O sobrado localizado na Rua Florêncio de Abreu, número 111 é um importante exemplar de residência urbana da alta classe paulistana da segunda metade do século XIX. Foi construída em 1884 por um "capomastro" italiano para o Coronel Teixeira de Carvalho, um próspero comerciante da época. Durante anos, o interior foi conservado, com muitos dos móveis originais, porém, quando sua única filha faleceu, o acervo foi leiloado pelos herdeiros (1977) e os móveis dispersos.
Uma das características que destacava esse sobrado na época em que foi construído, era o fato de ser isolado em uma de sua suas laterais (não encostado na edificação vizinha). A casa contava com duas entradas: uma social, estreita que introduzia o visitante ao alpendre, este por sua vez, percorria a lateral da casa; e um outro portão, mais largo, que era utilizado pelos criados e carros de tração animal (em 2017 esse portão era a entrada para um estacionamento).
"A casa possui um porão semi-enterrado, construído com abobadilhas de tijolos, apoiadas em perfis metálicos, solução costumeira na época, que se valia até de trilhos de estradas de ferro. Segundo D. Daniel Sutner, monge beneditino, nesse porão se alojaram escravos."
[HOMEM, Maria Cecília Naclério. O Palacete paulistano e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira, 1867-1918. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p.111.]
O sobrado foi um dos primeiros casarões construídos com tijolos em São Paulo. A parte assobradada compreendia os dormitórios e, segundo o parecer de Carlos A.C. Lemos, era provavél que as dependências como banheiros, toilette, tenham sido realizadas posteriormente e instaladas sobre a copa localizada no pavimento térreo e
"tornaram-se acessíveis por uma passagem sob o telhado que cobria a sala de jantar."
[HOMEM, Maria Cecília Naclério. O Palacete paulistano e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira, 1867-1918. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p.106.]
Quando o Senador Carlos Teixeira de Carvalho faleceu em 1930, Dona Marieta, sua única filha, herdou o casarão e passou a viver nele. Sem filhos para deixar o casarão e a memória de seu pai como herança, negociou a venda de parte do quintal para o Mosteiro de São Bento e posteriormente, entre as décadas 1960 e 1970, vendeu o casarão, também para os monges, residindo no imóvel até falecer em 1975.
Número de Pavimentos: dois mais porão.
Técnica construtiva: alvenaria de tijolos.[BENS CULTURAIS ARQUITETÔNICOS NO MUNICÍPIO E NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. São Paulo: SNM – Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos, EMPLASA – Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S/A e SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento, 1984.]
No arquivo do Condephaat há informações sobre os móveis e outros objetos de Dona Marieta, que decoravam a residência. Quando faleceu, o acervo foi leiloado e distribuído entre os herdeiros da falecida, que não tinha filhos. Em sua pesquisa, Maria Cecília Naclerio Homem (1996), descreveu parte do conteúdo do dados registrados arquivo do Condephaat:
Em 12 de julho de 1996, o acervo do Mosteiro de São Bento (das cidades de São Paulo e Sorocaba) estava com problemas, em péssimo estado de conservação. Segundo o artigo de Álvaro Machado (Folha de São Paulo), como a comunidade beneditina não possuia recursos próprios para a restauração, foram enviados para empresas privadas, detalhes do projeto de restauração, no valor de R$ 2,5 milhões, com o objetivo de encontrar patrocínios para o mesmo.
O projeto estava sob responsabilidade do Arteoficina SP Assessoria e previa intervenções
"em telas, murais, esculturas, madeiras, vitrais e metais dos conjuntos beneditinos paulistas incluindo, na Capital, a Basílica de São Bento, suas capelas laterais e a Capela do Colégio."
[MACHADO, Álvaro. Acervo beneditino espera patrocínio. Folha de S.Paulo, 12 Jul. 1996. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/7/12/ilustrada/29.html>. Acesso em: 20 Set. 2017.]
O projeto previa seis anos de trabalhos, com uma equipe chefiada por Nilva Calixto e a restauração da casa na Rua Florêncio de Abreu, 111 também estava incluída no projeto. Sobre a finalidade de uso da antiga residência de Dona Marieta, o artigo mencionava:
"Já houve planos da comunidade beneditina de transformar a casa em instituto cultural que, junto a obras, abrigaria terminais de computador para permitir ao público acesso ao catálogo de 80 mil volumes da Biblioteca do Mosteiro."
