554 – 1910. São Paulo: Paz e Terra, 2003, p.76.]
O Colégio dos Jesuítas ou Largo do Colégio, passou a ser chamado de Largo do Palácio. Além de sede do governo passou a ser o centro das atividades cívicas e artísticas da cidade - em 1770 foi realizada no local a sessão inaugural da Academia dos Felizes.
Em 1817 chegou ao Brasil (Rio de Janeiro) a Missão Austríaca e o grupo percorreu o país por cerca de três anos, registrando em textos e imagens muitos do lugares que visitou. A expedição era composta por 15 cientistas, entre eles Carl Friedrich Von Martius (botânico), Johann Baptist Von Spix (zoólogo), Thomas Ender (artista, ilustrador). Posteriormente, entre 1823 e 1831, foram lançados em Munique "Viagem Pelo Brasil" (3 Volumes) e as imagens do Pátio do Colégio, elaborados por Thomas Ender, foram registradas na publicação.
Em 1881, durante o governo de Florêncio de Abreu, o Palácio do Governo passou por uma grande reforma, perdendo as características estéticas coloniais, ganhando ornamentos neoclássicos, a ala referente ao palácio foi demolida e o corpo da edificação remodelado, mantendo apenas a área da igreja inalterada:
"No sobrado, no lado direito e nos fundos, (...) os cômodos ocupados pelo presidente do Estado, e à esquerda, pelo secretário do Interior, e em baixo, ao rés do chão, funciona a respectiva secretaria e acha-se também, em uma sala, instalada a guarda de pessoa do presidente do Estado."
[MARTINS, Antonio Egydio. São Paulo Antigo: 1554 – 1910. São Paulo: Paz e Terra, 2003, p.76.]
Alterou-se também a área em frente à edificação, com uma praça arborizada conectada com o novo estilo arquitetônico da construção, incluindo uma fonte ornamental.
Com a Proclamação da Repúbllica, o Palácio passou para o domínio do Estado, porém, a Cúria Metropolitana protestou contra a decisão, recorrendo aos tribunais, solicitando a reintegração de posse da edificação. Por causa desse processo, o antigo colégio dos jesuítas permaneceu fechado e sem manutenção, deteriorando-se com os constantes temporais que atingiram São Paulo.
Na noite de 13 para 14 de março de 1896, após uma tempestade com vento forte, a fachada de taipa rachou, a estrutura de madeira desabou, derrubando a parede interna, vários altares e um canto da torre.
"Diante da catástrofe, o Governo nomeou uma comissão formada por Antônio De Toledo Pisa, Teodoro Sampaio, Luiz Gonzaga da Silva Leme e os cônegos Dr. José Valois de Castro e Ezequias Galvão da Fontoura, para recolher com vistas a futuro reaproveitamento, todos os objetos de culto e ornamentações de altares e púlpito que sobraram. O material foi então depositado no Beco denominado do Colégio ou do Pinto, situado na Rua do Carmo, entre o Palácio Episcopal e o prédio da Companhia de Gás. Os restos mortais e as lápides dos paulistas ali enterrados foram transferidos para a Igreja de São Pedro e, posteriormente, para a Igreja do Sagrado Coração de Maria, em 1899."
[TORRES, Terciano. São Paulo Pátio do Colégio: uma história ilustrada a bico de pena. São Paulo: Globo, 2004.]
No espaço antes ocupado pela igreja jesuíta foram erguidas uma nova ala e a torre ganhou uma cúpula neoclássica. A edificação passou a abrigar a reisdência oficial e todas as secretarias do governo. Porém, em 1908 a área destinada para a residência do Presidente do Estado foi demolida.
Em 1925 as grades, o coreto e a fonte foram retiradas da área frontal do Pátio do Colégio, e em 11 de junho do mesmo ano, instalado o monumento criado por Amadeo Zani: "Glória Imortal Aos Fundadores De São Paulo".
Em 1928, sob a direção de Victor Freire e Eugênio Guilhem, a construção do Viaduto Boa Vista alterou a paisagem, facilitando a conexão entre a Praça da Sé e o Largo de São Bento
O local abrigou a sede do governo até 1932, quando este foi transferido para o Palacete dos Campos Elíseos. O Pátio do Colégio passou a se chamar Praça João Pessoa e o ex-Palácio do Governo transformou-se na sede da Secretaria da Educação.
Na década de 1940, a empresa Cardim & Cardim apresentaou uma projeto para a remodelação do Pátio do Colégio. Durante a demolição do prédio em 1953, foi encontrada uma parede de taipa de pilão intacta, sobrevivente da antiga construção do Colégio dos Jesuítas.
Durante as comemorações do IV Centenário de São Paulo, foi anunciado a doação do terreno do Pátio do Colégio para a antiga Companhia de Jesus. Dois anos depois (1956), a Campanha da Gratidão conseguiu arrecadar fundos para a reconstrução do Colégio e do Torreão da Igreja.
Na década de 1970, com a instalação do metrô em São Paulo, a reconstrução do Colégio foi interrompida, porém, o Museu Casa de Anchieta foi instalado na parte já existente. Em 1979, o monumento de Amadeo Zani retornou ao Pátio do Colégio, os postes antigos recuperados nos armazéns da COMGÁS foram implantados no espaço e uma réplica da igreja reconstruída.
Atualmente, o conjunto arquitetônico do Pátio do Colégio engloba o Museu Casa de Anchieta, o Café do Páteo e a Capela do Beato José de Anchieta guarda o fêmur e o manto do jesuíta; no pátio interno,há uma parede preservada com cerca de 500 anos construída com barro e óleo de baleia pelo Padre Afonso Brás (Esteves, Abdalla, 2013, p. 255).
YAMAGAWA, Mônica. Pátio do Colégio, Museu Anchieta - Dicionário do Centro de São Paulo. Moyarte. Disponível em: <http://www.moyarte.com.br/centro-de-sao- paulo/dicionario-do-centro-de-sao-paulo/ indice-dicionario.html>. Acesso em: 25 Jan. 2022. [Em "Acesso em", indicar a data de consulta, data de acesso ao site].
ABDALLA, Antônio Carlos, ESTEVES, Juan. Capital - São Paulo e Seu Patrimônio Arquitetônico. São Paulo: Imesp, 2013.
MARTINS, Antonio Egydio. São Paulo Antigo: 1554 – 1910. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
PONCIANO, Levino. Todos os centros da paulicéia. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007.
TORRES, Terciano. São Paulo Pátio do Colégio: uma história ilustrada a bico de pena. São Paulo: Globo, 2004.
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