[MACHADO, Álvaro. Acervo beneditino espera patrocínio. Folha de S.Paulo, 12 Jul. 1996. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/7/12/ilustrada/29.html>. Acesso em: 20 Set. 2017.]
No mesmo artigo, há uma lista que mencionava o que já havia sido realizado e o que estava "planejado" e a casa de Dona Marieta, estava incluída no planejamento:
"Casa nº 111 da rua Florêncio de Abreu (SP) Restauro arquitetônico e recuperação de filetes e ornatos. Deve abrigar parte do acervo artístico do Mosteiro."
[MACHADO, Álvaro. Acervo beneditino espera patrocínio. Folha de S.Paulo, 12 Jul. 1996. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/7/12/ilustrada/29.html>. Acesso em: 20 Set. 2017.]
No artigo, foram publicadas duas possibilidades para o uso do casarão: espaço cultural para acesso do acervo digitalizado e espaço para abrigar o acervo artístico do Mosteiro de São Bento.
O projeto arquitetônico de recuperação da edificação ficou a cargo do arquiteto Affonso Risi e no site da Arquicultura constavam as seguintes informações:
"A obra de restauro foi projetada por Affonso Risi Júnior e previa ser concluída em 2007, transformado o antigo casarão em um centro cultural ligado ao Mosteiro de São Bento. O espaço seria concebido para abrigar concertos, recitais e exposições. Para reformar a senzala, de modo que o local pudesse receber exposições, foi necessário fazer escavações para que a circulação fosse agradável, uma vez que a mesma tinha cerca de um metro e meio de altura. Trata-se da última casa em taipa francesa que ainda existe na cidade de São Paulo."
[RESIDÊNCIA DE MARIETA TEIXEIRA CARVALHO. Arquicultura. Disponível em: <http://www.arquicultura.fau.usp.br/index.php/encontre-o-bem-tombado/uso-original/residencial/residencia-de-marieta-teixeira-de-carvalho>. Acesso em 20 Set. 2017.]
Dois anos depois, em 1998, a Folha de S.Paulo publica uma atualização sobre o andamento da obra:
"As paredes sólidas, de pedra, não permitiram que tudo acabasse, mas há três anos era quase uma ruína (...). Agora, os tetos e os pisos de madeira já estão trocados, as fiações e os encanamentos também foram substituídos, as infiltrações foram dominadas e começa a difícil fase de fixação de esquadrias."
[CASA ABRIGARÁ CENTRO CULTURAL. Folha de S.Paulo - Ilustrada, 9 Jul. 1998. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq09079819.htm>. Acesso em: 28 Jun. 2022.]
A previsão de abertura do espaço cultural era para o ano seguinte (1999):
"Entre as futuras atividades que o Centro Cultural São Bento oferecerá pode estar um ateliê de arquitetura no porão (cujo piso foi rebaixado), sob a direção da arquiteta Roseli Carmona, responsável pela obra e integrante da associação Viva o Centro. Também devem ser realizadas mostras do rico acervo de arte do mosteiro e de antigos paramentos litúrgicos, entre outras peças. Palestras e cursos serão programados."
[CASA ABRIGARÁ CENTRO CULTURAL. Folha de S.Paulo - Ilustrada, 9 Jul. 1998. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq09079819.htm>. Acesso em: 28 Jun. 2022.]
Uma década depois das primeiras notícias sobre a transformação da casa de Dona Marieta em espaço cultural, a edificação ainda estava fechada e as obras de restauração em andamento. Algumas sobre as descobertas durante o processo de restauração foram divulgadas por Nílvia Calixto:
"A pesquisa revelou pinturas em formato de medalhões com estilo da época da colônia sob cinco camadas de tinta. "Encontrei uma obra mais antiga e valiosa sob a pintura de desenho repetitivo pela qual a casa foi tombada", comemora.
A senzala no porão foi reformada para receber exposições. Originalmente com menos de um metro e meio de altura, precisou ter o solo escavado para melhorar a circulação de pessoas.
O segundo piso ainda não foi restaurado, mas suas paredes de taipa francesa já atraem estudantes de arquitetura interessados em conhecer a técnica. 'É a única casa em taipa francesa que restou em São Paulo', explica a restauradora.
Encarregada da execução da obra, a arquiteta Olívia Hiss buscou referências em fotografias antigas para reconstituir as partes faltantes na decoração. Para ela, um dos diferenciais para garantir a qualidade da restauração é a contratação de mão-de-obra qualificada."
[GAZZONI, Marina, RUI, Taniele. Casarão da Florêncio de Abreu vai receber espaço cultural. Folha de S.Paulo - Treinamento Folha - Novo em Folha, 12 Dez. 2007. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/novoemfolha44/ult10068u354275.shtml>. Acesso em: 20 Set. 2017.]
Em 2007, o texto da Folha de S.Paulo relatava as disputas entre o CONDEPHAAT, o Mosteiro de São Bento e os herdeiros da família de Dona Marieta. O Mosteiro pediu o cancelamento do processo de tombamento para que pudesse utilizar o imóvel, a propriedade, livremente, sem as obrigações de restauração e conservação do espaço arquitetônico. Na década de 1970, após a morte de Dona Marieta, o CONDEPHAAT abriu um processo para tombamento da edificação e dos móveis. Em uma dispita inicial, em um primeiro momento o órgão conseguiu cancelar o leilão, porém, em 1977, os herdeiros - 31 pessoas e entidades - recorreram e conseguiram o direito de leiloar os antigos pertences de Dona Marieta.
"Os móveis se foram, mas restaram a senzala no porão, as ferragens antigas e as marcas de carroça nos trilhos do portão como resquícios do século 19.
Marieta manteve a casa intacta após a morte do pai, o senador Carlos Teixeira de Carvalho. Segundo o parecer do professor Carlos Lemos, anexado ao processo de tombamento, até mesmo a garrafa de conhaque pela metade usada pelo senador foi preservada.
Marieta morou até o final da vida na residência da rua Florêncio de Abreu. Morreu solteira aos 92 anos, em 1975. O imóvel pertencia ao mosteiro de São Bento desde 1968, mas o contrato de permuta permitiu que ela ficasse na casa enquanto vivesse."
[DISPUTA JUDICIAL MARCA TOMBAMENTO DA CASA DE MARIETA. Folha de S.Paulo - Treinamento Folha - Novo em Folha, 12 Dez. 2007. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/novoemfolha44/ult10068u354312.shtml>. Acesso em: 20 Set. 2017.]
Em 2008 uma nova nota sobre a casa foi publicada na Folha de S.Paulo, porém, dessa vez, o artigo informava que não havia previsão para abertura do espaço:
"Segundo Carlos Eduardo Uchôa, uma primeira etapa do restauro da casa já descobriu várias pinturas artísticas nas paredes, que foram recuperadas. Ainda não há previsão para a abertura do centro."
[BENEDITINOS FARÃO ESPAÇO EXPOSITIVO. Folha de S.Paulo - Ilustrada, 22 Dez. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2212200920.htm>. Acesso em: 20 Set. 2017.]
Número do Processo: 00535/75
Resolução de Tombamento: Resolução 43 de 03/11/1980
Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: inscrição nº 141, p. 26, 29/05/1981
Resolução SC 43/80, de 3 de novembro de 1980, publicado no DOE 11/11/80.
O Secretário Extraordinário da Cultura, nos termos do artigo 1o do Decreto-Lei 149, de 15 de agosto de 1969,
Resolve:
Artigo 1o – Fica tombado por seu valor artístico e histórico, como documento excepcional de um tipo de habitação paulistana do final do século XIX, representando partido arquitetônico associado às transformações acarretadas pela economia do café o prédio da Rua Florêncio de Abreu, 111, nesta capital, de propriedade do Mosteiro de São Bento.
Artigo 3o - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação.
RESOLUÇÃO Nº 05/CONPRESP/1991
Por decisão unânime dos Conselheiros presentes à reunião realizada aos cinco dias do mês de abril de 1991, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo - CONPRESP, resolve, nos termos e para os fins da Lei no 10.032/85, com as alterações introduzidas pela Lei n o 10.236/86, tombar "ex-officio" os bens abaixo descriminados:
(...)
26) Sobrado à Rua Florêncio de Abreu, 111;
(...)
Esta resolução deverá ser submetida à efetivação da Senhora Secretária, bem como homologada pela Senhora Prefeita, com posterior registro no livro próprio.
YAMAGAWA, Mônica. Sobrado de Marieta de Carvalho - Coronel Teixeira de Carvalho - Dicionário do Centro de São Paulo. Moyarte. Disponível em: <http://www.moyarte.com.br/centro-de-saopaulo/dicionario-do-centro-de-sao-paulo/ indice-dicionario.html>. Acesso em: 25 Jan. 2022. [Em "Acesso em", indicar a data de consulta, data de acesso ao site].
ABDALLA, Antônio Carlos, ESTEVES, Juan. Capital - São Paulo e Seu Patrimônio Arquitetônico. São Paulo: Imesp, 2013.
BENS CULTURAIS ARQUITETÔNICOS NO MUNICÍPIO E NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO. São Paulo: SNM – Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos, EMPLASA – Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S/A e SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento, 1984.
BENEDITINOS FARÃO ESPAÇO EXPOSITIVO. Folha de S.Paulo - Ilustrada, 22 Dez. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2212200920.htm>. Acesso em: 20 Set. 2017.
CASA ABRIGARÁ CENTRO CULTURAL. Folha de S.Paulo - Ilustrada, 9 Jul. 1998. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq09079819.htm>. Acesso em: 28 Jun. 2022.
DISPUTA JUDICIAL MARCA TOMBAMENTO DA CASA DE MARIETA. Folha de S.Paulo - Treinamento Folha - Novo em Folha, 12 Dez. 2007. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/novoemfolha44/ult10068u354312.shtml>. Acesso em: 20 Set. 2017.
GAZZONI, Marina, RUI, Taniele. Casarão da Florêncio de Abreu vai receber espaço cultural. Folha de S.Paulo - Treinamento Folha - Novo em Folha, 12 Dez. 2007. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/novoemfolha44/ult10068u354275.shtml>. Acesso em: 20 Set. 2017.
HOMEM, Maria Cecília Naclério. O Palacete paulistano e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira, 1867-1918. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
MACHADO, Álvaro. Acervo beneditino espera patrocínio. Folha de S.Paulo - Ilustrada, 12 Jul. 1996. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/7/12/ilustrada/29.html>. Acesso em: 20 Set. 2017.
RESIDÊNCIA DE MARIETA TEIXEIRA CARVALHO. Arquicultura. Disponível em: <http://www.arquicultura.fau.usp.br/index.php/encontre-o-bem-tombado/uso-original/residencial/residencia-de-marieta-teixeira-de-carvalho>. Acesso em 20 Set. 2017.
RUA FLORÊNCIO DE ABREU 111. SÃO PAULO - SP 1997/2007. Arquiteto Affonso Risi. Disponível em: <https://www.affonsorisi.com.br/fwProjetos/10.php>. Acesso em: 28 Jun. 2022.
A |
B |
C |
D |
E |
F |
|
G |
H |
I |
J |
K |
L |
M |
N |
O |
P |
Q |
R |
S |
T |
U |
V |
W |
X |
Y |
Z |
Informações sobre a história do Centro de São Paulo organizadas por séculos e divididas por décadas para facilitar a pesquisa.
Informações sobre estabelecimentos comerciais, bancários, educacionais e outros relacionados ao setor terciário, que existiram no Centro de São Paulo, assim como, estabelecimentos históricos que ainda funcionam na região.
Verbetes sobre o Centro de São Paulo: moradores, estabelecimentos comerciais, edificações, entre outros.
Informações sobre os logradouros localizados no Centro de São Paulo, incluindo os que desapareceram com as alterações urbanas realizadas desde a fundação da cidade.
Indicações de livros, artigos, sites, vídeos sobre o Centro de São Paulo.
Informações sobre bens tombados, legislação, tombamento do Iphan, Condephaat e Conpresp. Notícias sobre os bens tombados. Projetos de requalificação urbana e preservação do patrimônio cultural tombado.